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Eles não têm plano, eles não têm vacina… Eles não têm vergonha na cara

Não se trata de cisma ou má vontade com o governo atual. Ser frontalmente contrário a uma gestão ou ideologia não implica em discordar automaticamente de todas as suas decisões.

Essa turba de insanos indigentes a quem somos obrigados a chamar de governo já cruzou a linha dos absurdos aceitáveis há muito tempo.

A hecatombe da pandemia, que espalhou corpos democraticamente por todo o Brasil, só fez a sensação de indignação com Jair Bolsonaro e sua súcia aumentar.

Após o anúncio oficial de que o governo federal finalmente tinha um plano de vacinação, fiquei aguardando a cerimônia de apresentação pelas autoridades do Ministério da Saúde.

Como sou ingênuo…

Num lampejo de infantilidade, achei que, como num passe de mágica, Jair Bolsonaro e Eduardo Pazuello iriam passar a trabalhar e que já tinham minimamente acertado as coisas para que saíssemos desse atoleiro de atraso em que nos metemos.

O Plano Nacional de Vacinação contra a Covid-19 apresentado num circo cafona e abarrotado de puxa-sacos de vários matizes era apenas uma atualização ridícula da versão igualmente ridícula apresentada na semana passada.

As mudanças insignificantes pouco fazem diferença.

Uma ligeira alteração nos grupos prioritários, incluindo a população carcerária, comunidades originárias e quilombolas, e a retirada dos nomes dos pesquisadores que denunciaram nos últimos dias terem sido referidos no documento do plano sem autorização.

Uma outra coisinha nova foi citar nominalmente a CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan, em parceria com o laboratório chinês Sinovac, numa empreitada encabeçada de forma autônoma pelo governador paulista João Doria, sem cooperação federal.

Falaram os nomes das possíveis vacinas, sinalizaram que podem querer tomar para si todo o projeto desenvolvido pelo governo estadual de São Paulo e também enfatizaram as idiotices inócuas de sempre, que só servem para tumultuar e gerar bate-bocas, como o estapafúrdio termo de responsabilidade para quem quiser se imunizar.

E sobre datas? Compra de vacinas?

Nada! É, meus caros… Nada!

O governo da 9ª economia do planeta (que já foi a 6ª há menos de cinco anos) e que é a nação com a maior expertise em campanhas de vacinação no mundo está simplesmente inerte.

Jair Bolsonaro e seus ministros passaram meses sem pensar que este momento, o da imunização, chegaria e simplesmente não fizeram nada!

Nenhum acordo real de compra de vacinas, nenhum investimento pesado em pesquisa, nenhuma parceria séria com farmacêuticas internacionais (o convênio com a Oxford/AstraZeneca não englobava a compra do produto), enquanto todas as nações do G20, os gigantes (como deveríamos ser), saíram comprando tudo para proteger seus cidadãos.

Você, meu amigo… E eu… A gente tá no mato!

A única coisa que parece ter mudado por ora é a percepção de Bolsonaro e de seu séquito palaciano quanto ao desastre que provocaram.

Inúmeras fontes, de vários veículos de comunicação diferentes, já vêm nos últimos dias alertando para um certo desespero do inoperante presidente, que teria percebido o tamanho da lambança que cometeu ao não fazer absolutamente nada com relação à tão esperada hora da imunização mundo afora.

Estamos largados nas mãos desses desalmados. Um general tosco e um projeto de genocida batem cabeça, enquanto o Brasil fica no esquecimento e se isola cada vez mais da civilização.

A pergunta é a mesma de sempre: até quando?

Por fim, como anunciei no título deste texto, precisamos pôr de uma vez por todas na cabeça, sem rodeios, que dependeremos de atores externos para resolver a questão da vacinação no Brasil, porque eles não têm plano, eles não têm vacina… Eles não têm vergonha na cara.

Henrique Rodrigues – Jornalista e professor de Literatura Brasileira.

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