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Aliado de Bolsonaro diz que vacina chinesa tem “células de bebês abortados”

Deputado estadual Jessé Faria Lopes, de Santa Catarina.

Circula nas redes sociais um post que diz que células de bebês abortados estão sendo utilizadas na produção da vacina CoronaVac, da farmacêutica chinesa Sinovac. Essa vacina está sendo testada no Brasil em parceria com o Instituto Butantan.

“Células de bebês abortados são utilizadas para produção de vacina chinesa. Será que o Doria vai revelar isso em suas coletivas de imprensa?”, publicou o deputado estadual Jessé Faria Lopes, de Santa Catarina.

O post foi muito compartilhado por militantes bolsonaristas e repercutiu nas redes.

“Depois é a esquerda que usa drogas”, diz um dos comentários.

“Gostaria de entender que tipo de alucinógeno esse senhor tomou pra escrever um texto tão imbecilizante quanto este. Pior ainda é ter gente acreditando em tamanha barbaridade. Deve estar faltando leitura/estudo ou neurônios”, comenta outro. “A extrema-direita tem tara por fetos”, acrescentou mais um.

No início do ano, o mesmo parlamentar foi às redes sociais protestar contra a campanha “Não é Não”, promovida por mulheres em todo o Brasil.

“Não sejamos hipócritas! Quem, seja homem ou mulher, não gosta de ser ‘assediado(a)’?

Massageia o ego, mesmo que não se tenha interesse na pessoa que tomou a atitude”, escreveu.

“Após as mulheres já terem conquistado todos os direitos necessários, inclusive tendo até, muitas vezes, mais direitos que os homens, hoje as pautas feministas visam em seus atos mais extremistas tirar direitos. Como, por exemplo, essa em questão, o direito da mulher poder ser ‘assediada’ (ser paquerada, procurada, elogiada…).

Parece até inveja de mulheres frustradas por não serem assediadas nem em frente a uma construção civil. Toda mulher sabe lidar com assédio”, acrescentou.

Tecidos humanos

A informação de que “células de bebês abortados” foram utilizadas no desenvolvimento da Coronavac é naturalmente falsa. A vacina está em desenvolvimento pela farmacêutica chinesa Sinovac.

Segundo artigo publicado na revista Science, atualmente seis vacinas que estão sendo desenvolvidas contra a Covid-19 usaram culturas de células originadas em dois fetos abortados, um em 1972 e outro em 1985, para produzir componentes da vacina.

A Coronavac, contudo, não está nessa lista. Segundo pesquisadores da companhia, em artigo também publicado pela revista Science, células Vero foram usadas para cultivar os vírus utilizados na produção da vacina.

Essa cultura celular, desenvolvida em 1962, foi criada a partir de células renais de uma espécie de macaco africano conhecida como “macaco verde”. Ou seja, não foi feita utilizando fetos humanos como plataforma.

Há 50 anos, culturas celulares desenvolvidas em laboratório a partir de embriões são usados para testar ou produzir medicamentos, vacinas e outros produtos.

Uma delas, conhecida como HEK-293, foi criada em 1972 a partir de células renais de um feto abortado nos Países Baixos. Outra, o PER.C6, foi feita em 1985, no mesmo país, a partir de células da retina. As duas foram criadas pelo cientista holandês Alex van der Eb.

As células usadas não são dos próprios fetos, mas suas cópias. Embora tenham se originado em um embrião, elas sofreram modificações e foram replicadas por décadas, em diferentes partes do mundo.

Essas células são usadas para a realização de testes ou para a criação de componentes, e não são um ingrediente em si de vacinas ou medicamentos.

CoronaVac

A vacina da Sinovac é produzida com vírus inativados da Covid-19.

Os cientistas infectam células com o vírus para que ele se multiplique. Como explicado os pesquisadores, utilizaram cópias de células de macaco nessa etapa, e não cópias de células de fetos humanos.

Em seguida, são coletados e desativados por procedimentos químicos. Uma substância à base de alumínio é adicionada aos vírus inativados e purificados para formular a vacina.

Em artigo publicado na revista Nature no início de junho, especialistas explicam que essa substância ajuda a alertar o organismo sobre o invasor e a induzir a produção de altos níveis de anticorpos neutralizantes.

Segundo o Instituto Butantan, o sistema imune costuma reagir a esses preparados com a secreção de anticorpos feitos sob medida contra o patógeno, e com o armazenamento de um conjunto de células que farão mais desses anticorpos quando houver um contato com o patógeno depois da vacinação.

Esse método é o mais tradicional de produção de vacinas, e é usado em imunizações contra sarampo e poliomielite, por exemplo.

Agência Lupa

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