Já passam das 4:00 e não consigo dormir. Estou no plantão num pronto atendimento.
Os plantonistas não param. O ritmo é frenético. Qualquer paciente com queixa respiratória demanda um grande esforço.
A entrada é diferente, as pessoas se equipam e tome capa, máscara, pijama, bota, luvas sobrepostas. Sendo ou não positivo. É suspeito.
O substantivo é próprio, como nos filmes. É o bandido que traz a morte para um duelo ficcional. Capas e espadas. Jatos mortais esterilizantes. O medo é terror por todos os lados. O oximetro é o juiz.
Vai para a solitária ou não??
Os sentimentos povoam as caras escondidas por traz das máscaras. Uma prisioneira foge do isolamento pois não aguenta mais o silêncio ensurdecedor.
Os médicos a repreende enfaticamente:” quer matar a todos?”.
Ela resignada me olha com olhos que já morreram um pouco só da espera do seu teste rápido. Volta resignada e envergonhada para o seu cubículo.
Os médicos que a repreenderam choram escondidos no misto de pena e pânico.
Enterprise. Sala de comando. Luzes piscam. Respiradores soam como sonares da vida. São a trilha sonora da ambiguidade tecnológica que busca a vida mas prenuncia a morte.
O comandante sereno busca soluções para o excesso de passageiros. Sem cápsulas de sobrevivência disponíveis na cidade. Todas lotadas. Um paciente jovem luta pela vida. Parece loucura mas a tristeza da morte de uma passageira idosa com 83 anos é a esperança de vida para o rapaz.
Triste ou alegre?
Não consigo separar, compartimentalizar nada mais. O comandante consegue a vaga mas para desespero a única ambulância do samu não está preparada para o transporte.
Mas são 6 meses de pandemia 2 de isolamento e não temos ainda transporte adequado nem suficiente?
Depois de 2h de briga conseguimos a transferência. Mas só essa. Base em terra cheia. Nova base inaugurando. Nossa nave a estrela da morte?
Não SS Enterprise.
Ou será SOS Fsa?
É, eu continuo sem sono.
Seria bom ter sido apenas um sonho de ficção!
Dr. Kleber San Galo Curvelo