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Alunas da rede pública desenvolvem telha sustentável

Gabriel Pozzi

Duas estudantes do ensino médio da rede pública de Limeira (SP) desenvolveram um protótipo de telha a partir do bagaço da laranja. O material atende a todos os parâmetros e normas de segurança e custa cerca de metade do preço de uma telha tradicional. O projeto foi tão bem aceito que elas vão ser premiadas em um evento na Espanha.

Larissa de Souza Galvão e Mariana Oliveira da Costa e Silva começaram o projeto quando tinham 15 anos, no segundo ano do ensino médio. Agora, com 16 anos e um ano e meio após o início da pesquisa, chegaram ao produto final: uma telha produzida a partir do bagaço da laranja com resina de mamona.

As duas estudam na Escola Estadual Professor Gabriel Pozzi e atualmente cursam o terceiro ano. A unidade conta com ensino integral e aulas práticas em laboratórios para incentivar os estudantes a desenvolverem projetos na área científica.
Larissa e Mariana precisavam desenvolver uma ideia para ser apresentada na feira de ciências da escola. Inicialmente, o grupo era de quatro pessoas. “Tinha um projeto de etanol a partir do suco da laranja. Eles descartavam o bagaço e nós queríamos reaproveitar, então pensamos na telha”, contou Larissa.

Primeiro, o grupo desenvolveu um protótipo na própria escola para ser apresentado na feira. “Acabou não dando certo e como a gente queria apresentar na Feira de Ciências das Escolas Estaduais de São Paulo (FeCEESP), a gente precisava de uma melhor metodologia, então buscamos parcerias”, contou.
As duas buscaram ajuda de um pesquisador de uma empresa da cidade, que cedeu o bagaço da laranja para a utilização nas experiências, e de um doutorando em arquitetura e urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), campus São Carlos (SP), Victor Baldan.

“Eu sou amigo da coordenadora da escola onde elas estudam. Meu trabalho de mestrado na época foi para desenvolver materiais para construção civil a partir da reciclagem de plástico misturando com resina de mamona”, explicou Baldan.

Ele contou ainda que o projeto inicial delas não estava dando certo por conta de misturarem o bagaço com cimento e argila. “Eu sugeri de misturar o resíduo triturado com a resina de mamona para ver se dava certo”, contou.
Baldan levou o experimento para o campus da USP em São Carlos e conseguiu fazer a mistura no formato da telha. Depois dos testes necessários, a equipe descobriu que a ideia deu muito certo.

O orientador das duas no projeto e professor de física da escola, José Raimundo Gaioso de Oliveira, explicou que a telha atende a todos os parâmetros das normas para ir ao mercado e que deve custar bem menos do que uma telha tradicional, apesar do valor ainda estar em estudo.
Baldan contou que apesar de ter feito a parte prática do projeto, Larissa e Mariana são muito aplicadas. “Elas são bem esforçadas e preocupadas. Elas querem entender o que acontece. Essa vontade e preocupação é o que mais importa”, contou.

Agora, eles entraram com pedido de patente para depois tentar inserir o produto no mercado. Inicialmente, a telha é voltada para a construção de casas populares e para pessoas que constroem a própria casa.

“Pode ficar de R$ 1 a R$ 2, mas dependendo da quantidade que é fabricada pode ficar até mais barato. Uma telha comum custa de R$ 3,50 a R$ 4”, comparou.

A estimativa do pesquisador é que em cerca de cinco anos o produto esteja disponível no mercado. “É um processo demorado e burocrático”, explicou.

Para produzir a telha, Baldan explicou que o processo começa com a secagem do bagaço da laranja. Ele é colocado em uma estufa, onde fica durante uma noite a uma temperatura de 100ºC a 110ºC.
Depois de seco, ele é triturado e moído, para então ser transferido para uma fôrma, onde é misturado com a resina de mamona. Então o material sofre um esforço de compressão de cinco toneladas por cerca de cinco minutos.
Para secar o material depois de pronto, a telha é levada para uma prensa térmica por 15 minutos a uma temperatura média de 50ºC. Depois é só desenformar e está pronta. A parte mais demorada do processo é a secagem do bagaço antes de triturar.

Mariana contou  que no início, quando o projeto ainda estava no papel, a ideia era conseguir participar da FeCEESP. “Mas agora a expectativa está bem maior porque a gente passou para ir para a Espanha”, comemorou.

“A gente até esperava porque a gente se inscreveu, mas não pensávamos que podia ser assim, tão rápido”, disse Mariana.

As duas vão participar e ser premiadas da 19ª Exporecerca Jove 2018. Elas foram contempladas com um subsídio para ir até a Espanha e participar do evento entre 22 e 24 de março. “Pegou a gente de surpresa, mas estamos preparadas”, afirmou Mariana. Já Larissa disse que era algo impensável.
“Está demorando a cair a ficha porque é algo muito grande. É algo surreal”, disse.

“Estamos extasiadas porque foi algo que não passava pela nossa cabeça. É uma felicidade enorme porque a gente está representando a escola”, contou. “Acho que nós sairmos para representar o Brasil é algo que vai inspirar muitas outras pessoas a dar valor ao seu projeto”, completou.

Carol Giantomaso

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