Vítima foi estuprada por 70 homens quando estava inconsciente por conta de medicamentos dados a ela por seu marido. Filha do réu admite que o pai é “um dos maiores criminosos sexuais da história”, enquanto a nora revelou preocupação com o que o homem pode ter feito com os netos. Além do marido da vítima, todos os outros réus são homens com idades entre 21 e 68 anos e têm profissões como bombeiro, enfermeiro, policial, eletricista e empresário
O julgamento do francês Dominique Pélicot, que usou ansiolíticos para drogar a esposa, Gisèle, por 10 anos para que mais de 70 estranhos a estuprassem, segue revelando novas informações.
Na segunda-feira (9), especialistas começaram a traçar o perfil do homem, que foi considerado “duas caras”, um “manipulador perverso” e consumido por “fantasias obsessivas”.
O psiquiatra Paul Bensussan acrescentou que Dominique também poderia aparentar ser um “marido, pai e avô honrado, e um amigo querido”, mas, simultaneamente, “mente muito”.
“Sua personalidade tem duas caras: por um lado, é um patriarca em quem as pessoas próximas podem confiar e, por outro, ele usa mentiras e sigilo”, declarou a psicóloga Marianne Douteau, acrescentando que as características são semelhantes às do pai de Dominique, a quem ele odiava.
“A sexualidade do senhor Pelicot parece calcada em sua personalidade: comum em público, mas para sua parceira ele tem uma sexualidade tenaz”, explicou.
Segundo ela, a esposa de Dominique rejeitou categoricamente uma proposta de troca de casais, e o homem compensou a negativa “utilizando sites de chat pornográficos”.
“De dia, pode ser coerente, e à noite, parecer diferente”, declarou o psicólogo Bruno Daunizeau sobre a personalidade do acusado. Ele explicou que o homem mantinha relações com a esposa “dentro da normalidade”, mas, gostava de voyeurismo e exibicionismo.
“O voyeurismo faz parte da sua dinâmica psicossexual”, confirmou a psicóloga Annabelle Montagne, ressaltando que Dominique utilizava a prática para ressaltar seu “egocentrismo e sua propensão a considerar os outros como objetos manipuláveis”.
A especialista ainda apontou um detalhe crucial nos crimes cometidos pelo homem contra sua esposa: “O fato de a pessoa ser totalmente passiva pode apontar para fantasias de necrofilia”.
O grupo de profissionais, no entanto, divergiu sobre as causas por trás do comportamento de Dominique.
Para Montagne, “a aposentadoria e a mudança do casal [para Mazan] podem ter enfraquecido as barreiras defensivas de sua psique”. Já Bensussan garantiu que ele não sofre de “nenhuma patologia ou anomalia mental”.
Por sua vez, o psiquiatra Laurent Layet afirmou que “pessoas comuns geralmente realizam atos extraordinários” e que “a maioria das loucuras não é cometida por pessoas loucas”.
Durante seu depoimento em juízo, Gisèle Pélicot disse que, durante os 50 anos de casamento, nunca ouviu o marido “dizer nada inapropriado ou obsceno sobre uma mulher”.
Os netos, a quem ele ajudava nos deveres de casa e acompanhava nas atividades esportivas, adoravam o avô. Ele também andava de bicicleta com os vizinhos no icônico Mont Ventoux, perto de sua casa em Mazan.
Dominique assume os crimes
Dominique Pélicot foi acusado de drogar a esposa com tranquilizantes potentes, deixando-a desacordada, e levar homens para que eles pudessem estuprá-la em Mazan, no sul de França, onde o casal morava.
Os crimes começaram em 2011, mas se tornaram mais frequentes a partir de 2013. O réu confessou, na terça-feira (3), ser culpado de todas as acusações e pode enfrentar uma pena de até 20 anos de prisão.
As autoridades francesas revelam que Dominique deixava Gisèle dopada, desacordada e à mercê dos “convidados”.
Ele não pedia dinheiro em troca das relações sexuais, mas orientava os homens a não usarem perfume ou tabaco, além de aquecer as mãos com água quente e tirar a roupa na cozinha, para evitar que itens fossem esquecidos no quarto.
Na sexta-feira (6), foi a vez da filha do casal, Caroline Darian, de 45 anos, testemunhar. A moça afirmou que Dominique é “um dos maiores criminosos sexuais dos últimos 20 anos”. Em meio às lágrimas, ela também relembrou o dia em que descobriu os crimes do pai.
Na quarta-feira (11), Dominique Pélicot chegou a ir ao tribunal para seu primeiro depoimento, mas alegou problemas de saúde e foi liberado pelo juiz.
50 homens julgados
O julgamento do caso, que chocou a França, deve ser usado como parâmetro para crimes de submissão química e vai durar quatro meses. Além do marido da vítima, 50 outros homens também respondem como réus no julgamento.
No total, foram registrados 92 estupros, cometidos por 72 homens. No entanto, 22 não foram formalmente identificados e, por isso, a acusação formal indica 50 réus, além do marido da vítima, o réu principal.
Desses, 18 já estão em prisão preventiva, inclusive o marido da vítima, e vão comparecer diante dos juízes no período de julgamento.
Todos os acusados são homens, têm profissões como bombeiro, artesão, enfermeiro, ex-policial, eletricista, empresário e jornalista e idades entre 21 e 68 anos.
A descoberta
A vítima descobriu que sofria estupros apenas aos 68 anos de idade, depois de quase cinquenta anos de convivência, quando a investigação começou por acaso.
Em 2020, o marido foi flagrado em um shopping center tentando colocar um celular sob as saias de três mulheres para filmar.
Ao revistar o computador do suspeito, os investigadores descobriram milhares de fotos e vídeos da esposa, visivelmente inconsciente, muitas vezes em posição fetal, estuprada por dezenas de estranhos, na casa da família.
A mulher contraiu quatro infecções sexualmente transmissíveis em consequência dos abusos.
“Ela escapou milagrosamente da contaminação pelo HIV e pelas hepatites B e C, mas contraiu quatro doenças sexualmente transmissíveis, necessitando de tratamento com antibióticos, incluindo um por via intramuscular”, afirmou uma médica.
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