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‘Sol negro’ que irradia lirismo afro

Virgínia Rodrigues

  Virgínia Rodrigues é uma das maiores cantoras do Brasil. Boa parte do mundo, sobretudo o europeu, sabe disso e louva a artista baiana pela voz carregada de ancestralidade e espiritualidade. No Brasil, Virgínia nem sempre obteve a projeção que merece há 21 anos, desde que iniciou carreira fonográfica com a edição do primeiro álbum, apropriadamente intitulado Sol negro (1997).

Dona de voz lírica lapidada nos coros de igrejas de Salvador (BA), cidade onde a cantora nasceu em março de 1964, Virgínia Rodrigues tem mesmo um canto celestial. O fogo sagrado desse canto foi reacendido no quinto e por ora último álbum de estúdio da intérprete, Mama Kalunga (2015), lançado já há três anos.

Com presença que deveria ser mais intensa em palcos nacionais, Virgínia celebra e resume as duas primeiras décadas de carreira fonográfica em show programado para a próxima sexta-feira, 25 de maio, no teatro do Sesc Vila Mariana, na cidade de São Paulo (SP).

Com o toque dos músicos Bernardo Bosisio (violão), Iura Ranevsky (violoncelo), Leo Mendes (violão), Marco Lobo (percussão) e Sebastian Notini (percussão), a cantora dará voz a músicas como Mimar você (Alain Tavares e Gilson Babilônia, 1995), joia do repertório do segundo álbum da artista, Nós (2000), pautado por ritmos da música afro-baiana, sobretudo o samba-reggae. Universo musical, aliás, com o qual a cantora se afina pela voz que evoca matrizes africanas com o rigor das divas do canto lírico.

Não por acaso, o terceiro álbum de Virgínia Rodrigues, Mares profundos (2003), foi editado com o selo da gravadora alemã Deutsche Grammophon, voltada para a música clássica. Mares profundos foi mergulho da cantora nos afro-sambas compostos por Baden Powell (1937 – 2000) com Vinicius de Moraes (1913 – 1980) na década de 1960.

Contudo, o canto da intérprete extrapola o território matricial da África. Recomeço (2008), quarto álbum de Virgínia, ambientou a voz da cantora em clima de câmara com repertório formado por músicas de compositores como Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994), Chico Buarque, Guinga e Sueli Costa, entre outros.

Ex-manicure que cantava somente na igreja até pisar o palco como integrante do Bando de Teatro Olodum, onde foi vista e descoberta por Caetano Veloso na década de 1990, Virginia Rodrigues é sol negro que transcende gêneros e mundos, elevando o canto popular ao mais nobre patamar da arte.

 

Mauro Ferreira

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