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Onde houver um moralista, há um hipócrita. E, não raro, um corrupto

Imprensa PIG

Veja o ilustre passageiro deste blog a reprodução do jornal O Globo de janeiro de 1975, quarenta anos atrás, dizendo que a repressão policial (e, com ela, os achaques) ia acabar com o jogo do bicho.

É de 1975, mas poderia ser de 1965, 1955, 1945, 1935, até de 1895, quando João Batista Vianna, o Barão de Drummond – que com a Proclamação da República perdera as subvenções do amigo D. Pedro II ao seu Jardim Zoológico, no Rio – aproveitou a ideia de um comerciante de flores,  Manoel Ismael Zevada, e lançou a loteria animal, logo posta na clandestinidade.

Hoje, quando vejo a reação hipócrita dos que se opõe à taxação – e consequente legalização – do jogo no Brasil, fico pensando em tudo o que Leonel Brizola passou no Rio de Janeiro para que se pusesse fim àquele que era – hoje não é mais, substituído pela droga – o principal elemento de corrupção das instituições policiais.

O jogo no Brasil é generalizado, a começar pelas loterias estaduais e federais – quem se lembra que foram os severíssimos militares que promoveram a Loteria Esportiva, a pioneira nos jogos de apuração eletrônica no Brasil? – e salvo um ou outro caso de compulsão patológica, não se sabe de casos em que o jogo legalizado produza algum mal social.

Mas o ilegal, ah, este produz dinheiro sujo, propina, crimes de morte, extorsão e, claro, alguns políticos com mandato.

A loteria brinca com os sonhos humanos desde antes do “Ernestina, acertei no milhar, ganhei 500 contos, não vou mais trabalhar”.

A legalização do jogo – que mesmo fortemente tributada importa um nada para o tal ajuste fiscal –  ainda que tenha sido proposta por deputados e senadores muito distantes da condição de santos, acabaria com uma histórica hipocrisia brasileira.

Desde que, claro, não se faça aqueles mecanismos tortuosos de apoio a isso e aquilo em lugar de taxar e controlar.

Há dez anos atrás, uma onda moralista criada pelo caso Waldomiro Diniz, levou ao fechamento dos bingos. De lá para cá, não passa uma semana sem que se feche um deles, clandestino.

Em cada um deles, além das máquinas caça-níquéis, funciona outra: a máquina da corrupção.

Fernando Brito

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