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Camboja: Fortes emoções em Phnom Penh

A capital do Camboja, Phnom Penh, é um bom exemplo da nossa teoria de que quanto mais sofrido o povo, mais alegre.

O país e a cidade enfrentaram, entre os anos de 1975 a 1979, uma história de violência e terror empregados pelo regime do Khmer Vermelho.

O seu líder Pol Pot, sustentado por um falso apelo comunista de igualdade, exterminaram, segundo dados locais, cerca de 3 milhões de pessoas (professores, advogados, médicos ou qualquer um que detinha algum tipo de conhecimento a mais ou que representasse uma ameaça) em uma população de 8 milhões em mais de 300 campos de extermínio.

O Khmer Vermelho evacuou as cidades, criou uma economia baseada na produção agrária em massa onde os presos trabalhavam como escravos viviam em condição de miséria, subiam nos caminhões pensando ir para casa e chegavam aos campos de extermínio.

Mesmo nesse cenário devastador, a cidade se reergueu, o povo voltou a sorrir, são simpáticos e acolhedores, mesmo com muita pobreza. A cidade tem trânsito caótico, mas é muito atraente e possui diversos locais para se visitar. Conhecer a história do país em Phnom Penh, comove, emociona e vale a pena.

Eu, Seba, Ju, Selim e Sophia, nossos novos amigos que nos acompanharam pelo Camboja, saímos de Siem Reap e de ônibus para uma viagem que pretendia durar 6 horas, mas que como sabíamos não poder confiar nessas estimativas pela precariedade das estradas, durou mais de 8 horas com direito a ônibus parada por um acidente na pista. Eu, para ajudar, estava pela segunda vez no mês gripada, com febre e dor no corpo, ou seja, foi um inferno. Chegando na “agência” da qual o ônibus pertencia, negociamos um tuk tuk para 5 com as mochilas por 5 dólares até o hostel que pretendíamos ficar. Estava lotado e então o motorista nos levou para outra rua onde estavam alguns bons hosteis, ou melhor, “Guest Houses”, com quartos simples e preço modesto de 4 USD por pessoa (a cerveja custava 0,50 centavos de dólar).

Nosso tempo ali era curto e passamos duas noites na cidade. A primeira eu perdi, sem condição de sair da cama. No dia seguinte, me sentindo melhor, começamos o dia que prometia ser pesado indo conhecer o Choeung Ek, conhecido como Killing Fields onde cerca de 20 mil pessoas entre homens, mulheres e crianças foram executadas e enterradas em valas comuns pelo Khmer Vermelho. Durante a caminhada pelo campo um silêncio comovente, pesado e muito triste contrastava com uma certa sensação de paz, o que não impede do estômago ir embrulhando a medida que o áudio guia vai narrando o que acontecia em cada canto daquele, hoje, jardim bonito e bem cuidado. Ao olhar para baixo ainda é possível ver os pedaços de ossos que emergem do chão a medida que chove e a terra se move. Ao final, uma estupa, espécie de memorial, expõe mais de 900 crânios das vítimas do genocídio.

Saímos de lá e o mesmo silêncio que nos acompanhou durante a visita ao campo de extermínio permaneceu pelas próximas horas. O clima entre nós era de reflexão, angústia, comoção e tristeza. Só nos restou calar e pensar. Pesado. De lá, fomos almoçar e dar uma aliviada na tensão num dos mercados da cidade vendo artesanatos e futilidades para ver se amenizava.

Mesmo depois de tudo que havíamos visto e ouvido pela manhã ainda restava mais um pouco de coragem para visitar o Museu do Genocídio Tuol Sleng, conhecido também como S-21. O local era antes uma escola e foi o principal centro de detenção e tortura do Khmer. Em um dos prédios é possível entrar nas salas de tortura e ver as camas de metal, grades e objetos utilizados na época não muito distante. Em outro bloco, as celas, 0,8 x2 m de madeira permanecem em pé. Em outro prédio, fotos das vítimas de Pol Pot tomam conta das paredes. Outro ambiente devastador. No pátio hoje alguns sobreviventes fixaram suas cadeiras e vendem livros contando suas histórias de vida. Eu quase não consegui ver todo o museu.

Depois de tanta tragédia, sem força para muita coisa mais, fomos amenizar a tristeza e recuperar as energias no Templo Wat Phnom Penh, construído no alto da colina no século 14, o mais famoso templo budista da cidade. Lá recuperamos a cor do rosto. Parece que a circulação voltou ao normal.

Não conseguimos visitar o Museu Nacional por falta de tempo e nem o Palácio Real, pois o Rei havia falecido há poucos dias e estava fechado. O mercado central também é muito recomendado. Pra nós aquele dia foi suficiente. Doloroso mas enriquecedor.  

Fonte: Paulo Briguet

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