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Médicos comemoram e satirizam morte de dona Marisa Letícia

Dona Marisa Letícia, 66 anos, esposa do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, morreu nesta quinta-feira (2) em razão de complicações causadas por um AVC hemorrágico.

A morte da ex-primeira-dama mal havia sido anunciada e a internet já estava infestada de comentários chocantes, a exemplo do que aconteceu quando foi divulgada a internação de Marisa na última semana.

Dessa vez, porém, os níveis de excitação registrados foram superiores. Era como se a morte de dona Marisa, sacramentada, representasse uma missão cumprida.

Mensagens de ódio e de celebração ao falecimento da esposa de Lula ultrapassaram as barreiras das caixas de comentários dos grandes veículos de comunicação, como G1, UOL e VEJA.

Um leitor que participa da comunidade ‘Dignidade Médica‘ — grupo fechado reservado a médicos no Facebook — printou e nos enviou a repercussão da morte de dona Marisa naquele canal, que, em teoria, deveria exalar ética e humanidade. No entanto, a insensibilidade ali captada foi ainda mais impactante. A conferir:

Respeito

William Oliveira. Tem que ser muito espírito de porco pra envolver política e cuspir odio numa situação dessas. Não se trata de primeira dama, ou quem é o marido. Ali ainda existe um ser humano que merece respeito. Que Deus faça o que for melhor.

Cleudimar Galindo. A crise não é só política e econômica! Há uma crise de humanidade. O ser humano está cada dia mais frio, mais insensível e mais afastado da espiritualidade. Fazer chacota e comemorar a morte de outro ser humano, seja ele qual for, nos aproxima da mais primitiva barbárie. Nos coloca no mais baixo grau do processo evolutivo. Força Lula, que Deus conforte o coração de toda família! E pra deixar bem claro, não estou falando do lado político e sim, do ser humano.

Joselia Sampaio. Da alma da mulher que ia visitar o marido preso pela polícia política da ditadura sem fraquejar nem lhe pedir que fraquejasse; da esposa e mãe, sozinha, que, ao contrário de todos os prognósticos, quando o sensato era recuar e sumir, abriu a casa para ser o sindicato quando os três sindicatos de metalúrgicos do ABC sofreram intervenção na grande greve de 1979, coroada pelas lendárias assembleias de 60 mil pessoas no estádio da Vila Euclides; a alma da mulher que organizou com outras mães e esposas uma audaciosa passeata de mulheres e filhos em uma São Bernardo tomada por tropas da repressão, em defesa dos maridos, dos operários e sindicalistas presos; a alma da Marisa que costurou a primeira bandeira do PT; e que se politizou assim, como protagonista de uma história feita com as próprias mãos, sobre a qual nem ela, nem ele, Lula, jamais seriam convidados a opinar se ficassem esperando o convite dos que agora tomaram se assalto a engrenagem e a reescrevem com fel, ferro e fogo.

‘Celebração’ injustificável

Para Aurélio Melo, professor de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, são injustificáveis as comemorações à morte de Marisa Letícia.

“Não existe uma justificativa para que alguém celebre a morte de outra pessoa. Mas o que as pessoas estão fazendo é expressar um ódio por uma figura pública que pode ter supostamente o prejudicado. Essa comemoração mórbida é uma expressão de ódio, de intolerância e de falta de ética”, afirma.

Melo diz ainda que é inevitável controlar os pensamentos e sentimentos, no entanto, é possível controlar o que será compartilhado nas redes sociais.

“A morbidez, a intolerância e o ódio estão tão na moda que existem até os ‘haters’. E agora essas atitudes de intolerância começam a surgir até mesmo em casos delicados como uma morte”, diz.

Ps.: Indicamos, por fim, a leitura do texto ‘A Marisa Letícia que a imprensa grande não gostar de revelar’, de Frei Betto.

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