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No Esporte, Bolsonaro nomeia general envolvido em licitação fraudulenta

Mais um coronel.

Marco Aurélio Costa Vieira terá pela frente o duro desafio de transformar o que era o Ministério do Esporte em uma secretaria, subordinada ao Ministério da Cidadania chefiado por Osmar Terra.

Formado na Escola de Educação Física do Exército, Marco Aurelio é atualmente general de reserva e tem ligação com pessoas importantes do futuro governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Neste, inclusive, já trabalha na equipe de transição.

Não é a primeira vez que um ex-militar assume um alto cargo no esporte brasileiro. Sylvio de Magalhães Padilha (1909-2002) foi presidente do COB de 1963 a 1988.

O Ministério do Esporte foi criado em 1995 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, com status de extraordinário. Antes disso, foram diversas secretarias (a primeira em 1937) que controlaram a pasta no Estado brasileiro, quase sempre subordinadas ao Ministério da Educação.

Em 1998, torna-se Ministério do Esporte e Turismo e, em janeiro de 2003, o ex-presidente Lula separa as duas pastas.

Marco Aurelio cursou Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) na mesma época que o vice-presidente eleito, o general Hamilton Mourão.

Assim como o futuro ministro do Gabinete de Segurança Institucional e conselheiro de Bolsonaro, general Heleno, Marco Aurelio também é “calção preto”, jargão militar para aqueles formados na Escola de Educação Física do Exército Brasileiro.

Foi Heleno quem, em 2012, o indicou para o cargo de diretor-executivo de operações dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, quando trabalhou como subordinado de Carlos Arthur Nuzman, ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB).

Nuzman foi afastado das atividades esportivas em 2017, após ser acusado de comandar um esquema de compra de votos no Comitê Olímpico Internacional para que o Rio fosse escolhido como cidade-sede dos Jogos de 2016. Hoje, responde em liberdade.

Marco Aurelio é descrito por pessoas que estiveram com ele nessa época como alguém que trabalha bem em equipe, tem muito conhecimento técnico e que conhece as burocracias estatais. É extremamente metódico, além de ser qualificado por todos como de fácil relacionamento.

Apesar de ter entrado em um cargo de grande destaque e diversas atribuições (como cuidar da relação com comitês, das instalações, cerimônias, serviços, transporte, segurança e tecnologia, dentre outros), foi pouco a pouco perdendo espaço dentro da organização dos Jogos e acabou como responsável pelo revezamento da tocha olímpica.

Alguns atribuem a queda de Marco Aurelio justamente a sua maneira extremamente burocrática, ordenada e metódica, o que teria feito com que seu ritmo de trabalho fosse mais lento que o necessário à época. Outros, no entanto, dizem que foi uma escolha pessoal de Nuzman.

Para o sucesso da logística e da segurança de todo o trajeto da tocha olímpica pelo Brasil, foi importante a boa relação do general com os setores do Exército em todas as regiões do país, sobretudo na região Norte. Foram mais de 20 mil quilômetros percorridos, com cerca de 12 mil pessoas participando do revezamento.

Alguns contratempos, porém, marcaram o trajeto da tocha, como a passagem pela cidade de Angra dos Reis (RJ), quando a carreata teve seu trajeto interrompido por protestos, precisou cancelar eventos e a tocha foi, inclusive, apagada.

Já em Manaus (AM), o dia terminou com a morte da onça-pintada de nove anos, Juma. O animal, mascote do 1º Batalhão de Infantaria da Selva, participou das solenidades acorrentada. Porém, ao fim do evento, tentou escapar e foi morta a tiros. O episódio gerou comoção e um pedido formal de desculpas do COB.

Conhecido por ser uma pessoa “boa de papo”, Marco Aurelio é elogiado por figuras como o atual vice-presidente do COB, Marco La Porta, por ser “sério, competente e importante” nas tarefas que lhe são atribuídas.

Ricardo Leyser, que foi secretário executivo do Ministério do Esporte e chegou a ser ministro, lembra que o general “nunca deu problema” ao órgão, mas ressalva que os pormenores das atividades do Comitê não eram de amplo conhecimento estatal, sendo de conhecimento restrito.

O nome de Marco Aurelio foi recebido com surpresa por parte do setor esportivo da política brasileira, tanto no Ministério do Esporte quanto na Câmara dos Deputados.

O general é doutor em Ciências Militares com ênfase em Logística e Gestão e tem experiência na área esportiva, além de conhecimento técnico.

As preocupações que rondam sua nomeação se dão por seu perfil militar de alguém que obedecerá a hierarquia do Executivo, sem se impor para emplacar possíveis pautas ou evitar futuros cortes na área.

Marco Aurelio é considerado alguém escolhido pela sua capacidade de “botar ordem na casa”, com poder de diálogo, porém não tanto uma liderança a se impor em dados momentos.

Após o anúncio de Osmar Terra como futuro ministro da Cidadania, o general Marco Aurelio já começou a participar de encontros com o atual ministro do Esporte, Leandro Cruz, envolvendo outras pessoas para iniciar o processo de transição da pasta para o futuro governo, que até então não havia começado.

Atual presidente da Comissão de Esportes (CESPO) da Câmara dos Deputados, Alexandre Valle (PR-RJ) relatou um encontro com Marco Aurelio, com o intuito de iniciar um diálogo com a futura secretaria e apresentar o trabalho da comissão e o panorama dela atualmente.

Por sua atuação prévia no setor e envolvimento com o esporte, o general passou boa impressão. “Acho que o esporte do Brasil ganha com isso, o presidente eleito Jair Bolsonaro tem feito escolhas de pessoas técnicas dentro da sua área e do seu perfil”, declarou.

Fora do esporte, Marco Aurelio tem uma extensa carreira dentro do Exército Brasileiro. Cursou, além de Educação Física e a Aman, também o Centro de Instrução Paraquedista, mesmo de Bolsonaro, sendo mestre em salto e em ciências militares.

Seu currículo é majoritariamente voltado para as áreas de ciências, operações e logística. É também mestre em operações militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais.

Foi um dos braços direitos do general Heleno quando este chefiava a operação militar brasileira no Haiti, funcionando como interface brasileira de apoio.

Em 2006, quando Marco Aurelio atuava na Brigada de Operações Especiais do Exército, foi cotado para assumir as forças de paz das Nações Unidas em solo haitiano, após o então comandante, o general Urano Bacellar, ser encontrado morto.

Dentro do Exército, já ocupou quatro cargos de destaque além do comando das Operações Especiais: comandou a Brigada de Infantaria Parquedista, chefiou o Gabinete do Estado-Maior, comandou a 12ª região militar e dirigiu a Educação Superior do Exército, cargo que deixou para assumir seu posto na Rio 2016.

Também foi adido militar em Madri, de 2000 a 2002.

Em 2010, quando diretor de Educação Superior Militar, teria se envolvido em um escândalo de licitação fraudulenta divulgado pelo jornal El Pais em agosto deste ano, com documentos obtidos pela plataforma BrasilLeaks e denúncia feita pelo coronel de reserva Rubens Pierrotti. Tanto Marco Aurelio quanto Mourão estariam envolvidos no caso.

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