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Morre Paulinho Camafeu, compositor que abriu portas do mundo negro com a música

Camafeu morreu nesta segunda-feira (29) em decorrência de problemas cardíacos. Ele tinha 73 anos.

Paulinho Camafeu — Foto: Divulgação

Nascido nos anos 80, o Axé Music ganhou o Brasil após sacudir a Bahia. E se o ritmo existe é porque existiu Paulinho Camafeu. O compositor baiano, que morreu nesta segunda-feira (29), é autor da música considerada marco inicial do axé, Fricote, que fez sucesso na voz do outro compositor, Luiz Caldas.
Camafeu escreveu canções com letras que iam do duplo sentido até composições que mostraram ao mundo a força dos tambores dos blocos afro de Salvador fazendo do samba reggae um ritmo universal.

Quem já se aventurou pelos circuitos do carnaval de Salvador certamente já cantou e dançou ao som de uma das músicas de Camafeu. Dez entre dez baianos recomendarão como experiência de vida andar pelo circuito da orla em Salvador, da Barra em direção à Ondina, durante o carnaval, seguindo o trio de Bell Marques gritando a plenos pulmões pela “menina linda do cateretê”, avisando que “andar com fé só na terra do axé” e exaltando a diversidade cultural do Brasil.

Apesar de ser dono de inúmeros sucessos, foi mostrando a força e a potência do povo negro que Camafeu ganhou um dos seus maiores troféus: o reconhecimento por um hino. Ilê Aiyê (Que bloco é esse?) foi gravada por Gilberto Gil, Daniela Mercury, Sandra de Sá, Daúde, O Rappa, Afroreggae, além do próprio Ilê Aiyê.

A música se tornou um cartão de visitas do “Mais Belo dos Belos”, que onde quer que esteja mostrará com orgulho o mundo negro: “Somos crioulo doido, somos bem legal. Temos cabelo duro, somos Black Power. Que bloco é esse? Eu quero saber. É o mundo negro que viemos mostrar pra você”.

Camafeu era filho de músicos e teve uma trajetória sempre ligada à cultura. O músico era de uma geração de baianos que viveu um outro carnaval, das antigas folias das escolas de samba baianas e fez a transição para a folia atual. Um personagem que viveu a história da Bahia e tratou de eternizá-la nas suas composições.

Conviveu com nomes como Capinan e Wally Salomão a Gilberto Gil, Luiz Caldas e toda geração do Axé 80. Nas letras de Camafeu, os blocos de índio de Salvador, como o Apaxés do Tororó, também ganharam espaço e sacudiram, literalmente, multidões.

Em 2019, em entrevista à Rádio Metrópole, Camafeu disse que sua música não iria cansar nunca. A profecia tem tudo para se cumprir, porque o fato é que tal qual seu “melô da Haley”, Camafeu tremeu tudo na terra e deixou seu swing na galera.

Eric Luís Carvalho, g1 BA

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