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Brasil entre os piores em novo estudo da OCDE

Talento combinado a atitudes mais colaborativas pode levar a resultados espetaculares. (Timothy Fadek / New York Times/VEJA)

A OCDE acaba de divulgar os dados preliminares de um primeiro estudo internacional a respeito de “habilidades sociais”. O relatório é intitulado Pisa 2015 Results (Vol V) – Collaborative Problem Solving. Neste post, nos limitamos a procurar entender a que conclusões preliminares o relatório chegou. Em outro, vamos procurar entender como o estudo foi realizado.

O objetivo do teste era medir as habilidades e atitudes dos jovens em relação à colaboração com colegas na resolução de problemas.

Os resultados divulgados até aqui são plenamente previsíveis. Melhores alunos têm mais facilidade para colaborar. Isso é óbvio por três razões: esses alunos têm mais o que oferecer, dispõem de mais habilidades para gerenciar e interpretar informações, raciocinam melhor e sabem resolver melhor os problemas que se apresentam. Ou seja: são os que mais podem ganhar e têm pouco a perder em situações de grupo. Não foi surpresa o Brasil ter ficado entre os piores – se os alunos não têm o que trocar, as oportunidades para troca não se constituem bons momentos para aprender.

As marcas culturais são fortes: apenas 28% dos alunos dos países da OCDE resolvem problemas colaborativos simples, contra mais de 85% dos alunos de países predominantemente asiáticos como Hong Kong, Japão, Macao e Cingapura  – além da Estônia.

Outro resultado esperado: mulheres tendem a colaborar mais do que homens, mesmo quando não têm habilidades cognitivas tão elevadas.

Resultados menos previsíveis: em alguns países, os jovens se saem melhor em tarefas colaborativas do que seria de se esperar com base em suas notas. Neste grupo, encontram-se tanto países fortemente ocidentais como Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos quanto tradicionais como Japão e Coréia do Sul.

Fatores contextuais podem contribuir para o desenvolvimento dessas habilidades. Por exemplo, alunos expostos a um grupo mais heterogêneo de colegas – como imigrantes, por exemplo – respondem melhor ao teste de tarefas colaborativas do que os menos expostos à diversidade.

Da mesma forma, alunos envolvidos em atividades esportivas ou que se engajam em redes sociais fora da escola demonstram capacidade um pouco maior para tarefas colaborativas. Já os aficionados que se isolam nas redes sociais têm resultados piores.

O que há de novo em tudo isso? Trata-se de estudos preliminares que usam metodologias indiretas para investigar um tópico de enorme interesse. E os resultados iniciais tentem a confirmar o óbvio: inteligência, fatores culturais e sexo estão associados a uma maior propensão a realizar esse tipo de atividade mais colaborativa.

Um outro relatório recente, da Consultoria McKinsey, que também usou dados do Pisa, mostra que as classes em que o professor conduziu o ensino na maior parte do tempo – e as atividades práticas eram realizadas em momentos específicos, com orientação segura – se saem melhor do que as classes com poucas aulas expositivas e muitas atividades em grupo. O grupo funciona melhor quando recebe orientações claras sobre o que fazer e está preparado para realizá-las.

Ou seja, bons alunos se beneficiam de bons professores e de bom ensino, e podem até mesmo se beneficiar da interação com colegas menos brilhantes, em um contexto focado na aprendizagem. Alunos menos brilhantes podem usar suas habilidades sociais para se beneficiar de atividades realizadas juntamente com os colegas mais bem preparados.

Tanto o talento quanto o esforço individual e conjunto levam a bons resultados. Quando combinados, podem levar a resultados espetaculares.

 João Batista Oliveira

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