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A Liberdade de pensar e o grant genius

Lua cheia na noite paulistana — Foto: Reprodução/TV Globo

A noite era de lua cheia e meu neto, Dante, ficou extasiado quando lhe mostrei a bola de prata iluminada no céu ao lado de uma nuvem que recebia a luz brilhante.

Ele viu o reflexo na água turva do canal e apontou maravilhado.

Ficou alguns segundos parado e me deu um abraço sem falar nada.

O universo acima de nossas cabeças, a luz dos astros no escuro infinito, sempre maravilharam os humanos.

A lua inspira poetas e namorados há séculos e poderíamos enumerar uma quantidade gigante de referências literárias.

Sempre que olhamos nossa lua temos um sentimento forte, como o do pequeno Dante ao ver a luz tão clara no céu escuro da janela onde estávamos.

Mas não é do sentimento produzido em nosso espírito por este astro inconstante que quero falar e sim da cientista Sarah Stewart que ganhou a prestigiosa bolsa de estudos da Fundação MacArthur apelidada de “genius grant” no dia dez de novembro último, por ter descoberto uma nova história da origem da lua.

A pesquisa realizada no laboratório Davis Planetary da Universidade da California produziu um novo paradigma sobre o conhecimento dos planetas e suas luas.

O novo paradigma, que não me aventurarei a descrever, substituiu as hipóteses do cientista russo Viktor Safronov que perduraram por cinquenta anos.

Graças às pedras trazidas pela nave da Missão Apollo, que também completará em 2019 cinquenta anos, foi possível escrever essa nova história do nascimento da lua.

A bolsa de estudos concedida pela Fundação MacArthur é uma doação de 625.000 dólares, e o mais surpreendente é que nada pedem em troca: Sarah tem oportunidade de realizar livremente o que quiser.

Durante a World Space Week, evento que reúne cientistas do mundo todo e cujo tema este ano foi “ Space Unites de World” (O espaço une o mundo), Sarah resumiu sua palestra na entrevista à revista Nautilus de novembro de 2018: “A exploração do universo e a descoberta de coisas que são surpreendentes e novas é um caminho para unir todo o mundo e desfrutar a profunda beleza da natureza.

E eu gostaria que nós passássemos mais tempo falando sobre coisas que nos aproximam”.

A revista perguntou como havia chegado à sua escolha profissional. Segundo a ganhadora do “genius grant” 2018, quando era adolescente gostava muito de ler ficção científica e, é claro, teve excelentes professores de matemática e física no ensino médio o que a fez seguir a carreira de física na graduação.

Perguntada sobre o que sentiu ao receber a notícia de que havia sido contemplada com a esta prestigiosa bolsa, respondeu que ficara emudecida, e saber que nada lhe seria cobrado, a não ser fazer algo, disse ter achado além de é um tanto incomum, apavorante. Finalmente declarou que sua maior gratificação foi ter o reconhecimento de seus pares.

A fundação conversa com cerca de doze cientistas da mesma área de conhecimento e foram eles que a indicaram por concordarem que ela era merecedora por ter contribuído para uma mudança tão importante na astronomia.

E por que falar dessa bolsa tão incomum, embora existam outras fundações que também fazem doações?

Primeiro, porque em um mundo dilacerado como o nosso, como é bom saber que há quem acredite que a liberdade de produzir e fazer ciência é fundamental para que novas descobertas surpreendentes possam ocorrer.

Segundo, porque ao ler a entrevista de Sarah Stewart voltei-me para o pequeno universo acadêmico e escolar brasileiro que em vez de apostar na liberdade de criar e produzir dando oportunidades para as pessoas, ao contrário, cerceia a liberdade e aposta no que separa.

Yvonne Maggie

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