“Tô nessa missão contra a depressão”, avisa Rael, na velocidade das rimas de Sempre, uma das oito músicas que compõem o repertório autoral de Capim-cidreira, o quarto álbum solo de estúdio deste rapper nascido há 36 anos na cidade de São Paulo (SP) com o nome de Israel Feliciano.
Neste quarto disco (ou quinto, já que o artista lançou em 2014 um EP, Diversoficando, com status de álbum), Rael continua seguindo as batidas do coração e, após vencer a depressão, aposta em repertório pautado pelo que caracteriza de “boas vibrações”.
De fato, músicas como Greenga e Especial exalam alto astral sem resvalar na autoajuda da já mencionada música Sempre.
A bem da verdade, Rael já vem de um álbum mais pop e suave, Coisas do meu imaginário (2016), disco que livrou o rapper do perigo de soar como clone de Criolo por ter começado com discos produzidos por Daniel Ganjaman, arquiteto do som do colega.
A questão é que, em Capim-cidreira, Rael investe radicalmente na leveza pop, tirando o peso do próprio rap em disco que inclui balada, Só o cheiro, gravada pelo artista com o trio Melim.
Sim, em que pesem as boas intenções e vibrações, o rap do artista perde peso neste álbum produzido pelo próprio Rael e antecedido pelos singles Flor de aruanda (mix pop de reggae e rap) e Bença mãe (faixa construída com toques de ijexá e afrobeat).
A mais inspirada das oito composições inéditas do disco, Flor de aruanda também desabrocha com acento de soul e R&B em sedutor remix alocado no fim do disco.
Em sintonia com as intenções do artista, o álbum Capim-cidreira acalma o som de Rael, com boa dose de romantismo e serenidade pop em meio a citações de orixás nas letras de várias músicas.
Beijo B espouca no álbum com a presença de Thiaguinho e com afrobeat formatado por Rael com a colaboração do artista africano 2B. Já Vendaval arrasta Capim-cidreira para o universo do reggae boombap.
No mercado desde quinta-feira, 12 de setembro, o álbum Capim-cidreira jamais soa como ruptura na discografia de Rael, mas, ao mesmo tempo em que evita a adesão ao trap, tendência no universo do hip hop, o disco tampouco consegue se distanciar (muito) do pop quase trivial do mercadão.
De todo modo, Capim-cidreira causa o efeito pretendido, cumprindo a missão de livrar Rael da depressão com as almejadas boas vibrações.
Mauro Ferreira