É difícil de acreditar, mas o todo-poderoso Roberto Marinho (1904-2003), trinta anos atrás, foi esnobado por um pescador que não quis lhe entregar alguns peixes sem receber o pagamento na hora.
O então presidente das Organizações Globo tinha como hobby a pesca submarina e, além de praticar, apoiava e patrocinava eventos do gênero. Nos anos 1980, era um dos homens mais ricos e poderosos do país, mas o humilde pescador, sem televisor em casa, não sabia o que era Rede Globo.
Quem conta essa história é o jornalista Carlos Tavares, 92 anos, amigo pessoal e companheiro de pesca submarina de Marinho. Tavares foi colunista do jornal O Globo. Antes, trabalhou na TV Tupi. Conheceu Marinho antes da Globo, em 1965.
Tavares conta que foi bicampeão brasileiro de pesca submarina, em 1958 e 1959. Em 1960, Roberto Marinho começou a patrocinar o evento nacional e apoiou a realização de um campeonato internacional da modalidade.
Com a grande repercussão em torno do evento, Marinho se interessou pela pesca submarina e passou a mergulhar junto com Tavares.
A partir daí, foram mais de 20 anos de aventuras nos litorais de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Bahia (Abrolhos), sempre a bordo do iate Tamarind, de Marinho.
O fato mais inusitado ocorreu na década de 1980, quando eles saíram para mergulhar em Paraty (RJ). “Estávamos no Tamarind junto com o comandante quando ocorreu uma forte tempestade, que deixou as águas sujas, impróprias e perigosas para o mergulho”, explica o jornalista.
“Mas o Roberto estava com visitas e queria levar alguns peixes para casa. Só que, com o mar sujo, era impossível”, completa.
Marinho, então, pediu 50 cruzeiros emprestados para Tavares, mas ele também não havia levado nada. “Afinal, quem vai levar dinheiro na roupa de mergulho?”, lembra.
A única opção era tentar comprar fiado. Seria fácil para Roberto Marinho, certo? Ledo engano. Ele pediu para o pescador lhe dar os peixes e ir buscar o dinheiro em sua casa na segunda-feira. “Propôs pagar não apenas 50, mas 200 cruzeiros ao pescado”.
Mas o pescador disse que não entregaria os peixes sem o dinheiro. “Vendo que não conseguia convencer o pescador, ele resolveu dizer quem era: ‘Eu sou Roberto Marinho, dono da Rede Globo’, pensando que, dessa forma, o homem lhe entregaria os peixes.
Mas qual foi a surpresa ao ouvir a resposta do pescador? ‘Não conheço essa Rede Globo’, ele falou. Moral da história: Roberto Marinho foi para casa sem nenhum peixe e, sempre espirituoso, achou muito engraçado o pescador nunca ter ouvido falar da emissora”, conta Tavares.
THELL DE CASTRO