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Conheça a Urca do Minhoto: a onda havaiana da costa brasileira

Conheça a Urca do Minhoto: a onda havaiana a 29 km da costa brasileira

Uma onda que mistura Havaí com Indonésia”. Esta foi a definição da ex-surfista profissional Michaela Fregonese para um fenômeno que aconteceu no último fim de semana a cerca de 29km da costa do Rio Grande do Norte. Até então pouco explorada pelos principais surfistas do país, o local chamado Urca do Minhoto promete se tornar o novo point das ondas gigantes brasileiras. Alinhado com as condições de vento ideais, o swell reservou ondas perfeitas de 10 a 12 pés (cerca de 4m de altura) e atraiu nomes conhecidos do surfe nacional como Pedro Calado, Felipe “Gordo” Cesarano, Marquinhos Monteiro e Ademir Calunga.

Michaela Fregonese revelou que não conhecia a onda e que foi a maior experiência no Brasil. Ela foi a única mulher a surfar, feito até então inédito no pico.

 Não conhecia a onda e, como falaram que era grande, levei a minha maior prancha. Para não ficar no local mais cheio, me posicionei mais para dentro da onda. Quando surgiu a maior onda do dia, todos gritaram para eu pegar. Consegui dropar no fim. Em termos de Brasil, foi a minha maior experiência. Jaws (Havaí) é maior, mais potente, mas a Urca não perde nada em termos de qualidade. Eu diria que nós descobrimos uma onda que uma mistura de Havaí com Indonésia – disse Michaela.

– A onda é a melhor do Brasil, apesar de não ser a maior. Estava monitorando esse pico há três anos. É um pico extremo, fora da costa e difícil de surfar por causa do vento. Dizem que é um dos lugares que mais venta no mundo. No fim de semana, o vento deu uma baixada e o swell veio. Nesse dia tudo se encaixou, e o mar estava perfeito – comentou Pedro Calado, um dos maiores big riders do país.

Ao todo, 30 pessoas estiveram na Urca do Minhoto. A expedição para a gravação de um especial para o “Canal Off” reuniu cerca de 20 surfistas e foi liderada pelo local Armando Diniz e pela Marcolini Filmes. Mas a chegada ao pico não foi nada fácil. O grupo aproveitou o swell das 5h às 11h30. Eles se reuniram na madrugada na marina de Galinhos, cidade mais próxima da urca. Por volta de 2h da madrugada, seis barcos recheados de surfistas tomaram o rumo da laje. Após três horas de viagem, o grupo finalmente chegou ao local.

– É um lugar bem selvagem e pouco frequentado. Mesmo porque tem 32 urcas na região, então fica difícil achar. Contamos com o apoio dos locais para chegar lá, então deu tudo certo. Vou ficar em cima para ver se volto para lá de novo – completou Calado.

Recém-chegado do Havaí, onde surfou mares gigantes como Jaws, Felipe Cesarano, o “Gordo”, ficou impressionado com a força da onda e animado pra voltar, mas com auxílio do jet ski.

– Visualmente quando a gente chegou, viu dos barcos, o jeito que a onda quebrou lembrou muito Jaws (pico na ilha de Maui). Mas a onda em si não tem nada a ver não. É uma onda que demora para vir a série, então destoa muito né, porque você fica pegando as ondas menores e não parece nada demais. Mas quando vem a série na maré certa é uma bomba, um tubão buraco – contou.

– Estou recém-chegado do Havaí, peguei Jaws gigante esse ano e surfei bem. Lá na remada, me arrasei. Entrei com uma 6.6, arrebentei o strep duas vezes, tomei três vacas e depois troquei para uma 8.4. Peguei umas ondas, mas nada demais. Só quando peguei o tow in que consegui pegar onda boa. O que ficou na nossa cabeça é que da próxima vez a gente vai direto fazer tow in porque a boa mesmo é difícil de remar – disse o “Gordo”.

O filmaker Gustavo Marcolini ficou impressionado com a “qualidade internacional” da onda.

– É umas das ondas mais perfeitas que eu ja filmei no mundo. O Brasil tem uma onda internacional, mas a logística é bem complicada. Não é qualquer hora que essa onda quebra como quebrou. Foi um momento raro e histórico do surfe brasileiro – disse.

Pico descoberto na década de 80 após dica de mergulhador

A Urca do Minhoto foi descoberta oficialmente no fim dos anos 80 por Armando Diniz, surfista local de Natal, após dicas de um mergulhador que na época trabalhava na plataforma da Petrobrás. Hoje, aos 56 anos, Diniz lembra como se fosse hoje da primeira conversa sobre a onda.

 O Ivo, um mergulhador casca-grossa, me encontrou certa vez e disse que tinha uma onda em alto mar e que valia a pena tentar surfar lá. Que era perto da plataforma e tal. Naquela época, chamei alguns amigos e fomos desbravar o local mas as condições não estavam tão perfeitas como no último fim de semana – lembra, acrescentando que a onda também é conhecida por pescadores como “O Roncador”.

 Os pescadores falavam comigo: “A onda ronca”. Cabe um barco lá dentro – risos.

Segundo Diniz, as urcas são lajes submersas que cercam o Brasil e formam um grande cinturão. Em alguns lugares, a areia acaba invadindo a pedra e o que diferencia mesmo é a questão do vento. Quando venta na direção certa, a areia deixa as pedras e se transforma an condição clássica para quebrar as ondas.

– Ali, quem manda é o vento. Naquele dia o universo conspirou. Foi histórico – afirma Diniz, em êxtase.

A água do pico é considerada uma das mais claras do mundo e perfeita para o mergulho. As cidades mais próximas do point são Galinhos e Guamaré, na microrregião de Macau. Somadas, a população das duas cidades não passa de 17 mil habitantes, o que torna a aventura ainda mais selvagem. Até o momento, Laje da Jaguaruna, em Santa Catarina, tem a fama de maior onda do país.

Tricampeão mundial de Windsurf, Kauli Seadi estava no pico e também se jogou nas bombas de SUP.
 Flávio Dilascio e Marcio Moreira

 

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