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O Brasil assiste inerte sua economia desabar

Não é preciso adivinhar para entender o que vai se passar em nosso país agora que todos os epidemiologistas concordam que estamos entrando para o terrível clube da disseminação comunitária – isto é, não mais para casos que vêm de fora – do coronavírus.

Espontânea ou ordenada, a redução da circulação de pessoas e a natural tendência ao auto-isolamento vai impelir, depois de um primeiro instante de preocupação, para quem pode, de estocar produtos, a uma queda acentuada no comércio e nos serviços.

Daí para a redução das encomendas à indústria e, afinal, um declínio de uma atividade econômica que não ia muito bem das pernas.

O que um governo responsável deveria estar desenhando agora?

Em primeiro lugar, já que não interferiu no momento certo, ainda em janeiro, para conter a corrida ao dólar – ao, contrário, afagou o mercado com uma imprudente nova redução dos juros – não seguir na queima diária de reservas inútil diante de um cenário absolutamente irracional e dominado pela especulação.

Ao contrário, deveria estar mobilizando uma parte prudente delas para a constituição de um fundo para financiar projetos intensivos em mão de obra a juros nulos, ou quase.

Porque o desemprego crescerá, em razão da redução das atividades por meses. Se não há muito o que fazer com os 40% dos trabalhadores que são “informais”, é preciso segurar o que há formalizado, em relação aos quais sempre é possível ter alguma flexibilidade com férias, bancos de horas e acordos trabalhistas.

Linhas de crédito de curto-médio prazos do Banco do Brasil, da Caixa e do BNDES, com condições especialíssimas, mas vinculadas à manutenção do emprego formal deveriam estar sendo articuladas.

Obras públicas paralisadas poderiam ser retomadas ainda que com repercussão em um déficit fiscal que, a esta altura, não tem sentido ficar evitando, pois virá maior com a queda da atividade econômica.

Reformas, operações políticas complicadas, polêmicas e eventualmente traumáticas deveriam ter uma moratória para não se transformarem em pontos de desentendimento político.

Se não temos o trilhão e meio de dólares que o Federal Reserve anunciou estar despejando hoje no mercado, temos algumas de dezenas de bilhões de reais que poderiam ser lançados para reaquecer o inverno econômico que se aproxima.

Mas o nosso presidente está preocupado em estimular o turismo de mergulhadores e em abrir um cassino em Angra dos Reis.

E o Paulo Guedes, então, não está preocupado com nada, pois segue tranquilo enquanto sobem as labaredas.

Fernando Brito

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