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Novo secretário de fomento à cultura acusou Rouanet de ‘marxismo cultural’

Novo secretário de fomento à cultura acusou Rouanet de 'marxismo cultural'

A Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura, que formula as diretrizes gerais dos mecanismos de fomento, foi um dos cinco órgãos vinculados à Secretaria de Cultura a ganhar novos dirigentes nesta quarta (27). As mudanças, publicadas no Diário Oficial da União, acontecem semanas depois de o diretor teatral Roberto Alvim assumir a subpasta, hoje subordinada ao Ministério do Turismo.

Solista de ópera, professor e ativista político, Camilo Calandreli substitui o administrador José Paulo Soares Martins, que havia integrado o extinto Ministério da Cultura durante o governo Temer e agora passa para o cargo de secretário especial adjunto.

Fundador do Simpósio Nacional Conservador de Ribeirão Preto (SP), um dos principais eventos de articulação da nova direita, Calandreli é formado em música pela Universidade de São Paulo, a USP, e pós-graduado em Administração Pública Cultural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a UFRG, segundo o Ministério da Cidadania.

Num artigo para o portal MCI, ele afirmou que a Lei Rouanet, que estará sob a sua tutela a partir de agora, “passou a ser utilizada como mecanismo de ideologização política”, apropriada pelo “marxismo cultural” durante o governo PT, e acabou contrariando seu objetivo inicial de financiar projetos de pequenos e médios produtores.

Num perfil de Calandreli enviado pelo Ministério da Cidadania à reportagem, o cantor lírico afirma que “é preciso descentralizar o acesso aos bens culturais”.

Calandreli também integra o Grupo Brasil Limpo, que se opõe à corrupção e ao comunismo, segundo afirmou numa entrevista a um jornal local de Ribeirão Preto, o Tribuna, há dois meses, intitulada “O Defensor do Conservadorismo”.

Na mesma ocasião, ele contou não ser radical, e sim ter posições firmes sobre determinados valores. “Ser cristão, con­servador, contra aborto, a favor da vida, contra doutrinação ide­ológica nas escolas, menino ser menino e menina ser menina não é ser radical”, disse. “Ou você é ou não é!”

O perfil pessoal de Calandreli no Facebook mostra um bolsonarista convicto, que cita Olavo de Carvalho e ao presidente americano, Donald Trump com frequência. Ele também costuma compartilhar memes que exaltam as ações do presidente com uma espécie de assinatura embaixo: uma foto sua com as mãos cruzadas e o slogan “Deus por todos e todos por Ribeirão”.

Um desses memes, compartilhado também no Instagram, exibe três leões e a frase “Bolsonaro, você não está só”, em referência a um vídeo que o presidente compartilhou nas redes sociais em que ele é comparado a um leão e seus adversários políticos (o STF entre eles), a hienas.

Vídeos no YouTube também apresentam Calandreli como um crítico contumaz dos rumos da educação no país.

Numa entrevista reproduzida no seu canal na rede social, por exemplo, ele rememora uma questão do Ensino Nacional de Ensino Médio, o ENEM, do ano passado, que versava sobre um dialeto usado entre gays e travestis. “Nenhum país no mundo que preza pela educação de qualidade leva isso na mesma dimensão que geometria ou química”, diz.

Além de Calandreli, outros quatro secretários foram nomeados no Diário Oficial, responsáveis pelo audiovisual (Katiane de Fátima Gouvêa), pela promoção da diversidade sexual (Janicia Ribeiro Silva), pela economia criativa (Reynaldo Campanatti Pereira) e pela Fundação Palmares, que promove a cultura da matriz africana (Sérgio Nascimento de Camargo). O último tem sido criticado por afirmações de que o Dia da Consciência Negra é “uma vergonha e precisa ser combatido” e que cotas raciais “são mais do que um absurdo”

(Clara Balbi/FolhaPress)

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