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As grandes mentes de esquerda do século XX

Grandes nomes se esquerda

Podemos até não concordar com o socialismo, mas o “fato científico” é que muita gente que contribuiu para a evolução da mente humana era socialista.

Sartre, filósofo francês de extrema influência, dizia: “Se os comunistas têm razão, então eu sou um louco solitário em vida. Se eles estão errados, então não há esperanças para o mundo”.

O presidente Jair Bolsonaro busca deixar claro seu ódio contra a esquerda e o comunismo, contudo é obrigado a se conformar diariamente com o fato de que habita uma casa projetada por um comunista.

Outrora os militares tiveram que fazer o mesmo. Oscar Niemeyer está vivo em seus monumentos!

Quando se fala mal da esquerda, vale a pena lembrar que se está depredando por tabela as principais mentes que mudaram a história da humanidade em termos culturais e científicos.

Estamos falando de um Albert Einstein que dizia: “Estou convencido de que existe apenas um caminho para eliminar esses graves males, e esse é o estabelecimento de uma economia socialista, acompanhada por um sistema educacional orientado para objetivos sociais”.

Uma vez perguntaram ao astrofísico Carl Sagan se ele era socialista. Ele respondeu: “Eu não tenho certeza o que seria um socialista, mas eu acredito que o governo tem a responsabilidade de cuidar das pessoas”.

Muitos acham que o socialismo é a extinção da propriedade privada. Isso não é verdade. Marx e Engels diziam que a propriedade privada já havia sido extinta para 9/10 da população.

O que defendem é que esse modelo que concentra a propriedade (capitalista) deve ser extinto.

Continuando com Sagan: “Eu não estou falando de caridade, mas de tornar as pessoas auto-suficientes, capazes de se cuidar”.

É justamente disto que se trata o socialismo, o governo precisa conter a concentração, distribuir as riquezas para  que as pessoas possam ser capazes de se cuidar sozinhas.

Sagan fala dos milhões gastos em programas bélicos que poderiam ser usados “para educar, para ajudar, para trazer às pessoas uma sensação de auto-confiança”.

O mesmo pensava Albert Einstein. “A produção é realizada com a finalidade do lucro, não com a do uso”. “O lucro como motivação, em conjunto com a concorrência entre os capitalistas, é responsável por uma instabilidade na acumulação e utilização do capital, a qual leva a crises cada vez mais graves”.

Em seguida, em seu artigo intitulado “Por que socialismo”, o físico teórico conclui: “Essa deformação dos indivíduos, eu a considero o pior dos males do capitalismo. Nosso sistema educacional inteiro sofre desse mal. Uma atitude competitiva exagerada é inculcada no estudante, que, como preparação para sua futura carreira, é treinado para idolatrar um sucesso aquisitivo”.

A distribuição da riqueza produzida pelas máquinas e pelos trabalhadores, de acordo com o físico teórico Stephen Hawking, é algo lógico e ideal, similar ao que pensava Marx.

Vamos deixar que o físico fale: “Se as máquinas produzirem tudo o que precisamos, o resultado vai depender de como as coisas serão distribuídas. Todos podem usufruir de uma vida de luxo e prazer se a riqueza produzida pelas máquinas for compartilhada, ou a maioria das pessoas podem acabar miseravelmente pobres, caso a pressão dos proprietários das máquinas contra a distribuição da riqueza obtiver êxito. Até agora, a tendência parece seguir na segunda opção, com a tecnologia conduzindo a uma desigualdade cada vez maior”.

Esse raciocínio já havia sido desenvolvido por Marx em O Capital: “as contradições e os antagonismos inseparáveis da aplicação capitalista da maquinaria não existem, simplesmente porque não decorrem da maquinaria, mas da sua aplicação capitalista.

A maquinaria, como instrumento que é, encurta o tempo de trabalho; facilita o trabalho; é uma vitória do homem sobre as forças naturais; aumenta as riquezas dos que realmente produzem; mas, com sua aplicação capitalista, gera resultados opostos: prolonga o tempo de trabalho, aumenta sua intensidade, escraviza o homem por meio das forças naturais, pauperiza os verdadeiros produtores”.

Os alunos de Robert Oppenheim diziam que ele leu O Capital de Marx inteiro em uma viagem de trem. Pode ser boato, mas é fato que o presidente Dwight Eisenhower o afastou de suas atividades em 1954 por mostrar-se simpático ao comunismo.

Oppenheim contribuiu para a construção da bomba atômica porque foi convencido de que os nazistas poderiam produzi-la primeiro.

Mais tarde arrependeu-se da sua invenção devido ao uso sanguinário da mesma nas mãos do Exército norte-americano.

Marie Curie, grande cientista do século XX, com dois prêmios Nobel, contribuiu para o movimento feminista, o que não a define como uma comunista, mas certamente como uma mulher de esquerda. Até hoje inspira mulheres em várias partes do mundo.

