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Confusões e brigas cacifam nova onda de candidaturas bolsonaristas

Maurício Souza e Nise Yamaguchi são alguns exemplos de pré-candidatos que se cacifaram após controvérsias

A eleição de outubro contará com novos rostos bolsonaristas nas urnas, muitos deles que ganharam notoriedade após protagonizarem polêmicas que respingaram no presidente Jair Bolsonaro.

Nomes marcados por controvérsias envolvendo desde a defesa da cloroquina até acusações de homofobia conquistaram sustentação junto à base de apoio do presidente e se cacifaram para disputar vagas no Legislativo por partidos como PTB, PL e PROS.

Especialistas avaliam que a internet, a fidelidade a Bolsonaro e a narrativa antissistema foram fatores decisivos para esse fenômeno.

Para compor a “bancada da treta” estão cotados nomes como o de Fabrício Queiroz (PTB-RJ), pré-candidato a deputado estadual e que esteve no centro do escândalo das “rachadinhas”, e Tércio Arnaud Tomaz (PL-PB), que chegou a ser apontado como líder do “gabinete do ódio”, núcleo instalado no Palácio do Planalto que se dedicava a atacar adversários nas redes sociais.

Assessor especial da Presidência, Tércio vai concorrer como suplente do candidato ao Senado Bruno Roberto (PL), pela Paraíba, e já ganhou inclusive um vídeo de apoio do próprio Bolsonaro.

Nise Yamaguchi (PROS), médica que foi intimada a depor na CPI da Covid por defender o chamado “tratamento precoce” com cloroquina, comprovadamente ineficaz para casos da doença, já anunciou sua intenção de disputar o Senado por São Paulo.

Já a advogada Paola Daniel (PTB-RJ), mulher do deputado federal Daniel Silveira, despontou como pré-candidata a deputada federal após o marido ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ataques à democracia.

Embora Bolsonaro tenha concedido um indulto a Silveira, há questionamentos jurídicos sobre sua elegibilidade.

Segundo o professor do Departamento de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia, nos EUA, David Nemer, uma característica que une os novos candidatos é a fidelidade a Bolsonaro e à agenda conservadora.

Ele explica que as polêmicas e a ideia de “nós contra eles” alimentadas por esses candidatos acaba atraindo holofotes para eles.

“Esses personagens precisam dessas polêmicas para manterem a atenção da base fiel bolsonarista e poderem capitalizar.

Toda opinião polêmica nas redes sociais vai ter um tipo de engajamento muito maior e é nessa atenção que eles ganham, seja para depois pleitear um cargo. Independente do que a opinião ou os críticos vão falar, o que importa é o que a base vai pensar” explicou Nemer.

Outros nomes que fortaleceram suas candidaturas respaldados por polêmicas são o ex-jogador de vôlei Maurício Souza (PL), acusado de homofobia após posts na internet; a atriz e apresentadora Antônia Fontenelle (Republicanos), que entrou numa disputa judicial com Felipe Neto por associar o youtuber à pedofilia; e Thiago Gagliasso (PL), que se afastou do irmão, o ator Bruno Gagliasso, e expôs uma discussão com a cunhada, a atriz Giovanna Ewbank, por desavenças políticas.

Popularidade não é voto
Para o analista político e professor da FGV, Sérgio Praça, a popularidade desses personagens não indica necessariamente uma boa votação.

Para ele, como o eleitor deixa para decidir o voto para o Legislativo próximo ao dia da eleição, artifícios como a divulgação da candidatura por grupos de WhatsApp acabam sendo mais eficazes para uma boa votação do que apenas a visibilidade gerada pelas polêmicas.

“Enxergo que alguns têm chances reais de se eleger, mas a maioria está superestimando a popularidade que ganharam com as polêmicas.

Eleição é muito mais difícil do que candidatos amadores pensam. De qualquer forma, eles não perdem nada tentando a candidatura, muitos já sofreram danos reputacionais, então uma derrota nas urnas não geraria um prejuízo maior” avalia Praça.

A pesquisadora Michele Prado, autora do livro “Tempestade Ideológica —Bolsonarismo: A Alt-right e o populismo i-liberal no Brasil”, destaca também o papel da oposição ao bolsonarismo na criação e popularização desses personagens.

“A oposição não compreendeu que não se deve oxigenar esses agentes extremistas. O que eles querem é exatamente isso, tanto que usam muito o artifício do “trolling”, que é você ser deliberadamente ofensivo para captar a atenção e conseguir viralizar e pautar o debate público” diz.

Um ponto de consenso entre os pesquisadores é a importância da internet para a popularização dos novos nomes bolsonaristas.

Para o historiador, escritor e professor de literatura comparada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), João Cezar de Castro Rocha, o ruído causado pelas polêmicas acaba chamando mais atenção do que propriamente suas ações.

Este fenômeno, chamado de “economia da atenção”, impactou também o debate político e eleitoral, de acordo com o pesquisador.

“Como a oferta no universo digital é muito maior do que qualquer pessoa pode assimilar, a comunicação para ser audível precisa ter uma linguagem violenta, uma ação chocante, um gesto que chame a atenção.

Em uma sociedade dominada pela economia da atenção, que define hoje as redes sociais, essas pessoas se tornam importantes não pelo que fizeram, mas pela atenção que conquistaram” explica.

RCL

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