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Balão intragástrico o método mais procurado do momento para emagrecer

Veja 7 alertas para quem quer colocar o balão.

Não, o balão intragástrico não é mágico. Hoje, após 10 anos de experiência no tratamento com o balão, com mais de 3 mil pacientes já tratados, tenho propriedade para perceber quando um paciente tem melhores chances do que outros para dar certo, quem são aqueles que têm o perfil ideal para assumir o projeto do tratamento e quem são aqueles que estão procurando uma mágica ou um milagre em emagrecer.

Listo agora algumas ponderações que o candidato ao tratamento do balão deve fazer antes de tomar a decisão de implantá-lo:

1. Você quer MESMO emagrecer?

À primeira vista a pergunta parece idiota. O problema da pergunta acima é a palavra “mesmo”. Não conseguimos mensurar qual é a nossa afetividade com a comida, o quanto nossa relação com ela é forte e temos a tendência de subestimar a influência que ela tem sobre nossas vidas. Não é à toa que o índice de suicídio, depressão e alcoolismo entre os pacientes bariátricos é alto para os padrões da população em geral.

E por que? Porque esse casamento com o prazer de comer acabou em divórcio e, no luto desse divórcio, percebemos que talvez éramos mais felizes gordos. Atendo pacientes bariátricos e ouço familiares dizerem: “Doutor, ela era uma gorda feliz, agora virou uma magra chata!”. Então minha sugestão é que o candidato ao balão deva procurar um psicólogo para avaliar a intensidade da decisão de emagrecer. Será que o prazer de comer ainda não é maior que a dificuldade de estar acima do peso?

2. Essa é a hora de fazer isso?

Controlar o peso sempre é urgente e quanto mais peso temos, mais urgente isso é. No entanto, tudo pode dar errado se o tratamento for num momento errado. Tenho pacientes que não consideraram isso ao decidir implantar o balão e se arrependeram depois de tê-lo colocado. Só que aí não dá mais para voltar atrás, salvo retirar o balão precocemente.

Talvez você tenha filhos muito pequenos e que demandam muito ainda da sua atenção, talvez você já tenha muitas viagens programadas no período de permanência do balão, talvez o momento do seu trabalho requer muito de você, talvez você tenha motivos que vão te fazer desfocar facilmente do tratamento ou mesmo não priorizá-lo. Seja como for, considere se é uma boa hora para assumir um tratamento prolongado como esse.

3. Você está preparado financeiramente para assumir esse tratamento?

Muitas pessoas nos procuram e a primeira pergunta é: qual é o custo? Não é possível responder adequadamente essa pergunta. Se a pessoa está perguntando apenas qual é o custo do procedimento do balão, temos isso já bem estabelecido, porque é nosso custo operacional, mas o custo real do tratamento é outro. Você tem que considerar o custo total do tratamento e isso envolve calcular o custo do procedimento, somado ao custo de todos os tratamentos multidisciplinares necessários, como o nutricionista e o psicólogo, somado ao custo de todos os medicamentos de uso prolongado no tratamento. Calma, não acaba aí: é tudo isso, somado ao custo de realizar atividades físicas em uma academia ou com um personal trainer, somado ao custo de comprar alimentos dietéticos prescritos pelo nutricionista, somado ao custo do afastamento por pelo menos 3 a 4 dias de suas atividades laborais.

Temos muitos pacientes que acabaram prejudicando o tratamento com o balão pois não consideraram adequadamente isso, aí deixaram de ir num nutricionista especializado no balão, deixaram de fazer atividade física e, pior ainda, deixaram de tomar os remédios prescritos. Então calcule bem, por que o barato pode sair caro se esse planejamento não for feito e sua perda de peso com esse método for prejudicada.

4. Você dispõe de tempo e paciência para isso?

Emagrecer demanda tempo e paciência. Infelizmente será necessário reservar algum tempo do seu dia ou de sua semana para realizar o protocolo correto do tratamento. Da mesma forma haverá de ter paciência em agendar consultas regulares, visitar médicos e nutricionistas, paciência de adentrar a uma dieta em que velocidade, quantidade e qualidade devem ser equilibradas. Se você não priorizar o tratamento, muito provavelmente você não perderá o que poderia ter perdido.

5. Terei a resiliência necessária para suportar uma bola no meu estômago?

Em minha experiência noto que muitos pacientes subestimam o que vão passar. A presença de um balão com mais de 600 ml no estômago alterará toda sua digestão durante todo o tratamento. Você nunca terá uma digestão normal com a presença dele. Ele é uma obstrução importante, que vai alterar todo o funcionamento pelo período de sua permanência no sistema digestivo.

Portanto, sintomas digestivos como soluço, diarreia, prisão de ventre, cólicas, arrotos, dores, refluxo, azia, queimação, pirose, flatulência, plenitude gástrica e outros podem aparecer aqui e acolá no tratamento, isoladamente ou simultaneamente. É um sacrifício pessoal a ser avaliado, pois isso às vezes prejudica sua vida social e conjugal. Manter o foco no objetivo é o antídoto para tudo isso. Ninguém dirá que será fácil, mas é compensador ver o resultado depois.

6. Sua família está te apoiando?

Tenho alguns pacientes que querem fazer o procedimento escondido de todos seus próximos. Isso não é uma boa ideia. Eis os motivos: será quase impossível você esconder deles, eles podem se assustar em vê-lo no processo adaptativo se não souberem o por quê está sentindo tantas coisas, você precisa de apoio deles e, por fim, você precisa de alguém para assinar o termo de consentimento que será entregue a você, autorizando o médico a realizar essa invasão no seu corpo.

7. Você tem consciência que a obesidade não tem cura?

É importante você lembrar que estará mais magro após o tratamento, mas que sua genética favorece a obesidade. A obesidade é uma doença incurável, que tem tratamento e controle. O que queremos é controlá-la. Ela é recidivante, ou seja, pode voltar facilmente, não importa o método que você usou para emagrecer. Ela é progressiva, ou seja, ela não se resolve sozinha e progride sempre para mais, ganhando ainda mais peso. Ela é fatal, ou seja, inevitavelmente a obesidade está encurtando seu tempo de vida se não for controlada. Ela é uma doença que gera outras doenças. Portanto, ela é algo a ser respeitado, é um problema complexo e que não tem solução simples. Não é um balão, cirurgia, gastroplastia ou pílula que vai resolvê-la sozinho. Você precisa de ajuda de especialistas, de profissionais, de apoio, de foco e de sua família.

Pode parecer desestimulante realizar o tratamento do balão após ler esse texto. Deveria ser justamente o contrário. Estamos munindo você de toda a informação necessária para vencer essa guerra. É muito gratificante ver um paciente que se livrou do excesso de peso e ganhou uma qualidade de vida, amor próprio, autoestima, um outro guarda roupa, saúde, um novo colorido na vida, pressão arterial mais baixa, glicemia controlada, dores articulares e lombares que desapareceram, um sono melhor e mais disposição no dia, até mesmo o sexo melhora. Os benefícios dessa luta, se feita do jeito certo, são extremamente compensadores a todo o sacrifício despendido para alcançar o objetivo. No fim, nós médicos ouviremos no final do tratamento a famosa frase de quem entendeu isso: “Faria tudo de novo”.

Minha Vida-Jimi Izaques Bifi Scarparo
Endoscopia – CRM 91960/SP

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