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Duende no Sistema Solar

'Duende', ou 'Goblin', é considerado um indicador da existência do hipotético 'Planeta X' — Foto: Roberto Candanosa e Scott Sheppard/Instituto Carnegie/BBC

Desde 2006 o Sistema Solar tem uma categoria nova de objetos: os planetas anões. Ela foi criada para acomodar objetos que apesar de terem forma arredondada, por causa do seu tamanho e, principalmente, por não ter conseguido limpar o seu entorno, não poderiam ser classificados como planeta.

O foco, como você se lembra, era resolver o problema com Plutão.
Até 2006, Plutão era considerado planeta, mas a cada ano, mais e mais objetos com características parecidas com as de Plutão eram descobertos.

Por exemplo, órbitas excêntricas, ou seja, com grande elipsidade, além de muito inclinadas em relação ao plano do Sistema Solar. Esses objetos são conhecidos como objetos transnetunianos, TNO em inglês, que na verdade são objetos pertencentes ao Cinturão de Kuiper e que têm órbitas tão alongadas que cruzam, ou pelo menos se aproximam muito da órbita de Netuno.

Enquanto esses objetos recém descobertos tinham tamanho menor que Plutão, a União Astronômica Internacional (IAU na sigla em inglês) mantinha o Sistema Solar com 9 planetas. Mas em janeiro de 2005, Mike Brown e seus colaboradores descobrem Eris, um objeto distante, classificado como TNO e que tinha, pelo menos nas primeiras estimativas, um tamanho compatível com o tamanho de Plutão. Assim, Brown que nunca escondeu sua vontade de descobrir um planeta, começou a pressionar a IAU para reconhecer Éris como o décimo planeta do Sistema Solar.

A instituição que faz as definições do mundo astronômico se viu encurralada, pois admitindo que Éris seria um planeta, abriria a porteira para outros TNOs que seriam descobertos no futuro. O Cinturão de Kuiper deve ter milhões desses objetos e certamente muitos deles devem ter caracterísitcas compatíveis com Plutão ou Éris.

Aí deu no que deu: a IAU criou a categoria de planeta anão, Plutão foi reclassificado e Ceres que era o maior asteroide do Cinturão Principal também virou planeta anão. Além deles dois, ainda tem Haumea e Makemake para completar a lista, ambos descoberto por Mike Brown e colegas.

Não era difícil de atencipar que a lista de planetas anões aumentaria ao longo dos anos, principalmente com a inauguração de telescópios cada vez maiores. Desde meados de 2006, Brown mantem uma lista com 952 objetos do Cinturão de Kuiper candidatos a planeta anão. Desses, pelo menos 6 possuem as características de Plutão e Éris e outros 27 são “quase certos”. Essa semana a lista aumentou.
Isso porque Chad Trujilo, um dos colaboradores de Brown na descoberta de Éris, anunciou junto aos seus colaboradores a descoberta do objeto 2015 TG387. De acordo com Trujilo e seus colegas, TG387 teria um diâmetro de mais ou menos 300 km, no limite de ser considerado planeta anão.

Atualmente o objeto está a uma distância aproximada de 80 unidades astronômicas (au) que é a medida da distância entre o Sol e a Terra.

Para você ter uma ideia de quanto isso é distante, Plutão está a 34 ua! O objeto leva aproximadamente 40 mil anos para completar uma volta em sua órbita e nunca se aproxima do Sol mais do que 65 ua.

Levou uns 3 anos para que a equipe juntasse dados suficientes para gerar uma descrição confiável da órbita de TG387. Aliás, o objeto foi apelidado de ‘Goblin’, traduzido em português como ‘duende’, mas que na verdade é um ser mitológico diferente. Por que eles fizeram isso? Porque Goblin foi descoberto perto do Halloween…

O mais interessante de Goblin é sua órbita, mais do que o fato de ser um candidato a planeta anão. Nos confins do Sistema Solar, a influência gravitacional do Sol é muito pequena.

Os gigantes gasosos têm um papel importante nas perturbações dos TNOs. Mais interessante ainda é que um corpo celeste com massa suficiente para ser classificado como planeta poderia alterar as órbitas de objetos do Cinturão de Kuiper. E aparentemente isso está acontecendo com Goblin, na verdade, com mais algumas dezenas de objetos.

Um estudo baseado em simulações numéricas calculando o comportamento de objetos do Cinturão de Kuiper sob a influência de um corpo celeste com massa entre a massa da Terra e Netuno seria capaz de deixar as órbitas desses objetos mais ou menos alinhadas. Em outras palavras, o alinhamento das órbitas de Goblin e mais de uma dezena de objetos não seria obra do acaso, mas sim da presença de um planeta distante.

Esse planeta foi apelidado de ‘Planeta 9’ pelo autor das simulações, que é o próprio Mike Brown (quando eu digo que ele tem obsessão por descobrir um planeta eu não estou exagerando).

Além das simulações, Brown publicou também os elementos que permitem qualquer astrônomo procurar pelo Planeta 9, que muita gente está chamando de Planeta X por motivos históricos. Só que não é tão fácil assim. As simulações não são capazes de dizer qual a posição exata do planeta, apenas extensas faixas do céu. Além disso, a busca necessita de telescópios da classe de 8 metros de diâmetro ou maiores.

Nas distâncias mostradas pelas simulações, mesmo que o planeta seja do tamanho de Netuno, ele deve ser muito fraco para ser detectado.

A favor do Planeta 9 estão as simulações e o grupo de objetos com alinhamentos orbitais compatíveis, como Goblin, mas por outro lado, os dados do satélite Wise que observou o céu inteiro no infravermelho não encontrou nada. Objetos assim acabam sendo mais brilhantes no infravermelho, porque emitem calor, do que no visível, porque refletem a luz do Sol. Se o Wise não achou nada suspeito, é melhor rever as contas.

A próxima geração de telescópios, da classe de 30 metros, promete ser capaz de dar essa resposta. Será que Goblin e seus amigos estariam sendo pastoreados pelo Planeta 9?

G1

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