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Não ponha todas as fichas dos vazamentos no “japonês bonzinho”

Suspeito Newton HidenoiI

A Folha anuncia que a Polícia Federal no Paraná instaurou ontem “um inquérito para apurar quem vazou a minuta da delação premiada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró“, que teria ido parar nas mãos do banqueiro André Esteves.

Já há um suspeito, obvio, para o vazamento: o agente Newton Hidenoi Ishii, citado na conversa gravada pelo filho de Cerveró:

BERNARDO: os caras não tinham uma escuta em cima da.. da cela?

DELCÍDIO: Alguém pegou isso aí e deve ter reproduzido. Agora quem fez isso é que a gente não sabe.

EDSON: É o japonês. Se for alguém é o japonês.

DIOGO: É o japonês bonzinho.

DELCÍDIO: O japonês bonzinho?

EDSON: É. Ele vende as informações para as revistas.

BERNARDO: É, é.

E, adiante, citam nominalmente Ishii.

Fácil, não é? Fácil demais, porém.

Primeiro, porque o nome de Newton Ishii circula na internet como o possível vazador de informações pelo menos desde julho deste ano, desde que a Época publicou reportagem sobre ele e seu passado, sem que houvesse qualquer manifestação concreta de que se pudesse considerá-lo suspeito disso o que, claro, levaria a seu afastamento, ao menos informal, da operação.

Uma semana antes, havia sido escalado pela PF para uma palestra a jornalistas sobre os riscos – não se sabe de onde veio isso- de que “snipers” poderiam estar espreitando os homens que Moro mandava prender para executá-los, sabe-se lá, a tiro de fuzil.

Como as operações eram do conhecimento, em tese, apenas da PF, do MP e do Gabinete do Dr. Sérgio Moro, seria interessante saber de onde vem esta suspeita e porque, ao menos para as teleobjetivas dos fotógrafos, os acusados estiveram sempre “na mira”.

Ishii, no entanto, continua chefiando as operações da PF e e participando, como se vê insistentemente nas fotografias, das prisões mais “atraentes” para a mídia.

Segundo, porque Ishii é chefe de Operações da PF e os acordos de delação premiada são negociados com os membros do Ministério Público. Como são, legalmente, sigilosos até que sejam homologados pelo juiz, não se compreende que haja, durante as conversas, agentes policiais presentes. Mesmo que, por absurdo, houvesse policiais federais presentes, estes seriam delegados, não agentes. E Newton Ishii é simples agente e agente que deveria, ao menos, despertar prudência por seus antecedentes.

Porque  Ishii já  foi preso e demitido da Polícia por acusação de contrabando, na Operação Sucuri, realizada lá mesmo no Paraná, em 2003. Demitido pelo Processo Administrativo Disciplinar n. 007/006-NUDIS/COR/SR/DPF/PR, só  muito tempo depois foi reintegrado, por ordem judicial, por irregularidades processuais em sua demissão. A União recorreu e apenas em 2012 esta reintegração foi confirmada pelo STJ.

O “japonês bonzinho”, portanto, seja ou não o vazador que “vende informações para as revistas”, é o suspeito ideal. Visível e com um passado suspeito. E, pela mesma razão, para ser a própria expressão inglesa do red herring, a pista falsa, porque ilude o olfato dos cães farejadores.

Não obstante Delcídio Amaral ser um rato, é preciso saber as circunstâncias em que lhe armaram a ratoeira e se houve nisso “mãos de gato”. Por mais que o desempenho naturalíssimo do autor das gravações, que não denota medo ou mesmo qualquer temor de ser descoberto possa ser explicado por Bernardo ser ator profissional (o que não é razão para desqualificar sua ação)  há muitos anos, há situações que são de enredo de filme de espionagem, como a de atrair a atenção para um chaveiro-gravador desativado preso à sua mochila – e devidamente percebida e guardada num armário – que não excluem a possibilidade de as gravações não terem sido feitas sem a orientação de quem costuma profissionalmente fazê-las.

Fernando Brito

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