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A Petrobras perde na comunicação. E o Brasil pode perder empregos

Aconteceu um bate-papo informal promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé com o ex-presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli.

Da conversa, que teve pouco mais de duas horas, foi possível colher informações sobre a atual situação da maior empresa brasileira e também uma certeza: a Petrobras está perdendo e feio a batalha da comunicação.

Não, o ex-mandatário da companhia não disse isso, mas observando seus argumentos a respeito da crise que ronda a empresa e que é alvo principal da batalha político-midiática que ameaça o governo Dilma, é fácil chegar a essa constatação.

Gabrielli discorre com facilidade a respeito de boa parte da pauta repisada por parte da mídia desde o ano passado contra a Petrobras.

Não nega que haja problemas, e muitos, mas reivindica que sejam reconhecidos os avanços obtidos nos últimos anos, e pede que não se confunda a instituição com os malfeitores.

Invocou a lembrança da reorientação na direção da companhia no primeiro governo Lula, quando não só houve uma mudança na tendência ao fatiamento da empresa, que rumava em um norte privatista, como também um direcionamento para que a petrolífera passasse a fazer parte integrante das políticas públicas estratégicas do governo, fomentando, por exemplo, o renascimento da indústria naval brasileira.

O renascimento se deu com a instituição da política de conteúdo nacional. Ao invés de encomendar plataformas e outros equipamentos fora do país, a empresa passou a fazer encomendas dentro do país.

Política que, agora, se encontra em risco em função da ameaça aos contratos firmados que envolvem a geração de empregos como o que estabelece a construção de 29 sondas com a Sete Brasil, empresa responsável por um programa de 25,7 bilhões de dólares.

Como em três dos cinco principais estaleiros e em cinco das oito operadoras de sondas as sócias são empreiteiras envolvidas na Lava Jato, a execução do programa, que teve uma proposta de financiamento adiada pelo BNDES na última sexta-feira (6), está em risco.

Estima-se em 149 mil os empregos diretos e indiretos envolvidos na construção das sondas.

O fato, reforçado por Gabrielli, mas não só por ele, é que o impacto da redução dos investimentos da Petrobras sobre a economia em 2015 pode ser um aumento do desemprego e a redução do PIB brasileiro.

A médio prazo, a política de conteúdo nacional fica comprometida. Combinando-se uma política de contenção fiscal e elevação de taxa de juros, o resultado certo é uma recessão durante o ano.

E um dos grandes problemas, e isso é conclusão de quem escreve, é que o governo não tem a clareza para se expressar a respeito da Petrobras e do que ela representa com a limpidez que faz o ex-presidente da companhia em um bate-papo.

Ele, aliás, foi o responsável pela montagem dos Fatos e Dados, blog da Petrobras que, no passado, desmoralizou parte da mídia tradicional ao fazer o enfrentamento não só na área da comunicação, mas também o embate político para desmentir o que revistas e jornais costumavam falar sem a devida contra-argumentação.

No ano passado, em entrevista a blogueiros, o ex-presidente Lula chegou a questionar: onde está o blog da Petrobras?

Até hoje a pergunta está no ar.

Optar pelo não enfrentamento e deixar a Petrobras ao bel prazer da narrativa da mídia tradicional, que bate na companhia há um ano, é abrir mão não apenas da disputa política, mas deixar que se desconstrua toda uma estratégia de Estado erguida há anos. Ainda há tempo para reagir, hoje mais um 7 a 1 se desenha.

Fonte: Renato Rovai

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