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Especialistas afirmam que Brasil perdeu o ‘timing’ nas vacinas para o covid-19

Vacinação?

As notícias que chegam do exterior são animadoras. O Reino Unido já deu início ao seu programa de vacinação contra a Covid-19, e a Espanha deve começar nos próximos dias. O Canadá acelerou seus protocolos para aprovar um dos imunizantes, mesmo caminho seguido pelos EUA.

Mas por aqui, a politização em torno da pandemia e a falta de planejamento do governo estão deixando o país para trás. É essa a percepção dos especialistas que participaram do seminário “E Agora, Brasil?”.

— Sem dúvida estamos num momento crucial, de acesso a vacinas, e a meu juízo o Brasil perdeu o timing de entrar de maneira equânime em relação aos demais nessa guerra, afirmou a pneumologista Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz e colunista do Globo em “A Hora da Ciência”.

“Nós já perdemos. Nós já estamos atrasados.”

Segundo a especialista, uma das mais respeitadas em seu campo de atuação, recém-eleita presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia para o biênio 2023-2024, a vacinação não será a resposta definitiva para o novo coronavírus. Ele continuará circulando, fazendo vítimas pelo mundo. Mas a imunização em massa é, certamente, a melhor arma que temos.

— Para viroses agudas, a solução não é remédio, não é tratamento, não é protocolo de nenhuma espécie. A resposta está nas vacinas, sentenciou Margareth.

Viroses crônicas, como Aids e hepatite C, se resolvem com tratamento. Mas viroses agudas, como a Covid-19, se combatem com vacinas.

A economista Monica de Bolle, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics, em Washington, concorda que o Brasil “vai assistir de camarote” às campanhas de vacinação que já estão começando em outros países do mundo. E esse atraso terá consequências, tanto para a saúde da população como para a retomada da economia.

— A primeira, evidentemente, é de deixar parte da população, sobretudo aquela com menos acesso, a ver navios por alguns meses — disse a economista.

O segundo impacto é econômico. Nós já vimos o impacto que uma pandemia descontrolada tem na economia, e estamos testemunhando isso de novo.

Falta de freezers

Monica ressaltou que esse quadro vai se agravar com o fim do pagamento, este mês, do auxílio emergencial, fundamental para que os brasileiros superassem o auge da crise, assim como do estado de calamidade, que permitiu a expansão dos gastos públicos para o combate à pandemia:

— Vamos entrar em 2021 sem um plano claro para a campanha de vacinação, sem assistência para as pessoas que precisam e sem o estado de calamidade, a não ser que o governo decrete novamente — afirmou.

Margareth lamentou o fato de o Brasil, com o tamanho de sua economia, não ter freezer a -70ºC para armazenar uma vacina como a da Pfizer/BioNTech. E relatou a preocupação de empresários com a vacinação:

— Há dois dias, tive uma reunião com alguns empresários, que me perguntaram “quantos freezers a -70ºC a senhora quer que nós doemos para que pelo menos as capitais brasileiras tenham acesso à vacina?”

‘Ato de fraternidade’

A pneumologista lembrou ainda que em 2021 não será possível vacinar toda a população mundial:

— Se somarmos todas as vacinas que estão sendo produzidas, isso dará 2,5 bilhões de doses. No mundo há mais de 7 bilhões de pessoas. Não dá para fazer da vacina uma quimera.

Outro ponto criticado durante o debate foi a politização das vacinas. Para médico e escritor Drauzio Varella, “a política invadiu a questão vacinal no Brasil”:

— Nós temos o Butantan em fase final (de testes), e o estado de São Paulo marcando data para vacinação. Curiosamente, 25 de janeiro é o aniversário da cidade! Nós ainda não temos a vacina produzida aqui, como se marca uma data?

Ele ressaltou que o Brasil é considerado referência mundial em imunização, mas afirmou que hoje falta coordenação central para enfrentar o desafio de vacinar 210 milhões de pessoas.

— Eu peço a todos que considerem a vacina como um bem público, um bem para todos, um ato de fraternidade em relação aos seus pares, não só em relação a vocês próprios. Sem ela nós realmente não teremos chance de sair dessa — resumiu Monica de Bolle.

YN

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