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IPCA tem deflação de 0,23% em junho, a 1ª em 11 anos

Maioria dos alimentos passou a custar menos em junho; as frutas caíram 5,90%.

Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve deflação de 0,23% no mês de junho, a primeira em 11 anos, puxada pelas contas de luz e alimentos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta sexta-feira (7).

O resultado é o mais baixo para um mês de junho desde o início do Plano Real.

A última vez que o índice teve variação negativa foi em junho de 2006, quando a taxa caiu 0,21%. O IPCA nunca foi tão baixo desde agosto de 1998, quando a taxa atingiu -0,51%.

Na história recente do Brasil, constantemente marcada por inflação alta, só houve deflação no IPCA por no máximo três meses seguidos. Isso aconteceu entre julho e setembro de 1998. Entenda o que é deflação e quando ela é um problema.

Segundo economistas ouvidos, o alívio nos preços na economia em junho é reflexo da recessão que freou o consumo dos brasileiros, além de fatores sazonais, que fazem o mês ter taxas historicamente mais baixas.

Menor taxa para o 1º semestre

O primeiro semestre do ano fechou em 1,18%, bem menos do que os 4,42% registrados em igual período de 2016, diz o IBGE. Considerando-se todos os primeiros semestres, é o resultado mais baixo da série histórica.

A coordenadora de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, lembrou que desde janeiro o IPCA apresentava queda. De abril para maio, no entanto, ele subiu de 0,14% para 0,31%.

“A gente precisa lembrar que o resultado de maio teve uma influência pontual, porque já não houve o desconto nas contas de luz aplicados no mês anterior.

Se a gente desconsiderasse as contas de energia em maio, o resultado teria sido de 0,02%. Ou seja, em maio, o caminho da inflação já mostrava uma tendência de redução”, disse.

Acumulado em 12 meses

Nos últimos 12 meses até junho, o índice ficou com variação positiva de 3,00%, abaixo dos 3,60% referentes aos 12 meses imediatamente anteriores, e abaixo da meta central do governo, de 4,5% ao ano.

É a menor taxa para o período desde março de 2007, quando ficou em 2,96%.

Habitação tem a maior queda

Em junho, os três grupos que, juntos, concentram 59% das despesas domésticas, foram os que tiveram as quedas mais intensas: alimentação (-0,50%), habitação (-0,77%) e transporte (-0,52%). “Foram estes três grandes grupos que trouxeram a inflação para -0,23%”, diz Eulina.

Habitação, que tem participação de 15% nos cálculos do IPCA, foi o grupo que teve a maior queda no mês, influenciada pelas contas de luz. Mais barata em 5,52%, a energia exerceu o mais intenso impacto negativo, de -0,20 ponto percentual, segundo o IBGE.

No grupo transportes, houve deflação de 0,52%. Os combustíveis se destacam pela queda de 2,84%, diz o IBGE. O litro da gasolina ficou 2,65% mais barato diante de duas reduções de preços, autorizadas pela Petrobrás, nas refinarias, cujos reflexos nas bombas se concentraram no IPCA do mês.

Queda dos alimentos

No grupo alimentação e bebidas, que domina 26% das despesas das famílias, houve queda de 0,50%, puxada pelos alimentos para consumo em casa, mais baratos em 0,93%.

O IBGE pesquisa 153 itens alimentícios para consumo em domicílio. Destes, 100 tiveram queda nos preços em junho na comparação com o mês anterior. “Isso significa que 65% dos itens pesquisados tiveram queda nos preços. Daí vem a pergunta: o consumidor sentiu?

Ele pode ter sentido [a queda no preço] do tomate, que caiu 19,22%. Mas essa queda que a gente vê nos alimentos não significa que ele voltou ao preço de antes”, ponderou Eulina.

Apesar do feijão-carioca ter exercido o maior impacto no IPCA do mês, com a subida brusca de 25,86% em seus preços, a maioria dos alimentos passou a custar menos de maio para junho, como o tomate (-19,22%), a batata-inglesa (-6,17%) e as frutas (-5,90%).

Embora essa queda de 0,56% ter bastante influência no índice, ela é pequena para que o consumidor sinta no bolso. O que se sente é que a situação não ficou ainda pior

Houve queda nas 13 regiões pesquisadas. Nos últimos 12 meses, a queda no país para este grupo de consumo é de 0,56%. Questionada se o brasileiro sente essa queda nos alimentos, Eulina ponderou que depende se ele teve aumento ou não na renda.

“Embora essa queda de 0,56% ter bastante influência na composição do índice, ela é pequena para que o consumidor sinta no bolso. O que se sente é que a situação não ficou ainda pior”, apontou.

A pesquisadora destacou ainda que a demanda no consumo de alimentos segue impactada pela crise econômica, considerando o desemprego e a perda de rende. Isso tem reflexo direto na inflação.

“A gente está vendo de fato uma safra super recorde de alimentos, mas a demanda está bastante deprimida. Além disso, tem algumas medidas de conjuntura que estão sendo aplicadas [pelo governo] que contribuem para esse resultado da inflação, como a queda da taxa de juros [Selic]”, explicou.

Perspectiva para julho

Para a composição do índice de julho, o IBGE aponta que ele sofrerá influência do reajuste das taxas de agua e esgoto que tiveram reajuste em Porto Alegre (4,5%), em Fortaleza (12,90%) e Salvador (8,80%).

Também houve reajuste nas tarifas de energia elétrica em Porto Alegre (5,84%), São Paulo (5,57%) e Curitiba 7,09%.

Além disso, em todo o país, a bandeira deixa de ser verde e passa a ser amarela. Outro reajuste a nível nacional que vai impactar no índice é o aplicado no transporte interestadual de 9%.

O cálculo do IPCA leva em conta os preços de pagamentos à vista no comércio, nos aluguéis e compras de imóveis, nos serviços públicos e no setor de serviços nas principais cidades brasileiras.

O IBGE coleta informações de famílias com renda mensal entre 1 e 40 salários mínimos.

Daniel Silveira e Taís Laporta

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