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J.R. Guzzo: Temer é mal avaliado, mas a economia está em alta

Fora, Nero: pelas pesquisas, a impopularidade de Michel Temer só deve perder para a do imperador que mandou incendiar Roma | bildagentur-online/uig/getty images /

É uma coisa curiosa, entre as muitas particularidades que fazem do Brasil atual um dos países mais curiosos do mundo. O presidente Michel Temer tem os índices de popularidade ou de aprovação mais baixos desde que o imperador Nero mandou tocar fogo em Roma; segundo afirmam os institutos de pesquisa, nenhum outro governante foi tão ruim quanto Temer em toda a história da humanidade. Se não fizer com urgência alguma coisa extraordinária, que ninguém sabe o que poderia ser, vai acabar daqui a pouco com índice zero, ou menos ainda, caso os pesquisadores nos revelem que isso é matematicamente aceitável.

Mas o barômetro da economia real, que raramente parece prestar atenção ao que dizem nossos comunicadores, cientistas sociais e formadores de opinião, mostra exatamente o contrário: quanto pior a avaliação do presidente da República, mais a coluna de mercúrio sobe em seu governo. Como assim? O barômetro, pelo que se diz, tinha de estar em plena baixa, indicando tempestade à frente.

Mas está em plena alta, indicando calmaria — praticamente todos os índices de medição apresentam dados positivos e, se nenhum deles garante um futuro de vinho e de rosas, também é certo que não prenunciam nenhum desastre. Nada que se possa comparar, nem de longe, com o finado governo da ex-presidente Dilma Rousseff — e basta isso para produzir uma intensa sensação de alívio em toda a economia brasileira, ou na economia de qualquer país do mundo. A comprovação é dada, repetidamente, pelo estado de espírito do mercado. A cada sinal de “ameaça” à sobrevivência do governo, o dólar sobe, a bolsa desce e a confiança despenca. A cada sinal de que não vai acontecer nada, e de que Temer deve ficar na Presidência até o fim de seu mandato, o dólar cai, a bolsa sobe e a confiança aumenta.

Na verdade, o mercado praticamente já desistiu de levar a sério os esforços cada vez mais grotescos para o “processo” e a “cassação de Temer”. O barômetro mal se mexe, para cima ou para baixo, quando vem a público alguma notícia sobre o assunto — é como se tudo fizesse parte de um mundo imaginário, que só existe em Brasília e nos meios de comunicação, e portanto não merece a atenção de quem tem a vida para ganhar.

Ainda outro dia, por exemplo, o relator do processo na Câmara dos Deputados deu parecer contrário ao prosseguimento da comédia. O mercado deveria subir com mais esse sinal de “Fica Temer”, mas nem ligou para a notícia — já sabe que toda essa história tem um claríssimo viés de “nada”. Ao mesmo tempo, a circulação, no pântano da internet, de relatos sobre problemas de saúde do presidente, fez o mercado dar uma travada — voltou a reagir bem, automaticamente, assim que a história morreu.

Enfim: se há demonstrações de que o governo Temer vai continuar, com toda sua inépcia e seu mau nome na praça, o ambiente econômico melhora; se há demonstrações em contrário, o ambiente piora. O resto é conversa de analista em programa de televisão.

Se o governo Temer é tão ruim e o presidente da República tão malvisto, por que, então, o Brasil não desaba? Por que as coisas não estão indo de mal a pior? Porque, muito simplesmente, o governo não é tão ruim quanto se diz, nem o público é tão hostil como os institutos de pesquisa nos dizem — o mais provável é que seja apenas indiferente, preocupado como está com o próprio emprego, suas contas e sua sobrevivência.

Será muito difícil, ou talvez impossível, juntar meia dúzia de brasileiros (entre os que trabalham, naturalmente) dispostos a ouvir a mídia, os intelectuais e os artistas da TV Globo e sair pela rua gritando “Fora Temer”. É natural. O país está praticamente sem inflação, com juros caindo e livre da recessão sem precedentes na qual foi enfiado pelo governo anterior. As exportações batem recordes, há bons resultados em diversos setores da indústria e perspectivas de mais investimento, mais emprego e mais arrecadação. As realidades reagem mais rápido a esses fatos do que os observadores do mundo.

 J.R. Guzzo

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