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A falta de política cobra seu preço na imagem do Governo Dilma

Anunciam os jornais que o governo acertou um acordo para eliminar o corte do abono salarial para quem tenha menos de 90 dias trabalhados por ano, aceitar o marco dos 65/95 para o fator previdenciário e que, ainda, vai aumentar a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido dos Bancos, como se apontou indispensável, ontem cedo, aqui.

 

É um momento para refletir que, embora sejam compreensíveis as dificuldades fiscais do Governo e, sobretudo, o clima de chantagem e insanidade que se apossou do Legislativo, há um erro essencial que se reflete sobre a imagem do Governo Dilma, que vai além do fato de não ter feito, com moderação, aquilo que agora se torna duríssimo.

 

É o de não ter sinalizado à sociedade que haveria “proporcionalidade” social no ajuste.

 

Tanto que se inaugurou a temporada com as restrições trabalhistas e previdenciárias – muitas delas até justas, porque há um caminhão de fraudes no seguro-desemprego, com demissões combinadas, recebimentos “por fora” e admissão sem vínculo, sobretudo em pequenas empresas, menos sujeitas (o que é lógico) a controles e fiscalizações trabalhistas.

 

Pergunte a algum comerciante aí de sua vizinhança quantas vezes o próprio trabalhador quis postergar a assinatura de carteira para “não perder o seguro”e você verá como isso é sério.

 

A leitura, tanto por erro de forma quanto por falta de discurso, não foi essa.

 

Entre outras razões porque só agora, só cinco meses depois, é que se anuncia que os bancos serão taxados mais fortemente sobre seus lucros estratosféricos.

 

Lembro da história que me contava Brizola sobre sua visita, ainda apenas um integrante da “Ala Moça” do PTB, com um grupo de outros jovens a Oswaldo Aranha, Ministro da Fazenda.

 

De uma sacada, Aranha percorreu, com um gesto de mão, os amplos salões do Ministério – quem conhece o prédio antigo, no Rio, sabe do que falo – e disse sobre a multidão de guarda-livros e outros amanuenses daqueles tempos onde não havia computadores:

 

– Estas são as mulas do Ministério.

 

-Mulas?

 

– Sim, sem ofensas, porque trabalham muito, muitomesmo, com um esforço admirável. Mas são inférteis.

 

Política é emitir sinais à sociedade e travar a polêmica a partir deles.

 

Quando se emite sinais apenas de arrocho aos menores e afagos aos maiores, como se fez com os juros, contraria-se a sábia frase do Capitão Rodrigo Cambará, personagem de O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo:

 

– Buenas, e me espalho. nos pequenos dou de prancha (o lado do facão) e nos grandes dou de talho.

 

É preciso entender de que, dos privilegiados, um governo popular, salvo exceções de homens de empresa com visão estratégica, jamais terá amor, ao máximo momentos de certa simpatia.

 

Amor, mesmo, deste que não se pode perder sem perder o sentido da vida, só o do povão que, afinal, o elegeu.

Fonte: Fernando Brito

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