Mas e nas artes? Temos nada mais nada menos que Pablo Picasso. “O meu compromisso com o Partido Comunista é a consequência lógica da minha vida, do meu trabalho.

Entrei no partido sem hesitação, porque, basicamente, eu estava sempre com eles para sempre”.

Além disso, temos no campo das artes Frida Kahlo: “…estoy más y más convencida de que el único camino para llegar a ser un hombre, quiero decir un ser humano y no un animal, es ser comunista”.

É preciso lembrar que “a esquerda” é um campo constituído por um leque variado de opções, um mundo de ideias diversificadas. A esquerda pode ser liberal ou stalinista. Pode haver esquerda na Venezuela, mas também há na Dinamarca, em Portugal. Existe Cuba que é uma ilha e a China que, certamente, será a maior economia do mundo.

Mas vamos voltar aos personagens que marcaram época. Temos Martin Luther King Jr, o pastor evangélico que lutou pelos direitos civis dos negros tipo de reivindicação que aqui se tornou moda chamar de coitadismo.

Dizia que “a luta central nos EUA é a luta de classes” e também que “o capitalismo chegou ao fim de sua utilidade histórica.

Chegou a hora de os grupos privilegiados deixarem um pouco seus milhões”. Mas para se tornar um ícone norte-americano foi preciso arrancar os elementos socialistas relacionados ao pastor ativista.

É a seleção da memória.

No campo da literatura são tantos que seria preciso centenas de livros para falar do assunto. Mas vamos falar de José Saramago, ganhador do Nobel de Literatura:

A nossa escolha não tem por que ser feita entre socialismos que foram pervertidos e capitalismos perversos de origem, mas entre a humanidade que o socialismo pode ser e a inumanidade que o capitalismo sempre foi”

E quem não sabe quem foi Gabriel García Marquez? “Quero que o mundo seja socialista e creio que cedo ou tarde será”.

E para inserirmos o Brasil nessa história erudita, escolhemos lembrar de Ariano Suassuna: “A meu ver enquanto houver miserável, um homem com fome, o sonho socialista continua”.

Teríamos que falar aqui de Van Gogh, Oscar Wilde, John Ford, Glauber Rocha, Malcom X, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Dias Gomes, Pablo Neruda e de Paulo Freire que aqui é execrado por um discurso ignorante que mal sabe o que é educação, mas que lá fora, em países capitalistas desenvolvidos, é visto como um dos maiores pedagogos da história.

Isso sem falar da vastidão de pensadores que representam as mais diversas faces da esquerda mundial.

Negar a esquerda é negar a importância do seu legado cultural e científico que contribuiu para as maiores descobertas naturais e invenções humanas da história.

E nenhuma virada da extrema direita vai ser capaz de fazer esquecer as descobertas de Einstein, as ações de Martin Luther King Jr ou os mais belos poemas de Neruda.

Podemos até não concordar com o socialismo, mas o “fato científico” é que muita gente que contribuiu para a evolução da mente humana era socialista.

Sartre, filósofo francês de extrema influência, dizia: “Se os comunistas têm razão, então eu sou um louco solitário em vida. Se eles estão errados, então não há esperanças para o mundo”.

Podemos discordar do socialismo, mas ele é a única ferramenta capaz de combater as atrocidades promovidas pelo capital. É uma questão lógica para os físicos e uma questão de esperança para a arte e para a filosofia.

De acordo com a tese do psiquiatra norte-americano, Lyle H. Rossiter, ser de esquerda é uma doença mental.

Mas como Sêneca dizia, “se me apetece rir de um louco, não preciso de ir procurar muito longe; rio de mim mesmo”.

Talvez Einstein, Luther King Jr, e outros rissem como Sêneca. Mas se estas mentes são loucas, prefiro ser louco a são como Alexandre Frota, Olavo de Carvalho e Danilo Gentili.

Aliás, a incapacidade de compreender tais pensadores faz surgir um Olavo de Carvalho que cria um discurso de fácil compreensão, mas embusteiro.

A maior ignorância que o guru de Bolsonaro dissemina é a ideia de que a esquerda se resume à questão ideológica, obliterando a grande contribuição de seus membros para a ciência, para os direitos civis e para as artes de um modo geral.

Einstein, Luther King Jr., Frida Kahlo foram fundamentais para o desenvolvimento humano e tecnológico da humanidade, e seria uma imprudência intelectual desprezar esse fato.

E se o governo quer desvalorizar os cursos de filosofia e de sociologia porque estes possuem uma grande influência de esquerda, será necessário acabar com o curso de física, ou com os que precisam da física para operar (o que nos remete ao campo tecnológico), já que Einstein, Sagan e Hawking, as maiores mentes do século XX na área, eram coniventes com o pensar socialista.

Raphael Silva Fagundes é doutor em História Política pela UERJ

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