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Gamboavista encerra temporada com apresentações de ‘Mata Teu Pai’

Inspirada no mito de Medéia, a peça ‘Mata Teu Pai’, de Grace Passô, encerra a programação da 6ª edição do Gamboavista nessa semana, no Galpão Gamboa. Com direção de Inez Viana e direção de produção de Claudia Marques, a peça foi escrita especialmente para Debora Lamm e conta a história de Medéia, que entre expatriados e imigrantes,  questiona valores atuais, como o feminismo e o preconceito.

– “Preciso que me escutem!” diz Medéia em sua primeira fala. Fala que diz muito sobre nossos dias, onde imperam o retrocesso e a intolerância. Medéia está em movimento, mas só quer descansar um pouco no meio dos escombros da cidade onde agora está. Encontra mulheres: síria, cubana, paulista, judia, haitiana. Se vê na mesma condição de imigrante, mas sabe que não é dona de sua vida. Algumas tornam-se suas cúmplices, outras suas algozes. Percorre um caminho interior, onde decide que quem tem que morrer é Ele, que a desprezou e tirou seu direito de ser sua mulher. “Que direitos temos nós?” Pergunta Medéia. Para além de um paralelo sobre o mito, Grace Passô recria a sua feiticeira, não só sobre os dias de hoje, mas também sobre a condição da mulher hoje. “Há muitas Medéias com diferentes questionamentos. Mas a todas devemos escutar para que a catarse, através da arte, seja expurgada e então um novo homem, mais justo, possa renascer”, explica Inez Viana.

A encenação se baseia no discurso de Medéia, onde o público tem papel fundamental. Junto com a atriz Debora Lamm, também estarão em cena 14 senhoras, moradoras da região da Gamboa, com mais de 65 anos, que formam um coro, espécie de inconsciente de Medéia.

“Medéia é uma protagonista feminina que desafia o amor romântico. Na tragédia ela ressignifica o sentimento quando na fuga com o ser amado, o que fará dela uma estrangeira, mata o próprio irmão e mais adiante mata seus próprios filhos com Jasão ao se ver traída por ele. A Medéia de ‘Mata Teu Pai’ leva consigo o discurso e angústias do mundo atual. Dar voz a uma personagem milenar será sempre um desafio”, comenta Debora Lamm.

Com uma ambientação simples, da cenógrafa Mina Quental, um campo minado se desenha no espaço, trazendo toda a sorte de lixo eletrônico, como caixas e mais caixas de carregadores de celular, baterias, teclados de computador, monitores, etc… A luz de Nadja Naira e Ana Luzia De Simoni revela formas, rostos, corpos, de forma transversal, criando contradições nas imagens, para que o espectador possa construir junto, se sentindo parte da história. A direção de movimento de Marcia Rubin recria, a partir do coro de senhoras, uma atmosfera onírica como se elas habitassem apenas o sonho de Medea. A equipe de criação conta ainda com figurinos de Sol Azulay, caracterização de Josef Chasilew,  direção musical de Felipe Storino e programação visual de Felipe Braga.

Ficha técnica:

Texto: Grace Passô | Direção: Inez Viana | Performance: Debora Lamm | Participação: As Meninas da Gamboa | Direção de Produção: Claudia Marques | Iluminação: Nadja Naira e Ana Luzia de Simoni | Cenário: Mina Quental | Figurino: Sol Azulay | Caracterização: Josef Chasilew | Direção Musical: Felipe Storino | Direção de Movimento: Marcia Rubin | Programação Visual: Felipe Braga | Foto e Vídeos: Elisa Mendes | Assessoria de Imprensa: Ney Motta | Produção Executiva: Luísa Barros | Assistente de Produção: Junior Dantas | Realização: Eu + Ela | Produção: Fábrica de Eventos | Um projeto da Cia OmondÉ

Jornal do Brasil

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