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Bolsonaro fez o Supremo se unir

MINISTRO ALEXANDRE MORAIS

A sorte de Jair Bolsonaro é que não há sessão presencial no Supremo Tribunal Federal nesta quinta-feira. Se não tivesse uma pandemia matando quase 500 brasileiros a cada dia, a chance de o país assistir ao clássico pronunciamento do decano Celso de Mello, mostrando ao presidente o tamanho de sua descompostura, seria grande.

Bolsonaro saiu da cama nesta manhã considerando correto afirmar que o ministro Alexandre de Moraes só foi indicado ao STF por ser amigo de Michel Temer. O ataque, além de reduzir os reconhecidos conhecimentos jurídicos do magistrado, coloca todos os outros dez ministros da Corte no mesmo barco.

Pela lógica de Bolsonaro, pode-se dizer que os demais ministros também foram levados ao tribunal pelo coleguismo com algum presidente.

Bolsonaro ficará alarmado quando descobrir de quem o presidente da Corte, o ministro Dias Toffoli, foi amigo no passado. Ou o ministro Edson Fachin, ou Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes… Todos os ministros, afinal.

Um presidente da República deveria saber que amizades não definem a atuação de um ministro do STF. Lula acreditava nisso e veja para onde Joaquim Barbosa mandou os corruptos do mensalão, todos amigos do petista.

Para chegar ao STF, cada um dos ministros precisou demonstrar notório saber jurídico. O modelo brasileiro de escolha dos magistrados dos tribunais há tempos expõe juristas ao lobby político para a promoção. Mas o sistema que submete, também garante plena independência ao magistrado após a posse.

“Depois que a toga cobre os ombros, apaga-se o passado. Zera o jogo”, costuma dizer um ex-ministro da Corte.

Quem na cadeira do STF chega, torna-se defensor e imagem da melhor doutrina jurídica da Nação.

É isso que o presidente não entende e tratou de atacar nesta manhã, na imprensa. Ao fugir do questionamento técnico à decisão de Moraes, Bolsonaro praticamente inviabilizou o plano para tentar colocar seu amigo, o delegado Alexandre Ramagem, no comando da Polícia Federal.

Manuela Dorea

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