Na mensagem que o Papa envia ao mundo no dia de Natal, antes de dar a benção Urbi et Orbi, ele costuma refletir sobre os conflitos que assolam a humanidade em um tom especialmente crítico. Na segunda-feira, Francisco deteve-se particularmente na situação de violência vivida entre Israel e Palestina, após o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel pelo presidente norte-americano Donald Trump e a transferência da embaixada no começo do mês.
O Pontífice, que na situação enviou um severo pedido para que se respeite o status quo de Jerusalém, na segunda pediu novamente “paz à cidade e a toda a Terra Santa” e afirmou que reza para que se consiga uma solução com “dois Estados”.
“Rezemos para que entre as partes envolvidas prevaleça a vontade de se retomar o diálogo e que seja possível finalmente chegar a uma solução negociada, que permita a coexistência pacífica de dois Estados dentro de fronteiras acertadas entre eles e reconhecidas mundialmente”, disse Francisco, que em seu quinto Natal como pontífice pediu para que as tensões sejam superadas em uma “terra martirizada”.
Antes de dar a benção Urbi et Orbi – à cidade e ao mundo – Bergoglio falou de um mundo em que “sopram ventos de guerra e um modelo de desenvolvimento já caduco continua provocando degradação humana, social e ambiental”. E também falou da Venezuela, atualmente submersa em uma profunda crise política em meio a um aumento da delinquência, escassez de alimentos e desabastecimento de remédios. Francisco pediu para o país “um diálogo sereno entre os diversos componentes sociais para o bem de todo o querido povo venezuelano”.
Da sacada da Logia central da basílica de São Pedro, onde em março de 2013 se apresentou ao mundo como novo Papa, Francisco voltou a agitar consciências repassando as guerras que inquietam o planeta, como a da Síria, em aberto desde 2011 e para a qual pediu “que se volte a encontrar o respeito pela dignidade de cada pessoa, mediante o compromisso unânime de reconstruir o tecido social independentemente da etnia e religião a que se pertença”.
Também falou dos conflitos existentes no Iraque “que ainda continua ferido e dividido pelas hostilidades que o atingiram nos últimos quinze anos” e no esquecido Iêmen, arrasado pelas disputas entre o Irã e a Arábia Saudita pela hegemonia regional. Francisco apontou as “graves consequências humanitárias à população que sofre com a fome e a propagação de doenças”.
O Papa também chamou a atenção sobre a crise dos refugiados, que se transformou em um dos assuntos primordiais de seu pontificado e lembrou “de tantas crianças obrigadas a abandonar seus países, a viajar sozinhas em condições desumanas, sendo presa fácil para os traficantes de pessoas”. Em relação ao “drama de tantos imigrantes forçados que arriscam até mesmo suas vidas para empreender viagens exaustivas que muitas vezes terminam em tragédia” fez um pedido: “Que nossos corações não estejam fechados como as casas de Belém”.
Também recordou de sua recente viagem a Myanmar e Bangladesh, onde conseguiu direcionar o foco internacional sobre a limpeza étnica sofrida pelos rohingya pelas mãos do exército birmanês. “Espero que a comunidade internacional não deixe de trabalhar para que a dignidade das minorias que vivem na região seja adequadamente amparada”, disse na segunda-feira.
Também estiveram presentes em seu discurso outras regiões do mundo onde a paz e a segurança estão ameaçadas pelo perigo das tensões e dos novos conflitos, como o caso da Coreia do Norte, núcleo de preocupação internacional, com o avanço de seu programa nuclear e seu tenso enfrentamento com os Estados Unidos. “Rezemos para que na península coreana sejam superados os antagonismos e a confiança mútua aumente pelo bem de todos”. E na sequência lamentou a violência e pediu o fim dos conflitos na Ucrânia, onde apontou as “graves repercussões humanitárias” e na África, especialmente no Sudão do Sul, na Somália, no Burundi, na República Democrática do Congo, na República Centro-africana e na Nigéria.
LORENA PACHO