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A ciência em busca de soluções para doenças crônicas

II International Summit in Nutrition, Health and Nutraceuticals

Armin Tarrah, pesquisador da Universidade de Pádua, palestrou sobre como avaliar novas gerações de probióticos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, os probióticos são “organismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefício à saúde do hospedeiro”.

O pesquisador enfatizou que os probióticos são muito importantes para a saúde, principalmente na prevenção de doenças.

A proliferação de bactérias ruins para o nosso organismo acontece com facilidade, segundo Armin.

Ele lembra que tratamentos antibióticos, sem acompanhamento médico, podem matar as bactérias boas. Além deles, dietas com baixo teor de fibras, alimentos muito processados e estresse.

“Nós temos bastantes bactérias em nosso organismo. Muitas delas são boas, e outras tantas são ruins. Precisamos fazer com que as boas combatam as ruins”, diz.

O pesquisador cita, a título de exemplo, que 60% das pessoas no mundo têm a Helicobacter pylori alojada no estômago ou intestino, uma bactéria que prejudica a barreira de proteção e é causadora de inflamações na região, o que aumenta o risco de desenvolvimento de câncer de cólon.

O alto índice de pessoas com essa bactéria está associado ao fato de ela ser crônica.

Probióticos reduzem a concentração de enzimas, sais biliares secundários e absorção de mutações nocivas, que podem gerar tal câncer.

Identificou-se nas pesquisas que todos os probióticos irão atuar efetivamente, se ingeridos depois de refeições, quando o nível de ácido gástrico está baixo.

“Ainda não podemos colocar essas bactérias no prato, temos que introduzi-las nos alimentos; a saída é a regulamentação de probióticos com especificações para cada finalidade”, conclui.

A professora e pesquisadora no itt Nutrifor, Laura Nunes, na mesma linha de raciocínio de Armin Tarrah, destacou que o uso de probióticos não pode ser generalizado a todos os perfis.

Segundo a pesquisadora, os estudos na área estão sendo ampliados, principalmente pelo avanço da tecnologia, justamente para entender o que seria uma microbiota saudável.

“Existem em torno de 120 espécies de lactobacilos e menos de 30 são cultivadas em laboratório. Isso é um problema, é um número muito reduzido, impossibilita o avanço de pesquisas”, afirma Laura.

O trabalho realizado por Laura, em parceria com os professores Juliano Garavaglia e Denize Ziegler, no itt Nutrifor, tem por objetivo medir a estrutura e a dinâmica das comunidades microbianas, as relações entre esses membros, a produção e o consumo de substâncias, a interação com hospedeiros e as diferenças entre saúde e doenças bacterianas.

Os desafios e as perspectivas para a área ainda permanecem na questão de entender as particularidades dos microbiomas e como podem afetar cada indivíduo.

“Se soubermos quais os probióticos uma pessoa precisa e os possíveis tratamentos que eu devo receitar a ela, iremos direto ao foco do problema”, enfatiza.

Interdisciplinarmente, a professora e decana da Escola de Saúde e pesquisadora do itt Nutrifor, Denize Ziegler, contribui com o olhar da bioquímica e elucida aspectos do vínculo entre a microbiota e o cérebro.

Segundo Denize, quase todas as doenças que enfrentamos hoje têm relação com a microbiota, como Parkinson e Alzheimer. “Todos os neurotransmissores que o cérebro produz, a microbiota também produz. Existe essa conversa cruzada”, explica.

De acordo com pesquisas, as doenças degenerativas não têm mais uma única causa.

É uma sucessão de desequilíbrios que desencadeiam a enfermidade. Descobriu-se que a esquizofrenia, por exemplo, tem relação com as bactérias.

Cita o exemplo, a partir de estudos na área: “Em um caso, foi dado muito antibiótico ao paciente, e ele entrou em surto psicótico.

Então se descobriu que o surto psicótico era em função do antibiótico. Por algum motivo, ele tinha o auxílio dos neurotransmissores do intestino, que faziam seu papel, e, quando ele ficou sem esses neurotransmissores, ele teve o surto”, comenta.

Para Denize, um dos obstáculos a ser vencido é a falta de diálogo entre a psiquiatria e a microbiologia. “O problema dos antibióticos é que eles atacam um fator específico, desconsiderando o corpo harmonicamente”, diz.

O ideal, segundo ela, seria manter esse diálogo, para modular o sistema nervoso com a presença de bactérias boas.

Regine Schneider-Stock, pesquisadora no Departamento de Patologia da Friedrich-Alexander-Universität Erlangen-Nürnberg, compartilhou suas pesquisas sobre compostos naturais com potencial anticancerígeno.

No instituto de pesquisa, Regine analisa fenômenos em tumores e destacou que práticas medicinais atreladas a pesquisas científicas compõem tratamentos não tóxicos e altamente efetivos.

Segundo a pesquisadora, existem muitas soluções promissoras a serem encontradas na natureza. “São mais de 250.000 plantas que nunca foram investigadas”, observa.

“E cerca de 50% de toda a medicina receitada para prevenir câncer, desde os anos 1940, derivam de produtos naturais”, completa.

Moléculas híbridas, feitas a partir das combinações de estruturas naturais, como Thymoquinone (TQ) e Artemisinin (Art), são os principais constitutivos ativos com efeitos promissores contra doenças inflamatórias e câncer.

Segundo Regine, a TQ modula as vias de sinalização, que são fundamentais para a progressão do câncer, e aumenta o potencial anticancerígeno das drogas clínicas, além de reduzir efeitos colaterais tóxicos. Assim como a Art tem potencial contra a malária. O objetivo é seguir os estudos para encontrar soluções que mitiguem a progressão dessas doenças.

BETINA ALBÉ VEPPO – UNISINOS

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