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As reformas precisam ser tocada pelo próximo governo, diz Eduardo Alcalay

Próximo governo precisa tocar reformas', diz Eduardo Alcalay

Brasil está com os fundamentos econômicos “no lugar certo” para embarcar em um longo processo de crescimento e desenvolvimento dos mercados. No entanto, esse caminho precisa ser pavimentado com a eleição de um candidato comprometido com a agenda de reformas, avalia o presidente do Bank of America Merrill Lynch, Eduardo Alcalay, em entrevista ao Estadão/Broadcast. Prestes a completar um ano no comando da operação brasileira de um dos maiores bancos dos Estados Unidos, o executivo afirma que mesmo a elevada incerteza por conta das eleições presidenciais não tem minado as operações de captação pelas empresas, mas a seletividade do investidor tem sido marcante. No entanto, ele admite que, à medida que a votação se aproxima, os investidores podem ficar em compasso de espera para terem maior clareza e, com isso, algumas operações “podem ficar pelo caminho”. Para o executivo, “se o próximo governo tocar as reformas, o Brasil pode navegar águas de tranquilidade e de crescimento sustentável. Se acertarmos todos os ponteiros nos próximos um ou dois anos.”

Qual deve ser o impacto das eleições para os negócios?

Ano passado tivemos um período muito forte para as ofertas de ações, com mais de R$ 45 bilhões (incluindo os IPOs de ativos brasileiros que ocorreram fora do Brasil). E tudo isso porque as empresas se anteciparam a um eventual cenário de incerteza à luz das eleições e à possibilidade do mercado estar mais fechado. O mercado, no entanto, não está fechado, há operações relevantes na rua e estamos atuando fortemente nisso. Mas certamente a visão é de que quanto mais se aproximam as eleições, talvez os investidores queiram aguardar.

Os investidores estão mais seletivos com as aberturas de capital?

Desde o ano passado já há muita seletividade, apesar do número grande de operações. Algumas empresas tentaram acessar o mercado e não conseguiram. Hoje temos um cenário global benigno e com disponibilidade de liquidez, em busca de retornos e isso é bom aos mercados emergentes, onde o Brasil está inserido. Sempre há um bolsão de dinheiro disposto a assumir um pouco mais de risco e esse cenário ainda não mudou, mesmo com as questões geopolíticas e sobre guerra comercial.

O mercado de fusões e aquisições tende a sofrer menos impacto da incerteza com as eleições?

Menos, mas é impactado. Essas decisões normalmente são mais de longo prazo. Alguns negócios ficam pelo caminho, mas de maneira não tão sensível quanto os IPOs. O IPO fica pelo caminho, pois chega uma hora que o investidor de bolsa vira e fala: “para, vou esperar. Já a decisão, como a da Suzano de comprar a Fibria, é de mais longo prazo.

Bolsa e dólar se estressaram nos últimos dias. Foi identificado um risco eleitoral que não estava na conta antes?

É uma mistura de elementos. Há dias de estresse lá fora com a guerra comercial entre China e Estados Unidos, que causa uma faísca e que afeta aqui. Noutro dia é uma notícia do plano eleitoral. O mercado treme, mas ele volta à normalidade, porque existe liquidez e não existe um ajuste abrupto que pode acontecer nos mercados, seja no mercado local ou no externo.

Então o Brasil está se beneficiando do quadro externo?

O Brasil se beneficia desse quadro benigno mundial, tirando as questões mais recentes de geopolítica, guerra comercial. O mundo todo está crescendo. Existe também um ambiente inflacionário e de taxas de juros globais muito benigno. Com isso, sobra capital para todos os mercados. Isso está nos dando um grande refresco, porque se o mundo tivesse pior estaríamos passando aqui por maus bocados.

Como o banco enxerga o Brasil olhando o cenário para frente?

Os fundamentos do Brasil atualmente são tais que está tudo no lugar certo para o País embarcar em um longo processo de crescimento econômico e desenvolvimento dos mercados. A inflação nunca foi tão baixa e está absolutamente sob controle, sem nenhum sinal de preocupação no médio prazo. Por conta disso, os juros estão em recorde de baixa, o que tira um peso e custo das empresas, dos consumidores e do próprio governo. Isso é benéfico e alimenta a dinâmica para se ter mais consumo, mais investimentos e mais confiança. O Brasil está mirando crescer entre 2,5% e 3% neste ano. Portanto, o País está pronto para embarcar em um processo prolongado, tranquilo e sustentável de crescimento. A grande questão é a sustentabilidade da equação fiscal do governo.

Se as reformas avançarem após as eleições o Brasil vai crescer mais?

Se o próximo governo tocar as reformas, o Brasil pode navegar águas de tranquilidade e de crescimento sustentável. Se acertarmos todos os ponteiros nos próximos um ou dois anos, vejo o Brasil embarcando nesse caminho. As peças estão todas quase lá e temos o benefício de um ambiente internacional benigno para poder embarcar em um processo prolongado de crescimento sustentável. Tem reformas importantes que precisam ser tratadas, pois se não forem pode atrapalhar o enredo todo.

Quando as empresas voltarão a investir?

Temos no Brasil uma ociosidade de capacidade muito grande e muitas empresas não têm necessidade de levantar recursos para investir em uma nova fábrica. E aquela que está chegando perto de sua capacidade, olha para frente e vê uma eleição que será definidora de rumos.

Altamiro Silva  e Fernanda Guimarães

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