Tempo - Tutiempo.net

O que esperar para a educação brasileira em 2018

O que esperar para a educação brasileira em 2018

No que se refere às formas de ensinar, em 2018 o foco estará em como avançar na implementação das metodologias ativas, que são realidade em instituições de ponta dos EUA, Ásia e Europa. Nelas, os estudantes assumem um papel mais efetivo na gestão da própria aprendizagem. Fazem tarefas antes de cada lição e encontram-se com o professor para receber orientação em atividades mais sofisticadas, como estudos de casos e dinâmicas que requerem o domínio de conhecimentos prévios. O processo é personalizado, interativo e motivador. Em geral, resulta em melhor desempenho acadêmico. Quem mantiver somente as aulas tradicionais vai gastar mais tempo para ensinar e aprender as mesmas coisas, e acabará ficando para trás.

Nas políticas educacionais voltadas para o ensino fundamental, o esforço visará à implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Isso dependerá das redes estaduais e municipais, como também do engajamento das escolas para adaptar a BNCC à realidade local. Um dos pontos mais críticos é a meta de alfabetizar as crianças em dois anos, o que requer uma revisão da didática, professores qualificados, o envolvimento das famílias e ações sociais de suporte.

Para o ensino médio, o maior gargalo da educação brasileira, quase nada foi feito na última década. O resultado aparece nas taxas alarmantes de abandono escolar. Dos 51,6 milhões de brasileiros entre 14 e 29 anos de idade, quase metade não completou a formação (IBGE, 2017). É o retrato de um sistema que perde os jovens: um dia eles chegaram a estar na sala de aula, mas não voltam mais.

Como resposta a esse desafio surgiu a proposta do “novo ensino médio”, sancionado no início de 2017; mas ele depende da base curricular comum para esta etapa da formação (que ainda está em discussão) e só atingirá as escolas em 2021. Há muito caminho pela frente, ainda mais considerando a infeliz tradição de descontinuar políticas educacionais a cada mudança de governo. Como vemos, tanto no ensino fundamental como no ensino médio, o rumos da educação ainda são incertos.

No ensino superior, também não se pode falar de uma política definida. A situação das universidades públicas está à beira do colapso. Não há recursos para o funcionamento diário, as bolsas de pós-graduação estão ameaçadas, o investimento em laboratórios, pesquisa e inovação cessaram e, em algumas instituições, os docentes estão sem receber salário. Um caso emblemático é o da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), onde a mistura de redução orçamentária, má gestão e corrupção levou à suspensão de atividades por total falta de condições.

Enquanto isso, no setor privado, os grandes grupos alcançam as maiores arrecadações da história, avolumadas também pelo crescimento da educação à distância. As fusões continuam, num mercado ainda pulverizado. Deveria ganhar importância, na pauta deste ano, a necessidade de avaliações mais severas, tanto das instituições como dos graduandos – afinal, nem todas as faculdades trabalham com o rigor que a formação de um profissional requer.

Um cenário de tantas incertezas ainda será atravessado pelas eleições do segundo semestre. No discurso dos candidatos, como sempre, não faltarão promessas de investir na educação e valorizar os professores. Resta fazer as escolhas corretas para que este possa ser o ano em que, finalmente, comecemos a realizar um sonho ainda tão distante dos brasileiros: o de uma escola pública de qualidade, que acolha todas as crianças e as ajude a recuperar a esperança.

Andrea Ramal

OUTRAS NOTÍCIAS