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Quatro brasileiros disputam as 6 Horas de Silverstone, a abertura do Mundial de Endurance

quatro brasileiros disputam as 6 horas de Silverstone

Brasil terá pilotos no exterior, este ano, não apenas nas corridas disputadas com monopostos, carros com as rodas descobertas, interessados essencialmente em chegar a F1, mas também em uma competição de elevado nível profissional e tecnológico que nos anos 60 e 70 rivalizava com a F1 em termos de interesse do público: o Campeonato Mundial de Endurance (WEC), na época chamado de Esporte-Protótipos. A estrela da temporada é a mais tradicional prova com esse tipo de veículo do mundo, a mítica 24 Horas de Le Mans.
No fim de semana, Bruno Senna, 33 anos, Nelsinho Piquet, 31, Luis Felipe Derani, 23, e Daniel Serra, 33, vão largar nas 6 Horas de Silverstone, Inglaterra, etapa de abertura do WEC. A competição é divida em classes. A mais importante é a LMP1, onde correm as equipes de fábrica da Porsche, com o notável modelo 919 Hybrid, e a Toyota, com o também avançado TS050, híbrido. Eles desenvolvem 900 cavalos de potência e são ultratecnológicos.

Como o próprio nome do campeonato diz, Endurance, ou resistência, as nove etapas são sempre longas. Oito têm seis horas de duração e uma, 24, a de Le Mans. Os times correm com dois ou três pilotos e no caso de Le Mans ainda mais.
Com performance um pouco abaixo da LMP1 está a LMP2, onde todos os chassis são Oreca equipados com motor Gibson, um V-8 aspirado de 4,2 litros com resposta de 600 cavalos de potência e um ruído que lembra o da F1 antes da era híbrida, iniciada em 2014. Nos treinos de Monza, sábado e domingo, com as mudanças introduzidas este ano, a LMP2 ficou a cinco segundos, apenas, da LMP1. É na LMP2 que competem Bruno Senna e Nelsinho Piquet. A partir da segunda etapa, as 6 Horas de Spa-Francorchamps, na Bélgica, André Negrão também passa a disputá-la. Para se ter uma ideia mais precisa do desempenho desses carros, em Monza, o mais rápido dos dois dias na LMP1 foi o francês Nicolas Lapierre, com Toyota TS050, tempo de 1min30s547.
Na LMP2, o Oreca-Gibson do grupo liberado pelo ex-piloto de F1, o francês Emmanuel Collard, TDS Racing, estabeleceu a melhor marca, 1min36s078, ou 5s531 mais lento que Lapierre. Na F1, em 2016, a pole position do GP da Itália, no mesmo circuito de 5.793 metros, ficou com Lewis Hamilton, Mercedes, 1min21s135.
Tanto a Toyota quanto a Porsche não se preocuparam em tirar toda velocidade do carro em uma volta lançada, em Monza, por ser um dado pouco relevante para o tipo de competição que disputam. Mesmo assim, a diferença de Lapierre para Hamilton foi de 9s412, relativamente pequena.
O GloboEsporte.com esteve em Monza, no fim de semana, acompanhando o Prólogo do WEC, teste final antes da primeira prova do ano, e conversou com Bruno e Negrão.
Bruno vai para a segunda temporada. Foi contratado pela Vaillante Rebellion, para correr ao lado do francês Julien Canal e do mexicano Ricardo Gonzalez. Às vezes as formações dos pilotos são modificadas. Em 2016, na equipe Marand Racing, com um chassi Ligier JSP2 e motor Nissan, Bruno foi vice-campeão, competindo junto de Gonzalez e do português Filipe Albuquerque.

Supercarros

“Tenho grande prazer em pilotar esses carros. Eles geram muita pressão aerodinâmica e são bem rápidos”, disse Bruno. Em Monza eles atingiam velocidades superiores aos 300 km/h. “Este ano será diferente porque todos vão correr com o mesmo chassi e motor, o que aumenta a possibilidade de termos ainda mais vencedores nas corridas.” Em 2016 o trio de Bruno ganhou as etapas de Silverstone e do México.

André Negrão estreia no WEC. Em 2016, disputou a F Indy Lights, pela Schmidt Peterson, e foi sétimo, com cinco pódios. Assinou contrato com o time campeão da LMP2 no ano passado, a Signatech Alpine, com Lapierre, agora na LMP1, o monegasco Stephane Richelmi e o norte-americano Gustavo Menezez. Nesta temporada Negrão terá como

companheiros os franceses Nelson Panciatici, e Pierre Ragues.
“Gostei do carro, da equipe e do ambiente. Estamos tendo um bom treino aqui em Monza”, falou Negrão. Seu objetivo maior era ser piloto de F1. “Mas tive de mudar de planos porque os custos para você chegar na F1 se tornaram impensáveis. Fui para a América do Norte, mostrei na F Indy Lights poder me transferir para a F Indy, mas os valores que os times querem não há como atender”, explica o piloto.
“A outra opção profissional bastante válida é o WEC. Você pode aqui ser contratado por uma equipe de fábrica e ter uma longa e bem sucedida carreira, nesse momento o meu plano.”
De série, mas muito esportivos
Outra divisão do WEC é a categoria GTE, destinada a modelos de série, pequena produção, entenda-se, e de alto desempenho. A GTE tem, como a LMP1, o envolvimento oficial de montadoras. Há ainda uma subdivisão, a GTE Pro, onde correm pilotos profissionais, e a GTE Am, destinada a amadores.
A Ferrari compete na GT com o modelo 488 GTE, a Ford vai com o clássico GT, a Porsche tem o conhecido 911 e a Aston Martin, o Vantage.
Luis Felipe Derani é piloto do time oficial da Ford na GTE Pro. Pilotará o lendário modelo GT, vencedor de Le Mans de 1966 a 1969. Compartilhará o carro da Ford com os britânicos Andy Priaulx e Harry Tincknell. “Treinei na semana passada na pista de Aragon, na Espanha. A Ford fez outro grande carro. Ficou de fora das 24 Horas Le Mans, voltou o ano passado e venceu de novo (na categoria). Concentramos o interesse, agora, nas 24 Horas”, disse Derani, “mas queremos ganhar o campeonato da WEC também”.
Ele corre só as três primeiras etapas por também disputar a versão norte-americana do WEC, o IMSA.
Apesar de não ter realizado o treino final em Monza, Daniel Serra vai competir pelo time da Aston Martin. Ele foi vice-campeão brasileiro de Endurance no ano passado, além de terminar em quarto a Stock Car.

