Quando minha família chegou em Seabra, no final dos anos 60, fomos morar numa casa perto da ponte do Rio do Campestre e do prédio do colégio Juracy Magalhães. Rapidamente fiz como amigos os filhos dos vizinhos – Seu Pedro e Dona Maria, seu Cazin e Dona Morena, Seu Oscar Lobo e Dona Chica, entre outros.
O Rio passava com águas limpas nos fundos das nossas casas, onde cedo se buscava água limpa para o uso doméstico e mais tarde as lavadeiras enfeitavam o gramado de roupas quarado e as cercas de roupas secando, nos dando de graça ainda as rizadas de Dona Silvina.
Nas trovoadas o Rio do Capestre enchia e a presença da meninada com anzol era certa, pegando piaba, traíra, corró, piau e iuiu.
Um pouco mais a jusante o Campestre encontrava o Rio do Cochó (e ainda encontra), e formava o poço quente e frio, que nos proporcionava um belo banho no final da tarde.
Periodicamente as pessoas se reuniam para limpar o rio, para as águas correrem mais livres. Era uma técnica para evitar empoçamento e a esquistossomose.
Pois bem, veio o progresso. A cidade de Seabra cresceu com a chegada da BR 242, a escolaridade aumentou. Passamos a ter hospital, faculdades, etc…
Era então de se esperar que as águas dos rios fossem bem tratadas, que o aumento da escolaridade fosse propulsor também da consciência ambiental, mas “melou”, aconteceu o contrário.
Hoje dói ver o Campestre e o Cochó transformados em esgotos com mistura fétida. De cima das pontes pode se ver as águas borbulhando pelo metano da decomposição orgânica.
Nossa geração falhou feio no respeito ambiental. Há quatro décadas moro em Feira de Santana, mas este assunto continua meu, pois aqui, na torneira da minha casa, pinga a água do Paraguaçu, que recebe as águas poluídas do Campestre e Cochó.
Mas sou otimista e quero confiar na juventude, e com ela juntar aqueles e aquelas outras, de diversas gerações, que amam a mãe natureza, para darmos vida nova aos rios.
Marialvo Barreto – Professor e Geógrafo
