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Avaliações sobre cotistas têm cunho político

O secretário estadual de Promoção da Igualdade Racial, Elias Sampaio, associa o ressurgimento de discussões sobre a adoção do sistema de cotas nas universidades a interesses das “elites” e considera “um enorme retrocesso” voltar a debater o assunto.

“Qualquer tipo de avaliação qualitativa sobre o tema requer que as pessoas se debrucem sobre os votos que foram dados por unanimidade no Supremo Tribunal Federal”, disse, em entrevista ao Bahia Notícias.

Segundo ele, “é muita coincidência” que notícias sobre baixo rendimento de cotistas sejam divulgadas “uma semana depois de uma revista semanal dar capa dizendo que as cotas deram certo”.

O secretário se refere à edição da revista Isto É, publicada no último dia 5 de abril, que traz na capa a reportagem intitulada “As cotas raciais deram certo”, com um balanço dos dez anos da política de inclusão de negros no ensino superior.

Matéria publicada no último dia 28 pela Folha de S. Paulo informa que “universitários que ingressaram em instituições públicas federais por meio de ação afirmativa tiraram, em média, nota 9,3% menor que a dos demais na prova de conhecimentos específicos do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), que avalia cursos superiores no país”.

De acordo com o jornal, “os dados fazem parte de estudo recente” que analisou “o desempenho de 167.704 alunos que estavam concluindo a graduação”.

O titular da Sepromi argumenta que “as desigualdades não acabam quando as pessoas entram nas universidades” e pondera que muitos estudantes cotistas enfrentam dificuldades para se manter na sala de aula, entre outros motivos porque “são alunos estudam e trabalham e vêm de famílias pobres”.

Segundo ele, o sistema de cotas “é novo e é incompleto” e precisa ser pensado numa perspectiva ampla que inclui o suporte para “permanência, manutenção e pós-permanência dessas pessoas nas universidades porque não é só entrar; é preciso dar condições para o bom desempenho”.

Na avaliação de Elias Sampaio, há uma incoerência no raciocínio dos que criticam o sistema de cotas e o contrapõem à meritocracia.

“As pessoas confundem mérito com privilégio”, afirma, ao questionar: “como alguém pode dizer que teve mérito em passar no vestibular se sempre teve condições para estudar nas melhores escolas, se alimentar bem, por que deixou para trás outra pessoa que não teve a menor condição e estaria disputando uma vaga em supostas condições de igualdade?”.

O secretário sustenta que “o sistema de cotas colocou em xeque as elites que se aproveitavam das estruturas públicas” e considera que o “grande desafio” do Estado brasileiro é “mitigar os séculos a fio de estrutura racista da sociedade, que impediu o acesso dessas pessoas ao ensino universitário”, diz, e conclui: “temos 10 anos de ações afirmativas e os países desenvolvidos têm 50”.

Fonte: Bárbara Souza

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