Estrela da companhia

A 24 Horas de Le Mans será a terceira corrida do calendário, dias 17 e 18 de junho, no velocíssimo traçado de 13.629 metros, usado pela primeira vez em 2007. Utiliza parte de um circuito permanente e parte das estradas locais da cidade situada a 208 quilômetros a sudoeste de Paris. Os pontos para o campeonato são contados em dobro.
A prova é realizada desde 1923, quando a pista tinha 17.262 metros de extensão. Ao lado das 500 Milhas de Indianápolis da F Indy e do GP de Mônaco da F1 formam a tríplice coroa do automobilismo mundial.
Como Bruno e Negrão, Derani viajou para a Europa no início da carreira para chegar na F1. Porque está cada vez mais difícil até mesmo se aproximar da F1, diante dos custos da GP3 e F2, os pilotos acabam enverando por outros caminhos. “O WEC é um campeonato com o envolvimento direto das fábricas. Há mais fábricas hoje que na F1, apesar da saída da Audi no ano passado”, comenta Derani. De fato, investem no WEC a Porsche, Toyota, Ferrari, Ford, Porsche e Aston Martin. Na F1, com escuderia própria, Mercedes, Ferrari e Renault.

Na LMP2 há nove carros de seis equipes. A competição tem características próprias, como explica Bruno. “Há um piloto profissional e dois considerados amadores, mas são, claro, pilotos bem experientes.” Eles são classificados como “silver”. O piloto da Rebellion dá mais detalhes: “A importância dos silver nos resultados é enorme, definem o sucesso do time nas corridas”.
A homogeneidade do seu trio, em 2016, o levou a disputar o título. Acabou em segundo. “Nos treinos (em Monza) vimos que nosso grupo, este ano, está da mesma forma equilibrado, Ricardo é um dos melhores silvers.” Em 2013 ganhou as 24 Horas de Le Mans na LMP2. Bruno sonha com o feito: “É uma lenda. Já passei perto e este ano vou estar na briga.”
Para Negrão, disputar corridas longas representa um aprendizado. “É tudo diferente do que fiz até hoje no automobilismo, sempre de fórmula e em provas de uma hora, algo assim. Mas estou gostando da experiência. Achei que iria estranhar ao pilotar num cockpit fechado, com visão limitada em relação aos carros tipo fórmula, mas, a não ser no começo, depois fui me acostumando.”
Como Bruno e Derani, Negrão enxerga o WEC como uma importante opção profissional. “Você mostra trabalho e pode ser contratado por uma equipe e correr muitos anos aqui, sempre em alto nível.”
Os três terão a companhia de um grande piloto brasileiro, bastante conceituado na Europa, Lucas Di Grassi, vice-campeão do mundo, em 2016, no WEC, com a Audi, dentre outras conquistas. A montadora alemã do grupo Volkswagen deixou o WEC e a Ferrari contratou Di Grassi para correr com seu modelo 488 GTE nas 24 Horas de Le Mans. Seu retrospecto no evento é dos melhores. Foram três pódios nas últimas quatro edições, na LMP1, com a Audi: 3º em 2013, 2º em 2014, 4º em 2015 e 3º no no passado. Agora Di Grassi vai competir na GTE-Pro.
Não é só Fernando Alonso, bicampeão do mundo na F1, que tem interesse nas 24 Horas de Le Mans. Rubens Barrichelo estreia na prova este ano. Disputará a classe LMP2, pela equipe Nederland.

História riquíssima

O WEC é a continuação do Mundial de Esporte Protótipos criado em 1953 e disputado até 1992. Os pilotos de F1 costumavam competir regularmente. Foi recriado em 2012 pela FIA e cresceu muito.
A competição lançou modelos que são a própria história dos carros de corrida mais fantásticos já produzidos, todos vencedores das 24 Horas de Le Mans, como o Jaguar D Type, de 1956, a Ferrari 250 LM, de 1965, o Ford GT 40 MKII, de 1966, o Porsche 917K, de 1969, a Matra Sinca MS670, de 1972, o Porsche 936, de 1976, o Porsche 956, de 1982, o Audi R8, de 2000, o Audi R18, de 2011, e o Porsche 919 Hybrid de 2015. Dentre outros.
Os treinos livres das 6 Horas de Silverstone começam sexta-feira às 8h15. A classificação, sábado, é disputada separadamente. Às 7h50 vão para a pista inglesa de 5.891 metros os carros da GTE, Pro e Am. E às 08h20, os da LMP1 e LMP2. A definição do grid tem apenas 20 minutos. A largada, domingo, será às 8 horas, com os carros em movimento. A bandeirada está prevista para as 14 horas. Horários de Brasília.

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