Família é para amar, proteger, cuidar, educar, dar limites.
Aprendi com a minha querida e amada mãe desde a tenra idade que o amor de mãe é o mais puro, profundo e incondicional. E durante a vida ela me provou isso.
Quando aos 14 anos pedi ajuda a ela sobre minha homossexualidade, falei por ignorância “sou pecador, sou doente, sou fora da norma”, felizmente ela não me matou e nem me queimou.
Ela não me julgou. Ela falou “se você acha que é isso, vamos procurar ajuda”.
Já aos 27 anos, ela de forma categórica falou “filho, se é isso que você quer, se é isso que te faz feliz, vou perder minha aposentadoria e me caso com o David”.
Ela se propôs a fazer isso para que o meu marido David, que é estrangeiro, pudesse permanecer no Brasil comigo.
Na época, para ficar no Brasil, ele teria que casar com uma brasileira, porque ainda não se reconhecia a união estável homoafetiva para fins de concessão de visto permanente.
Hoje eu e David temos três filhos, dois meninos de 16 e 11 anos e uma menina de 13. E por sermos pais, o caso do seu filho nos chocou ainda mais.
Seu filho adolescente Itaberly foi barbaramente esfaqueado e morto no dia 29 de dezembro de 2016, e achado com o corpo carbonizado no dia 7 de janeiro de 2017. Foi um crime bárbaro, desumano, pavoroso, monstruoso e horrendo.
Eu poderia colocar muitos outros adjetivos, mas quem deve julgar é a Justiça. A verdade está nas evidências e provas.
Pelas notícias lidas, a senhora assassinou o próprio filho, com a ajuda de mais três pessoas. Não quero o mesmo para a senhora, embora no momento de forte emoção, pensei… Fiquei deveras abalado.
Chorei e tive momentos de indignação profunda.
Agora, semanas depois, com a notícia de que você teve a prisão preventiva decretada e que foi indiciada por homicídio e ocultação de cadáver, estou conseguindo recuperar minha racionalidade.
A vida de um adolescente de 17 anos foi sacrificada. Vi no Facebook dele um post do dia 23/12 dizendo “Família em primeiro lugar. É o que há”.
Como toda família, pode haver divergências, discussões e até brigas, mas o que aconteceu com o adolescente é inaceitável e injustificável.
No seu Facebook percebo que você é uma mãe religiosa, pois há várias citações da Bíblia, uma que você postou logo depois do assassinato “Porque Eu, o Senhor, teu Deus, te tomo pela tua mão direita e te digo; não temas, que Eu te ajudo. Is. 41:13.” .
No dia do desaparecimento do seu filho, você postou a cantora gospel Aline Barros, cantando “Ressuscita-me.”
E no dia 18 de dezembro, você postou “Meu advogado é o meu Senhor, Ele me defende do acusador. Minha causa entreguei em suas mãos. Posso descansar o meu coração.”
Isso prova, Taty, que você é uma pessoa religiosa, temente a Deus, e que crê na palavra.
Você, como eu, cristãos, sabemos dos mandamentos da lei de Deus, em especial dois deles, “amar ao próximo como a ti mesmo”, e o quinto mandamento que diz “não matarás”. O que aconteceu com você? Perdeu esta página?
O que aconteceu com Itaberly?
O adolescente assassinado já tinha registrado na delegacia queixa de homofobia por parte da família, inclusive com ameaças de morte.
Foi assassinado a facadas, queimado e achado depois de dez dias.
Quanta crueldade.
Quanto desamor.
Quanta desumanidade.
A tua defesa foi de que ele usava drogas.
Será que é isso o tratamento que ele merecia?
Pelo que consta, outros familiares pensam ao contrário e dizem que era um menino trabalhador, dedicado, estudioso e desmentiram o uso de drogas.
Foi um crime chocante e cruel. Todo assassinato é inaceitável, mas quando a mãe é a assassina, torna-se inconcebível.
Espero que você reflita sobre o que praticou, arrependa-se e que os “religiosos” repensem sobre a doutrinação que estão fazendo em relação à comunidade LGBTI.
Esses “religiosos” não mataram seu filho, mas afiaram a faca do seu raciocínio manipulável e fraco ao ponto de levar à morte dele.
Não me interessa nenhuma religião cujos princípios não melhorem a vida humana e a convivência das pessoas.
Que você pague pela lei divina e pela legislação brasileira pelo crime que cometeu.
*Toni Reis é Professor formado em Letras pela Universidade Federal do Paraná (UFPR); especialista em sexualidade, mestre em Filosofia e doutor em Educação. Originalmente publicado em Congresso em Foco.
Repercutir é necessário.
Toni Reis