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Ator teatral nos anos 60, Luciano Ribeiro descreve movimentação cultural dos jovens na época

Luciano Ribeiro

A movimentação cultural de jovens estudantes feirenses no início dos anos 60, principalmente na área teatral, foi o tema do professor Luciano Ribeiro, no depoimento prestado ao artista Gil Mário Menezes que em 2002 publicou o livro “Cultura e Artes Plásticas” reunindo o mundo artístico-cultural da cidade.

Vale a pena ler de novo o artigo de Luciano Ribeiro, ele que foi um dos mais destacados atores daquele tempo (Adilson Simas):

TEATRO EM FEIRA DE SANTANA

No início da década de 60, um grupo de estudantes de Feira de Santana tinha uma intensa atividade na política estudantil, através dos grêmios e entidades próprias, alguns até em atividades político-partidárias.

Com o golpe de 64, esses estudantes viram-se tolhidos de qualquer ação que significasse a continuidade do que faziam antes de 64.

Os grêmios e entidades estudantis foram extintos, partidos políticos da mesma forma, prisões diversas, tudo isto deixando um vazio naqueles que tinham atuação mais efetiva antes de 1964. Diríamos que uma grande frustação abateu-se sobre esses jovens.

Buscando uma nova forma de atuação, boa parte desses estudantes optou por um trabalho artístico, de certa forma mais aceito pelas autoridades de então.

Sob a liderança desses estudantes, reativa-se a Sociedade Cultural e Artística de Feira de Santana – SCAFS, inicialmente voltada para a arte teatral, embora a mesma permitisse outras atividades artísticas, como, exposição de pinturas, recitais, etc.

Estamos na metade da década de 60, notadamente a partir de 1966, onde o teatro feirense, amador, tem grande penetração e respeitabilidade na comunidade feirense, sobretudo com o trabalho dos jovens estudantes de que falamos.

A esta altura, não apenas estudantes egressos do movimento estudantil, mas, diversas outras pessoas, sobretudo profissionais liberais, também engrossavam as fileiras dos que em Feira faziam arte.

Embora sendo amador, o teatro produzido pela SCAFS era de boa qualidade. Para dirigir nossas peças teatrais, trazíamos sempre diretores de Salvador, muitos deles da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia.

Diversos espetáculos nossos foram apresentados não só em Feira de Santana, como em Salvador e municípios do Estado da Bahia.

Na imagem, peça teatral encenada por Luciano Ribeiro, Antonia Veloso e Naron Vasconcelos

Algumas peças se destacaram, como, “O Boi e o Burro no Caminho de Belém” (infantil), “Pluft, o Fantasminha” (infantil), “Deus lhe Pague”, “Toda Donzela Tem Um Pai Que é Uma Fera”. “Só o Faraó Tem Alma”, “Teatro de Cordel”, etc. movimentando a cultura feirense.

Além dos mais o grupo de pessoas responsável por essas e outras produções artísticas gozava de credibilidade junto à sociedade feirense.

No governo do prefeito João Durval Carneiro, surge o Teatro Margarida Ribeiro.

Até então, as peças eram apresentadas em cinemas locais, pois não se tinha uma sala específica para teatro. A necessidade do Teatro Margarida Ribeiro surge a partir daí, com o Prefeito atendendo a solicitação das pessoas que faziam teatro.

O nome Margarida Ribeiro foi uma homenagem dos que faziam cultura, do próprio Governo Municipal a uma atriz feirense, falecida tragicamente em acidente. Quando de sua morte, Margarida Ribeiro estudava Direção Teatral na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia.

Com o teatro amador, não se ganhava nada. A renda de bilhetes e patrocínios, muitas vezes, não dava para cobrir os custos da produção dos espetáculos.

Os que compunham o grupo de atores e demais componentes do teatro feirense tiveram que buscar formas de sobrevivência. Alguns deram continuidade a esse trabalho, de forma profissional em Salvador, e outros partiram para outras atividades, as mais diversas possíveis.

Em consequência encerra-se o ciclo do teatro produzido pela SCAFS em Feira de Santana, isto, mais ou menos da década de 70.

Apesar das dificuldades e da precariedade existentes naquela época, pode-se dizer que Feira de Santana, a partir do grupo de jovens salientado no início deste depoimento, viveu um período muito importante na história de sua cultura.

Não só o teatro, como também cinema (Associação dos Críticos Cinematográficos – AFCC), Academia de Letras dos Estudantes de Feira de Santana – (ALEFS) e outros davam um tom de grande movimentação cultural.

Adilson Simas

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