A concessão do título de cidadão andreense ao deputado federal e pré-candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSC), pelo vereador Sargento Lobo, do Solidariedade, criou uma onda de críticas e protestos na cidade de Santo André e região do ABC.
Uma das mais atuantes intelectuais do município, a livreira e poeta Dalila Teles Veras, promete devolver o título de cidadã honorária andreense se a Câmara aprovar o projeto de lei que concede a mesma honraria a Bolsonaro.
Em seu Facebook, Dalila destaca que a homenagem a Bolsonaro, que nunca contribuiu com Santo André, é um ato explícito de campanha eleitoral e que merece repúdio.
“Solenemente, devolverei o título de cidadã honorária andreense, caso a Câmara Municipal de Santo André aprove o projeto de lei de um vereador que não merece ter seu nome aqui citado, propondo título de cidadão honorário andreense àquele outro deputado que pretende ser candidato a presidente da república e que me recuso também a dizer seu nome.
Foi com muita honra que recebi, em 2002, esse título, não só porque já me sentia cidadã andreense, pelo fato de ter escolhido esta cidade para morar e também por, desde sempre, ter defendido os direitos de outros cidadãos ao ter me engajado em tantas lutas.
]Homenagear oficialmente um político que jamais contribuiu em nenhum aspecto com esta cidade é um ato explícito de campanha eleitoral e merece meu mais veemente repúdio”, escreveu Dalila.
A poeta é proprietária de uma livraria, a Alpharrabio, ponto de encontro de intelectuais. Também é editora e educadora. Dalila nasceu no Funchal, Ilha da Madeira, em 1946. Reside no Brasil desde 1957.
É animadora cultural, organizadora de cursos, seminários e congressos. Participou como convidada da Unesco do Colóquio Imprensa de Língua Portuguesa no Mundo, realizado em 1991, em Paris, com a comunicação “A Imprensa Alternativa no Brasil como resistência cultural”.
Adotou a cidade de Santo André para viver e diz que já se sente uma andreense nata. Mas que não pode aceitar uma homenagem do povo de Santo André a um homem que não defende os direitos humanos. A poetisa destaca o objetivo eleitoreiro de conceder o título ao pré-candidato.
O autor do decreto legislativo, vereador Sargento Lobo, hoje no Solidariedade, deverá se transferir para o PEN, legenda que também deverá receber a inscrição de Bolsonaro. O PEN mudará de nome para Patriota antes do início da corrida presidencial em 2018.
O vereador informa que ainda não sabe quando poderá ser realizada a sessão que vai conceder a honraria a Bolsonaro. Lobo aguarda a disponibilidade da agenda do pré-candidato. Mas acredita que poderá ser em março do próximo ano.
Santo André é uma das primeiras cidades criadas do Brasil, com fundação antes mesmo da cidade de São Paulo. Completará 465 anos em 2018.
O município tem grande tradição de militância política ligada a sindicalistas e a movimentos de esquerda. Em 1947, os andreenses elegeram Armando Mazzo, do Partido Comunista Brasileiro. Mazzo era operário e líder sindical. Foi o primeiro prefeito comunista eleito no Brasil, exatamente em Santo André.
Foi também em Santo André o registro de um dos primeiros prefeitos eleitos pelo PT, com Celso Daniel, em 1988.
Hoje há uma grande corrente contrária à concessão da homenagem a Bolsonaro. Um abaixo assinado circula na internet para tentar barrar o ato. O documento pode ser assinado aqui.
“Nós, moradores de Santo André-SP, somos contra o Projeto de Decreto Legislativo nº 10/2017, que propõe a concessão do título de “Cidadão Honorário do Município de Santo André” ao Senhor Jair Messias Bolsonaro”, diz o rol de assinaturas #BolsonaroNão.
O texto destaca que “Bolsonaro é a voz representante da extrema direita brasileira e em todas oportunidades em que lhe é permitido falar, explora e ataca as minorias, entre as quais se enquadram milhares de moradores do município. Jair é homofóbico, misógino e racista por natureza e convicção. Idolatra a extrema direita neonazista e admira os torturadores da ditadura militar, a qual enaltece em todas as oportunidades.”
“Por que dar título de cidadão a quem nunca fez nada pela cidade e não tem vínculo nenhum com Santo André?
Não é admissível utilizar dinheiro público para um ato que tem como pano de fundo motivação eleitoral, gerando palanque e exposição ao proponente e ao homenageado!”