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Brasil perde para EUA nas vendas de suco à Coreia

A Coreia do Sul já é o segundo maior comprador do suco americano, depois do Canadá. Há três anos, ela ocupava a oitava posição.

 

E este rápido crescimento deve acelerar ainda mais depois da resolução, em abril, de uma disputa comercial entre a Coreia e os EUA – uma boa notícia para os produtores americanos, que enfrentam um declínio no consumo doméstico. As vendas internas recuaram 34% em volume nos últimos dez anos, à medida que os americanos migram para sucos mais exóticos, isotônicos esportivos e águas aromatizadas.

 

Os preços estão subindo principalmente com a queda da produção de laranja na Flórida, devido ao “greening”, doença causada por uma bactéria que prejudica o crescimento da fruta. Nesta safra, o “greening” deve reduzir a produção de laranja do Estado americano a seu menor nível em 24 anos.

 

O contrato futuro mais negociado de suco de laranja na ICE Futures, a bolsa de futuros americana que é referência para o mercado, subiu quase 18% este ano, para US$ 1,6355 a libra (0,45 quilo) na sexta-feira. Alguns analistas dizem que ele pode chegar a US$ 2 a libra pela primeira vez em mais de dois anos.

 

Como consequência, os preços do suco devem se manter eleva¬dos no varejo americano, apesar da fraca demanda. A média de preços para as quatro semanas encerradas em 10 de maio foi de US$ 1,67 por litro, de acordo com a Nielsen, uma alta de 2,4% em relação a um ano atrás e de 42% ante dez anos atrás.

 

A exportação para a Coreia do Sul é “uma oportunidade que os processadores da Flórida têm de vender o suco com um prʬmio”, diz Andrew Taylor, vice-presidente sênior de finanças da Peace River Citrus Products Inc., uma processadora da Flórida.

 

A maior parte do suco produzi¬do nos EUA é consumida interna¬mente. A Coreia do Sul importa principalmente suco concen¬trado congelado, que é mistura¬do com água em marcas como Minute Maid, da Coca-Cola.

 

Os sul-coreanos não estão bebendo mais suco de laranja – apenas estão comprando mais dos EUA. O Brasil era o principal fornecedor de suco para o país asiático graças ao seu menor custo de produção. A vantagem desapareceu em 2012, quando EUA e Coreia do Sul assinaram um acordo eliminando as tarifas de importação para muitos pro¬dutos, incluindo a de 54% sobre o suco de laranja americano.

 

No início de 2013, porém, o governo sul-coreano passou a suspeitar que o suco exportado pelos EUA pudesse conter tam¬bém frutas originárias do Brasil, ainda sujeita a tarifas. Em março, uma delegação de autoridades alfandegárias da Coreia do Sul viajou até a Flórida para discutir o assunto durante uma visita a quatro processadoras de suco.

 

O grupo buscava evidências que laranjas brasileiras eram usadas na fabricação do suco exportado para a Coreia do Sul. O Ministério do Comércio corea¬no havia alertado que, se laranjas brasileiras fossem encontradas, os milhões de litros importados dos EUA seriam taxados retro¬ativamente. Pouco depois de um mês, o governo sul-coreano notificou os fabricantes de suco dos EUA que não havia achado irregularidades.

 

As exportações aceleraram no início de 2014 já que as processadoras previam que Coreia do Sul desistiria da disputa, diz Michael Sparks, diretor-presidente da Florida Citrus Mutual, um grupo de produtores. Ele estima que as exportações ao país continuarão crescendo em 2015.

 

As exportações totais de suco de laranja americano recuaram 1% nos primeiros trimestre ante o mesmo período de 2013, segundo o Departamento de Citros da Flórida. Com o “greening” afetando mais árvores, não será fácil atender a demanda, o que significa preços mais altos para consumi¬dores americanos e sul-coreanos, dizem investidores.

 

Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR, entidade que reúne exportadores de suco de laranja do Brasil, diz que dificilmente os EUA conseguirão atender a demanda da Coreia do Sul no longo prazo. Para ele, a queda na produção devido ao “greening” e os custos de supervisionar a produção do suco sem a presença da laranja brasileira já estão elevando os preços a um nível que anula a vantagem fiscal dos EUA. Ele ressalta que, mesmo para os EUA, a conta não vai fechar. “Os EUA não são autossuficientes em suco de laranja. Por que importariam suco caro e exportariam barato para a Coreia?”

 

A alta das exportações dos EUA para a Coreia do Sul não afetam as exportações de suco do Brasil, diz Andres Padilla, analista de bebidas do Rabobank. “O crescimento das vendas dos EUA para a Coreia é um caso isolado e o Brasil mantém suas exportações para o resto da Ásia”, diz. As vendas para o Japão avançaram 40% entre 2012 e 2013 e as para a China se mantiveram praticamente estáveis. Padilla diz que o Brasil segue como principal exportador global, responsável por 80% das vendas mundiais, com a União Europeia sendo o destino de 70% das vendas. Em 2013, o Brasil exportou 6,875 bilhões de litros de suco de laranja, 11% a mais que em 2012. O volume é menor, contudo, que o pico de quase 8 bilhões de litros exportados em 2007. “Não estamos perdendo mercado para os EUA, mas para outras bebidas, como suco de maçã, chás e águas aromatizadas, que ganharam espaço na mesa do café da manhã”, diz Netto.

Fonte: Canal do produtor/ Foto: web

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