Uma plataforma digital criada por jovens de São Carlos (SP) monitora a atividade legislativa em todo Brasil e em mais quatro países da América do Sul. Batizada de SigaLei, a ferramenta acompanha e organiza informações sobre todos os projetos de lei que estão em tramitação. O objetivo é auxiliar empresas e entidades que podem ser afetadas por essas leis.
Embora não seja uma ferramenta para monitorar políticos, a plataforma também faz uma busca de todas as proposições, votos e discursos de parlamentares, oferecendo um perfil das suas atuações e o alinhamento de suas votações com o partido e o governo.
Relações governamentais
O sistema monitora o Senado brasileiro, as Câmaras de Deputados do Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai, e as Assembleias Legislativas de 13 estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Amazonas. A expectativa é de ampliar a cobertura para todos os estados.
Com todas essas informações, o objetivo do SigaLei é auxiliar empresas, associações de classe, organizações não governamentais (ONGs) e entidades a realizar o trabalho de relações governamentais – o famoso “lobby” –, fornecendo de forma organizada dados que lhes interesse e ajudem a tomar atitudes que possam reverter ou incentivar propostas de lei que afetem seus setores.
“Como a quantidade de informação é muito grande e algumas empresas e associações precisam acompanhar Câmara, Senado, assembleias, esse monitoramento consome o trabalho do time de relações governamentais. O SigaLei permite que empresas que já tem esses profissionais consigam liberá-los para fazer outras coisas e empresas menores que ainda não têm monitoramento legislativo, consiga com um custo reduzido criar um departamento de relações governamentais e passar a defender os seus interesses”, afirmou Ivan Ervolino, doutor em Ciência Política e CSO (Chief Security Officer) da startup criadora da plataforma, que também chama SigaLei.
A ferramenta também pode ser utilizada por escritórios de advocacia para antecipar informações de possíveis mudanças nas leis.
Robôs leitores
O monitoramento é feito por robôs automatizados que leem a base de dados das assembleias a cada 30 minutos e, por meio de palavras-chaves inseridas pelos usuários, disponibiliza informações atualizadas periodicamente sobre o trâmite de leis, a proposição de novas leis, comissões, discursos e tendências de votação a respeito do assunto.
Além disso, emite avisos quando elas entram em votação. Para organizar e interpretar todo essa quantidade de informação, o programa utiliza inteligência artificial.
“A automatização do processo de busca, acompanhamento e pesquisa permite que o profissional de relações governamentais foque na estratégica. A partir do que o sistema detectar, é possível se munir de informação para entrar em contato com o parlamentar. Cada vez mais os profissionais de relações governamentais focam na argumentação técnica, econômica e política”, analisou Ervolino.
Política no bolso
A plataforma web surgiu inicialmente como um aplicativo que tinha o objetivo de fornecer a todos os cidadãos informações sobre a vida parlamentar brasileira.
“O Danilo Oliveira [presidente e fundador da empresa] dizia que as pessoas não se interessavam por política porque não estava nos bolsos delas. Aí criou um aplicativo que trazia a política para o celular. Teve um boom de dowlonds, mas teve também um boom de desinstalação. Ele percebeu então que tinha uma porcentagem de clientes fieis e ele foi investigar quem era e encontrou os profissionais de relações governamentais. Daí surgiu a ideia fazer uma ferramenta para atender esse público”, contou Ervolino.
“A gente quer continuar muito aqui. São Carlos tem um ecossistema de startup, de empresas de tecnologia e a gente quer mesmo ficar na cidade”, declara Ervolino.
Área em ascensão
A área de relações governamentais tem ganhado espaço dentro de empresas e associações, na visão de Ervolino. “As instituições estão entendendo que tudo é politica, em algum momento o setor pode ser impactado de alguma maneira e o argumento técnico tem ganhado força, já que temos visto que malas de dinheiro e relacionamento pessoal não são mais alternativas”, disse.
Segundo o cientista político, a tendência é de a área ficar cada vez mais profissionalizada e organizada, o que irá levar os políticos a ter que desenvolver uma nova forma de diálogo.
“Existe um movimento, há alguns anos, de melhoria de processos dentro da área de relações governamentais, tanto na discussão da regulamentação da profissão, como desenvolvimento de ferramentas e adoção de processos formais. Melhorando esses processos a classe política vai ter outro tipo de interlocutor. Quem entrar em 2018 vai encontrar profissionais que dominam melhor os processos de relações governamentais e deixam de lado a questão pessoal”, afirmou.
Fabiana Assis