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“Aumenta o sonho”, Lula Queiroga

Lula Queiroga lança no Rio‘Aumenta o sonho’, disco influenciado pelos tempos sombrios

“Aumenta o sonho” é o novo disco do pernambucano Lula Queiroga, que será lançado no Rio em apresentação única na quarta-feira, no Teatro Ipanema, às 21h. Antes, participa de uma leitura de letras e poemas com convidados no Gabinete Guilherme Araújo (R. Redentor, 157 – Ipanema), marcada para hoje, às 19h30, com entrada franca.

O CD do cantor, compositor e produtor chega sete anos depois de “Todo dia é o fim do mundo”: “Quando comecei a pensar no disco, ele tinha um alto grau de positividade. Só que os tempos ficaram sombrios, tudo foi ficando estranho, com polarização, brigas… Temas que acabaram dando contornos mais sombrios ao trabalho. A ideia de ‘aumentar o sonho’ agora não é mais tão ambiciosa, passou a ser algo do tipo ‘estou no degrau de baixo, se eu conseguir subir um, já vai ser bom’. Ou então, ‘continue a dormir e sonhar, não se importe’!”, diz Lula que, no entanto, prefere não se posicionar politicamente. “O disco tem, por exemplo, uma faixa chamada ‘#Xôperrengue’, que posso definir como um ponto de umbanda com ‘Fora, Temer’. Prefiro não torcer para ninguém na política brasileira. É um modelo falido”, diz.

Além do tempo para digerir o clima político-social crescentemente pesado, Lula explica que seu trabalho na Luni, produtora audiovisual e musical, ocupa grande parte de suas atividades profissionais, motivos do hiato entre o trabalho anterior e o novo. “Também tenho uma coisa em relação à música. Sabia que, se entrasse nela profissionalmente, precisaria de uma dose de sorte e muito empenho para dar certo. Então, como não queria misturar ela com amargura nem sofrimento, optei por trabalhar em outras frentes, para que, se não desse certo, nunca ficar me lamentando pelo fracasso”, justifica suas outras atividades.

Depois de “Baque solto”, disco de estreia ao lado do conterrâneo e parceiro Lenine’, em 1983, Lula criou a Luni em 1996 e tomou uma decisão: “Só gravaria outro, se tivesse meu próprio estúdio”. O que só aconteceu em 2001, quando lançou “Aboiando a vaca mecânica”. Depois vieram “Azul invisível, vermelho cruel” (2003), “Tem juízo mas não usa” (2008) e “Todo dia é o fim do mundo” (2011).

As faixas de “Aumenta o sonho” são encadeadas, como se seguissem um roteiro, tal qual os discos anteriores. “Não sei trabalhar sem conceito, vou construindo tudo como se fosse um filme, ainda que ninguém perceba isso. Tenho que montar um repertório interligado, mesmo que as pessoas ouçam randomicamente. É assim: começo sem saber nada, depois descubro até pelo no ovo!”, brinca. Essa interligação é percebida, por exemplo, nas sétima e oitava faixas e suas letras densas e impactantes: “Não há nada lá fora” e  Balada do cachorro louco” (parceria dele com Chico Neves e Lenine, gravada pelo último em “O dia em que faremos contato”). “A primeira tem um pouco de Spinoza (filósofo holandês), que gosto muito”, revela Lula sobre versos como “Ela decidiu ser outra história/E agora eu,/Tenho que gastar saudade/Caminhando em ruas estreitas/No lado hostil dessa cidade”.

Afirmando que este é seu melhor trabalho, Lula diz que as guitarras estão mais discretas desta vez, que “é um disco mais sofrido”. Outro detalhe na instrumentação é o cello de Fabiano Menezes, que marca a faixa-título, que abre o trabalho, e “Minha cabeça é o fim”, a última. “’Rio-que-vai-e-volta” é um pop universal misturado com zabumba; ‘Amor roxo’ é uma gíria pernambucana, que se refere aos casais que não se desgrudam, aqueles amores exagerados, que chega a ser perigosos”, cita outras. O repertório do show no Teatro de Ipanema vai incluir sete músicas do “Aumenta o sonho” e algumas dos discos anteriores. “Vou escolher umas mais pesadas, como ‘Roupa no varal’, ‘Eu no futuro’, ‘Cano na cabeça’”, antecipa ele, que não se apresentava no Rio há dois anos.

Parceiro de muitos, como Pedro Luis, Dudu Falcão e Zé Renato, Lula aproveitou a vinda ao Rio para gravar no disco solo de Falcão, do Rappa – com  quem já havia feito a letra de “Auto-reverse”, no disco “Nunca tem fim” – no estúdio Toca do Bandido. “O que me estimula é a criação. Faço letra, mas amo trabalhar com o timbre e a fonética”, diz. O artista terá com duas músicas no próximo disco de Elba Ramalho: “Uma é a inédita ‘Ouro do pó da estrada’, que talvez seja o título do disco, e ‘Girassol da caverna’, que é do ‘Baque solto’. Meu irmão Tostão e meu sobrinho Yuri estão produzindo”, conta.

Falando em parentes, a família Queiroga é uma incrível força musical em Pernambuco. Lula e os seis irmãos são filhos da cantora Mevês Gama e do jornalista e compositor Luiz Queiroga. Isso sem contar os seus, os sobrinhos, a mulher, Daniella, e a cunhada, Karina (casada com o cantor e compositor Silvério Pessoa), que são produtoras na Luni, e até o sobrinho-neto, fotografado para a capa de “Aumenta o sonho”: “Nem todos trabalham profissionalmente, mas todos são músicos”, refere-se aos irmãos que, anualmente, promovem a festa “Queirogada” durante o Carnaval.

JB

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