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A DIÁSPORA BRASILEIRA

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Em todas as classes, pessoas de bom senso indagam-se até quando o Brasil continuará “de mal” consigo mesmo. Até quando as paixões exacerbadas na política, na religião e no futebol, para ficar só nestas três, vão provocar desentendimentos e brigas entre amigos, colegas, vizinhos, parentes e seus próprios familiares.

O país do futebol, do carnaval, do trio elétrico, da prática do adjutório e da invenção do consórcio, que exteriorizava sem pudor a alegria desabrida, jamais viveu período de tamanha circunspecção, de reprovável individualismo e descabidas divergências coletivas.

A intolerância, que era exceção de caráter em indivíduos eternamente raivosos, perdeu a modéstia. Foi naturalizada e começa a invadir imperceptivelmente corações e mentes pacíficas, agora vulneráveis às atitudes de intransigência e beligerância.

No campo da exposição de ideias e dos princípios que sempre nortearam nosso processo civilizatório, o debate, maneira civilizada de se esclarecer um ponto de vista, expressar uma opinião ou demonstrar um fato, foi interditado. Tornou-se ofensa à “verdade absoluta” do outrem, cujo contraditório é entendido como injúria inominável.

Por vezes, uma discussão um pouco mais acalorada assume ares de luta armada, na qual os contendores, quais galos de briga, são tomados por surtos de irracionalidades sem freios.

Diz-se que a sociedade brasileira está doente. Pode até ser verdadeira esta premissa, mas ela por si só não é suficiente para jogar luz sobre o problema. Faz-se necessário uma análise de nossas condições objetivas atuais e uma profunda reflexão para se entender o surgimento desta “doença” social.

Pelo que se percebe, fundamentalmente não se trata de uma doença. A falta de perspectiva, a insegurança institucionalizada, a luta renhida pela difícil sobrevivência e a iníqua desigualdade social reinante no Brasil de nossos dias, juntas e misturadas, devem ser a causa determinante da mudança de comportamento de nossos patrícios.

Portanto, não se trata especificamente de doença, mas de uma síndrome que engloba diversos fatores prejudiciais a uma convivência social harmoniosa, que, por sua vez, poderá mergulhar a nação brasileira numa inevitável e destruidora diáspora.

Osvaldo Ventura/Advogado/escritor/
Membro da Academia Feirense de Letras

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