Tempo - Tutiempo.net

99% belga, aquele 1% francês

Hazard tem a missão de provar que essa geração da seleção belga é vencedora

O camisa 10 que vai tentar levar a Bélgica à sua primeira final de Copa do Mundo na história terá de passar pelo país que o acolheu logo cedo e o revelou para o futebol. Se Eden Hazard é hoje o capitão e principal ícone da grande geração belga, muito se deve à França, adversária desta terça-feira, às 15h (de Brasília), em São Petersburgo.

A relação com o adversário é antiga, vem desde a infância, e envolve Zidane, a camisa da seleção e até uma tentativa dos franceses em fazer o garoto defender a equipe nacional.

Por causa da minha presença na França durante sete anos, sinto-me 99% belga e 1% francês – disse Hazard, antes da Copa.

Mas, a ideia de uma nacionalidade francesa nunca passou pela minha cabeça. Sempre recordo com carinho e afeto meus anos vividos ali, mas eu queria jogar pela Bélgica, e por sorte pude cumprir isso – completou.

Como tudo começou?

Nascido na pequena La Louvière, interior da Bélgica, Eden chamou a atenção desde cedo. Quando foi jogar no Tubize, ainda criança, passou a ser monitorado por profissionais do Anderlecht e do Lille. A decisão foi tomada por Thierry e Carine, pais de Hazard e ex-jogadores de futebol: a França ofereceria melhores condições de desenvolvimento ao garoto.

Aos 14 anos, em 2005, Eden mudou de país com a família – incluindo os irmãos Thorgan, Kylian e Ethan, todos mais novos e também jogadores.

– Eles continuaram perto de casa e, ao mesmo tempo, integrados a estruturas onde poderiam crescer. Na Bélgica, infelizmente, há pouca oferta de treinamentos aos jovens – disse Thierry Hazard, o pai da família, em entrevista recente ao jornal francês La Voix des Sports.

Em Lille, Eden e os irmãos intensificaram uma relação com a França que já vinha desde a infância.

Confundindo os colegas

Zinedine Zidane foi o maior espelho de Hazard, num tempo em que não havia uma geração belga capaz de atrair os torcedores do próprio país. A localização de La Louvière, a apenas 80 quilômetros da fronteira com a França, ajudou nessa influência.

Quando chegou ao Lille, então, a França não era nada estranha aos garotos da família. A ponto de os primeiros companheiros de clube sequer desconfiarem que Eden era, na verdade, um belga.

– Eu pensei que ele fosse francês. E, de fato, eu descobri que ele era belga quando disse “nonante” (noventa) – disse Yannis Salibur, meia do Guingamp e amigo de Hazard, em entrevista ao jornal L’Équipe.

Foram dois anos na base do Lille até a estreia no profissional, em 24 de novembro de 2007, contra o Nancy. Na mesma época, Thorgan, que também está na Copa, foi treinar no Lens (e não no Lille) para evitar comparações com o irmão dois anos mais velho.

Daí em diante, ascensão meteórica. Deixou o número 33, passou para o 26 e assumiu a camisa 10 depois da temporada 2010/11, quando o Lille foi campeão nacional e também da Copa da França. Em 2011/12, consolidou-se como craque, conquistou o prêmio de jogador do ano no país e se despediu com um hat-trick contra o mesmo Nancy de sua estreia, numa goleada por 4 a 1.

Até quem hoje é adversário já vibrou com Hazard nos gramados franceses. Quem conta é o lateral Pavard, também revelado pelo Lille:

– Quando ele (Hazard) jogou no Lille, eu ainda estava nas tribunas. Vi seus treinamentos abertos ao público. Sabemos todos que é um grande jogador, de enorme qualidade. Joguei com seu irmão também, Kylian. Não sei muito mais que isso, mas sei que ele é um grande jogador.

Em junho de 2012, Hazard foi negociado com o Chelsea, mas jamais se esqueceu das raízes. Em Lille, continua sendo venerado e tem seu rosto estampado em forma de arte pelos muros da cidade. Por lá, ele só será esquecido por 90 (ou 120) minutos:

– Ele é a nossa estrela. Nós o amamos, nós o forjamos, ele foi ensinado a brilhar. Mas amanhã, gostaríamos que ele parasse de brilhar pelo tempo de um jogo. O tempo de França x Bélgica – escreveu o Lille no Twitter.

Diego Ribeiro

OUTRAS NOTÍCIAS