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CCBB Rio abre exposição sobre a Tropicália em 18 de agosto

'Seja marginal seja herói', de Hélio Oiticica

A exposição ‘Tropicália – Um Disco em Movimento’ será inaugurada na sexta, 18 de agosto, às 9h, no primeiro andar do Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB Rio).

A mostra vai revisitar através de uma abordagem multimídia, todas as faixas do álbum ‘Tropicália ou Panis et circensis’, clássico da música popular brasileira que está prestes a completar 50 anos. Fica em cartaz até 18 de setembro e a entrada é gratuita.

“É com satisfação que o CCBB homenageia um dos mais importantes movimentos culturais da história do país. Cinco décadas atrás, um grupo de artistas ousados e inovadores redefiniu os valores da música brasileira e provocou uma verdadeira revolução estética. Com a realização deste projeto, o CCBB traz para o seu público um evento de qualidade e valoriza o legado de uma geração que ainda hoje influencia a cena artística nacional “, diz Fábio Cunha, gerente geral do CCBB Rio.

A mostra traz um apanhado da história, das ideias e da estética desse período – e uma oportunidade de conhecer, a fundo, o disco manifesto do movimento artístico, realizado com a toda a potência de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes, Tom Zé, Gal Costa, Nara Leão, Torquato Neto, José Carlos Capinan e Rogério Duprat, responsável pelo arranjos e pela regência. A capa emblemática é do artista visual Rubens Gerchman.

Aliás, a partir da capa e das letras de suas faixas, a maioria assinada pelos tropicalistas, a exposição sintetiza um olhar sobre o movimento que foi imortalizado, no disco, trazendo referências da cultura pop, da sonoridade inédita dos Beatles e do modernismo brasileiro e pela irreverência estética dos produtos de massa nacionais.

“O disco, para além do impacto do seu tempo, tornou-se aos poucos referência mundial pelo seu experimentalismo musical, pela sua cultura pop provocadora e pela invenção de um discurso cosmopolita – e radical – sobre o Brasil dos anos 60”, afirmam, em texto, os curadores Fred Coelho, Isabel Seixas e Diogo Rezende, os dois últimos, do estúdio M’Baraká.

Através de obras de arte, filmes, textos e recortes da imprensa, o público fará o percurso das doze composições, já largamente regravadas nesse meio século – ‘Miserere Nobis’, ‘Coração Materno’, ‘Panis et Circesnsis’, ‘Lindonéia’, ‘Parque Industrial’, ‘Geleia Geral’, ‘Baby’, ‘Três Caravelas’, ‘Enquanto seu lobo não vem’, ‘Mamãe Coragem’, ‘Bat Macumba’ e ‘Hino ao Senhor do Bomfim’ -, numa experiência visual, sonora, literária e material do período.

Em algumas salas, haverá diálogos estéticos com as crises políticas e o impacto que a cultura de massas e sua modernidade industrial provocavam em um país de migrantes, de misérias e da ascensão de uma classe média televisiva e consumidora. Em outras salas, as músicas dialogarão com as muitas ideias poéticas que os versos oferecem, produzindo um retrato complexo e transgressor do Brasil no final da década de 1960.

Obras em destaque

Entre as obras reunidas para a exposição, destaque para poemas de Augusto de Campos, um dos primeiros a fala do movimento na época, e para as telas ‘Lindonéia’ e ‘Miss Brasil’ e para a instalação ‘Caixa de Morar’, as três de Rubens Gerchman, e para um exemplar da famosa bandeira ‘Seja Marginal, Seja Herói’, de Hélio Oiticica. A instalação ‘De Dentro pra Fora’, de Artur Barrio, estará próxima da obra ‘Sala de Jantar’, do jovem artista Bruno Miguel.

Telas de Antonio Dias (‘O espetacular contra-ataque da arraia voadora’), Wanda Pimentel (‘Série Envolvimento’), Glauco Rodrigues (‘A conquista da Terra’ e ‘Domingo de Pascoela’) e Claudio Tozzi (‘Multidão’ e ‘Guevara, Vivo ou Morto’) serão expostas nas paredes do CCBB Rio.

‘A maior parte das obras expostas é contemporânea ao lançamento do disco e muitos desses artistas estavam juntos na lendária exposição ‘Nova Objetividade Brasileira’, de 1967. Também fazem parte da exposição o pintor de retratos Mestre Júlio, que prepara uma homenagem visual aos artistas do disco, e o fotógrafo Gustavo Malheiros em ensaio sobre a Bahia.

“Essa exposição fará pensar o Brasil de meio século atrás e mostrar que o tropicalismo, mais do que uma efeméride comemorativa de um passado já distante, ainda apresenta perguntas e respostas contemporâneas. Em momentos de impasses políticos e acalorados debates na sociedade, revisitar este disco e poder ampliar suas ideias em outros suportes permite atualizarmos aquilo que, como a exposição propõe, nunca ficará parado no tempo”, analisam o três curadores.

Para eles, “adentrar de forma inédita a Tropicália sonora é a oportunidade de vislumbrar, em meio ao labirinto, um fio poderoso de revolta, inteligência e fascinação crítica pelo Brasil”.

Jornal Brasil

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