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Chantagem do mercado contra Lula pode ajudar a elegê-lo

As caravanas continuam

O mercado tem poder para influenciar o desempenho da economia e, por isso, atua sobre governos e eleições, no sentido de limitar as políticas que podem ser adotadas.

Essa influência, no entanto, varia entre países e ao longo do tempo.

O diagnóstico é da professora de Ciência Política da Fundação Getulio Vargas (FGV) e autora do livro The Politics of Market Discipline in Latin America, Daniela Campello.

A professora da FGV lembra que no caso dos países latino americanos, entre eles o Brasil, a influência do mercado varia, em grande parte, de acordo com fatores internacionais, que estão fora do controle do governo, mas afetam a oferta e a demanda por dólares no país. Segundo ela, essa influência torna-se mais clara e decisiva durante as eleições.

Hoje, o Brasil tem déficit primário, as contas não fecham mesmo antes do pagamento da dívida.

Investidores em diferentes mercados e ativos podem variar em suas preferências por determinadas políticas de governo, mas, especificamente durante as eleições, o mercado se revela muito mais homogêneo.

Há bastante evidência acadêmica de que o mercado favorece governos de direita. O candidato indesejado é o da esquerda, porque a esquerda promete redistribuição de renda”, explica Daniela Campello.

A especialista ressalta também que à medida que aumenta a percepção de risco associada a uma potencial vitória de um candidato “indesejado”, mais caro se torna o financiamento da dívida pública, e isso naturalmente afeta as contas do governo.

Ainda segundo Daniela Campello, alguns exemplos ilustram o fato de que nem sempre o que é bom para o mercado é necessariamente positivo para o país.

“Um deles é o excelente desempenho da Bovespa nos últimos dois anos, em que experimentamos o período mais turbulento de nossa história política desde a redemocratização, refletido na baixíssima confiança dos consumidores e na impopularidade do governo.

Da mesma forma, nota-se que o mercado vem reagindo com indiferença aos escândalos de corrupção do governo federal e oferecendo amplo suporte em troca da adoção de reformas desejadas”, destaca a professora da FGV.

Cenário de 2018

De acordo com a cientista política, a reação do mercado a um candidato indesejado pode favorecer sua vitória.

Segundo ela, quanto pior o desempenho hoje da economia, mais provável seria a eleição de Lula ou, caso ele não venha a concorrer, de um candidato endossado por ele.

“Neste sentido é uma situação paradoxal: a reação negativa do mercado a um potencial candidato de esquerda pode aumentar as chances desse candidato”, esclarece.

Mundo

Daniela Campello assegura que países com as contas em ordem também não estão imunes a essa pressão, como já mostrou o caso da Ásia ao final dos anos 1990, e a experiência da Espanha ou da Irlanda mais recentemente.

Esses países receberam fluxos altíssimos de investimentos durante um período de otimismo internacional e viram esses fluxos des

aparecerem em um período muito curto.

“Essa reversão tem resultados dramáticos, mesmo que o governo em si não esteja muito endividado, então a preocupação em evitá-la é comum à maior parte dos países.

A volatilidade financeira é uma marca da globalização que vivemos, e é ainda muito pior em países dito emergentes. Não há dúvida, contudo, que o severo endividamento de um país que paga juros altíssimos agrava a pressão”, esclarece a cientista política.

Miguel do Rosário com informações da FGV

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