O economista Delfim Netto, que foi ministro da Fazenda durante o chamado “milagre econômico”, se levantou contra a onda de ataques ao BNDES e defendeu a política de estímulo às exportações do banco.
“É abusivo dizer que o BNDES é uma ‘caixa-preta’ e é erro grave afirmar que deve dar publicidade às minúcias de suas operações, o que, obviamente, revelaria detalhes dos seus clientes que seriam preciosas informações para nossos concorrentes e, portanto, contra o Brasil”, disse ele, no artigo “Exportação de serviços e o complexo de vira-lata”, publicado no jornal Valor Econômico.
Segundo Delfim, os ataques ao BNDES, como o desta terça-feira, no Globo (leia mais aqui), refletem o clássico ‘complexo de vira-latas’ diagnosticado pelo dramaturgo Nelson Rodrigues.
“É lamentável que não se compreenda que os recursos do BNDES-Exim não são remetidos para o país onde se faz o investimento.
São usados como pagamentos em reais no Brasil, para centenas de empresas médias e pequenas, com milhares de operários, que fornecem os produtos ‘exportáveis’, sem serem diretamente exportadoras”, diz Delfim.
Ele diz ainda que o Brasil tem uma posição modesta no financiamento às exportações, quando comparado a seus concorrentes.
“De acordo com informações internacionais confiáveis (‘Engineering News Record’), ainda ocupamos uma participação muito modesta no setor: sete vezes menor do que Espanha, EUA e China e quatro vezes menor do que Alemanha, França e Coreia. Somados, esses competem – com subsídios – por 2/3 de um mercado da ordem de US$ 550 bilhões por ano”, diz ele.
“Não há maior afirmação do ‘complexo de vira-lata’ do que demonizar o suporte do BNDES quando financia despesas em reais que geram produção e emprego no Brasil”, prossegue Delfim.
“E não há maior miopia do que não enxergar que ‘exportar é o que importa'”.