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Brasileiro chega à Coreia do Sul entre os 21 melhores do mundo

Getty Images

Esqueça as risadas. Não é mais brincadeira. Quando pisamos no gelo, ninguém mais fala de Jamaica Abaixo de Zero”.

Os “blue birds” agora são respeitados. Líder do bobsled brasileiro, Edson Bindilatti chega à sua quarta Olimpíada de Inverno e viveu de tudo na caminhada entre Salt Lake City 2002 e PyeongChang 2018.

Lá atrás, nos Estados Unidos, viu o Brasil ser ridicularizado, e por mais dois Jogos Olímpicos pilotou entre os últimos colocados.

Na Coreia do Sul, garante, será diferente. Depois de classificar o país entre os 21 melhores trenós do mundo e conquistar uma das etapas da Copa América, ninguém duvida disso.

Em franca evolução desde Sochi 2014, a equipe deixou países gelados para trás e quer fazer história na pista do Alpensia Sliding Centre. Na noite desta sexta-feira, às 22h no horário de Brasília, o 4-man do país tenta a melhor classificação da história na modalidade.

“Não tem mais brincadeira. Hoje o Brasil é respeitado. Não somos brincadeira. Somos realidade”

A trajetória de Bindilatti é o exemplo maior dessa transformação.

Baiano de Camamu, ele foi campeão brasileiro de decatlo em 1999. Entrou no bobsled após convite de Eric Maleson, que pilotou o trenó brasileiro em Salt Lake City 2002, quando Edson foi pusher.

Ficaram com o 27º lugar entre 34 competidores. Até ali, ele ainda dividia o esporte com o atletismo, mas não se classificou para Atenas 2004 e decidiu ficar nos esportes de inverno e virar treinador de salto com vara.

Fez parte da equipe que preparou nomes como Fabiana Murrer e Thiago Braz. Na Olimpíada de Inverno de Turim 2006, ainda convivia com dificuldades no bobsled.

O trenó brasileiro chegou atrasado e eles não treinaram na pista antes da prova. Além disso, o companheiro Armando dos Santos foi flagrado no doping. Mesmo assim, conseguiu um 25º lugar.

Quatro anos mais tarde, a CBDG se viu mergulhada em um escândalo financeiro e de gestão com Eric Maleson como presidente, e o Brasil, sem verba, não se classificou para Vancouver 2010.

Em 2014, em Sochi, o Brasil ficou em 26º lugar entre 30 trenós e novamente desceu a pista sem nunca ter treinado ali. Além disso, o trenó era de segunda mão, comprado da equipe de Mônaco.

Daí em diante, tudo mudou. O Brasil teve uma evolução assustadora para os padrões internacionais.

Para chegar a isso, a seleção teve parcerias com técnicas britânicas e agora tem com o time americano, um dos mais fortes do mundo.

A Confederação Brasileira de Desportos no Gelo investiu na construção de uma pista de push e no último ano uma parceria com o Núcleo de Alto Rendimento de São Paulo fez com que o grupo ganhasse quase 20kg de massa magra, além de evoluir tecnicamente.

Os resultados foram vistos na classificação olímpica. O Brasil chegou a ser 15º do ranking e fechou a classificação em 21º, resultado inédito para o país.

Na Coreia, é quase imposível falar em medalha, mas levando em conta o investimento de países como a Letônia e a Alemanha, o Brasil anda colado nas principais potências e pode subir ainda mais degraus na Coreia do Sul.

O objetivo é colocar os “blue birds” entre os 20 melhores, o que garantiria uma quarta descida para o carro nacional.

A equipe comandada pelo piloto Edson Bindilatti, de 38 anos, ainda tem Edson Martins e Odirlei Pessoni como pushers e Rafael Souza como break. Erick Vianna é o reserva. Para o presidente da CBDG, Matheus Figueiredo, já foi mais complicado fazer esporte de inverno no Brasil.

Agora temos uma estrutura interessante e conhecimento. Eram barreiras que tínhamos que romper. Esse ciclo deixa um legado. Adquirimos isso nos últimos quatro anos e isso nos levou a ficar entre os 15 melhores times do mundo”

No começo do bobsled, o time brasileiro tinha um trenó nas cores verde, amarelo e azul. Ganharam o apelido de “Frozen Bananas”. Os acidentes eram comuns e as piadas também. Mas isso mudou.

Os atletas e a confederação decidiram desde Sochi por trenós azuis, sóbrios. O amadorismo ficou para trás. Quem acompanhou isso de perto foi o preparador físico José Moraes, trazido por Edson e ex-coordenador de preparação física do rugby brasileiro.

Ele acompanha os atletas também na parte técnica e foi um dos responsáveis por essa mudança no corpo do time brasileiro.

  Thierry Gozzer

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