Tempo - Tutiempo.net

Diretor da Odebrecht diz que pagou propina a Geddel e sabia que o dinheiro ia para Temer.

Temer e o grande amigo Geddel

A descoberta do bunker com as malas de dinheiro de Geddel Vieira Lima remete ao depoimento que o ex-diretor da Odebrecht Cláudio Melo Filho prestou à força tarefa da Lava Jato em Brasília, no fim do ano passado.

Melo Filho, responsável pelo relacionamento com políticos em Brasília, dedicou parte de seu depoimento a falar sobre Geddel Vieira Lima.

Ele disse que Geddel era intermediário de Michel Temer, e não era o único. Aliás, nem o mais expressivo.

A leitura das 82 páginas da deleção de Cláudio Melo Filho permite enxergar uma pessoa com a consciência de que, agindo em conluio com políticos experientes para defender a Odebrecht, prejudicava o Brasil.

“O propósito da empresa, assim, era manter uma relação frequente de concessões financeiras e pedidos de apoio com esses políticos, em típica situação de privatização indevida de agentes políticos em favor de interesses empresariais nem sempre republicanos”, afirma.

No depoimento, ele lembrou que, ao assumir a diretoria da empresa, como responsável pela área de contato com os políticos em Brasília, o primeiro passo foi encontrar pessoas que fizessem a máquina funcionar mais rápido em favor da Odebrecht.

Seu objetivo era liberar créditos, vencer concorrência, fazer novos negócios e modificar medidas provisórias e projetos de lei.

Encontrou na figura de Michel Temer o homem-chave na Câmara dos Deputados. Na delação de Cláudio Melo, tem-se uma imagem nítida de como o mundo se move na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios.

Para fazer Michel se mexer, ele recorria a Eliseu Padilha, Moreira Franco e, em menor grau, a Geddel Vieira Lima.

Todos do PMDB, todos governistas desde sempre, seja com Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique, Lula e Dilma.

Cláudio Melo Filho conta que sabia que os pagamentos milionários da Odebrecht desembocavam em Michel Temer. Parte era em doações oficiais, parte via caixa 2, mas fundamentalmente todos os pagamentos eram vinculados a contrapartida do governo ou de favores legislativos. Ou seja, era dinheiro de propina.

Trecho do depoimento de Cláudio Melo Filho; no destaque, como agem Michel Temer e seus homens de confiança.

“Tratei poucas vezes diretamente com Michel Temer, a quem fui apresentado por Geddel Vieira Lima, em agosto de 2005, em um jantar na casa de meu pai”, afirmou.

“Estive com Michel Temer em um jantar no Jaburu, oportunidade em que ele solicitou pagamento ao PMDB.

Esses pagamentos, no valor de de R$ 4 milhões, foram realizados via Eliseu Padilha, preposto de Temer, sendo que um dos endereços de entrega foi o escritório de advocacia do Sr. José Yunes, hoje Assessor Especial da Presidência da República”, acrescentou.

Yunes confirmou que recebeu esse pagamento, em dinheiro vivo, mas diz que foi apenas “mula” de Eliseu Padilha – “mula” é uma expressão usada no tráfico de drogas para designar a pessoa que apenas transporta a mercadoria ilícita.

Com Geddel, não encontrou uma mula. Além de um facilitador para os negócios da Odebrecht, descobriu um amigo. Eram vizinhos de condomínio no litoral baiano, andavam juntos pela praia e Geddel se sentiu à vontade para reclamar:

“Apesar dos pagamentos frequentes, Geddel sempre me disse que poderíamos ser mais generosos com ele.

Ele insistentemente alegava que nunca efetivamente demos a ele o que ele acreditava representar.

Geddel sempre me dizia que se considerava um “amigo da empresa” e que isso precisava ser mais bem refletido financeiramente.

Ele se comparava com outros políticos adversários do Estado, como Jacques Wagner e Paulo Souto, e reclamava por achar que estes recebiam pagamentos mais elevados do que ele”, explicou, na delação.

O problema é que ele via Geddel como um político de importância restrita a Bahia, mas com potencial de crescimento, pois já tinha dado provas de seu empenho, ao liberar recursos do Ministério da Integração Regional para a Odebrecht.

Ao contrário de Geddel, Temer nunca reclamou, segundo Cláudio Melo Filho.

Mas a Odebrecht nunca deixou de atendê-lo, seja por intermédio de seus “prepostos” ou nas poucas vezes em que ele fez o pedido diretamente.

Tanto em uma situação como em outra, a Odebrecht também nunca deixou de receber a contrapartida da parte de Michel Temer: em última análise, dinheiro e favores públicos.

Joaquim de Carvalho

OUTRAS NOTÍCIAS